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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

Obedecer dialogando

Quinta-feira, 16 de Abril de 2015

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 17 de 23 de Abril de 2015 

Francisco recordou Bento XVI no dia do seu 88º aniversário. E pelo Papa emérito ofereceu a missa celebrada na manhã de 16 de Abril, convidando os presentes a unir-se a ele na oração «para que o Senhor o sustente e lhe dê muita alegria e felicidade».

Na homilia o Pontífice chamou a atenção para o tema da obediência, realçado pela liturgia, e citou as últimas palavras do trecho evangélico (Jo 3, 31-36): «Quem não obedece ao Filho não verá a vida». E a propósito da primeira leitura (Act 5, 27-33), recordou também o que «os apóstolos dizem aos sumos sacerdotes: é preciso obedecer a Deus, não aos homens»; «muitas vezes a obediência leva-nos por um caminho que não é como nós pensamos que deve ser: há outra obediência, a de Jesus, que no horto das oliveiras diz ao Pai “cumpra-se a tua vontade”». Assim, Jesus «obedece e salva-nos». Então, devemos «obedecer, ter a coragem de mudar de caminho quando o Senhor no-lo pede». E «por isso quem obedece tem a vida eterna; e quem não obedece, recebe a ira de Deus».

«Neste contexto», disse o Papa, «podemos meditar sobre a primeira leitura», sobre «o diálogo entre os apóstolos e os sumos sacerdotes». Uma «história que começou um pouco antes, no mesmo capítulo», que ele resumiu: «Os apóstolos pregavam ao povo junto ao pórtico de Salomão. Faziam milagres e o número de crentes aumentava», mas «um pequeno grupo tinha medo de se unir a eles e permanecia distante». E «dos arredores, dos povoados vizinhos traziam os doentes às praças para que, quando passasse Pedro, pelo menos a sua sombra os cobrisse um pouco e pudessem ser purificados. E eram curados!».

Contudo, «os sacerdotes e o grupo que guia o povo encheram-se de ira»: com efeito, «estavam cheios de inveja, porque o povo seguia e exaltava os apóstolos». Assim, mandaram «aprisioná-los», mas «à noite o anjo de Deus libertou-os; e não é a primeira vez que o fará». Por isso, quando «de manhã os sacerdotes se reuniram para os julgar, não os encontraram na prisão». Depois, descobriram que os apóstolos voltaram ao pórtico de Salomão para pregar ao povo e convocaram-nos de novo.

O trecho dos Actos proposto pela liturgia de hoje narra o que aconteceu naquele momento: «conduziram os apóstolos e apresentaram-nos ao sinédrio». E, lê-se ainda na Escritura: «o sumo sacerdote interrogou-os dizendo: “Pedimos expressamente que não ensinásseis nesse nome. Não obstante, tendes enchido Jerusalém com a vossa doutrina! Quereis fazer recair sobre nós o sangue deste homem!».

A tais acusações, Pedro responde: «É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens». E «repete a história da salvação até Jesus», mas «ao ouvir este querigma de Pedro sobre a redenção feita ao povo por Deus através de Jesus», os membros do sinédrio «encheram-se de ira e queriam matá-los». Em síntese, «eram incapazes de reconhecer a salvação de Deus» embora fossem «doutores», «tivessem estudado a história do povo, as profecias e a lei, conhecessem toda a teologia do povo de Israel, a revelação de Deus».

A pergunta é: «como se explica esta dureza de coração?». Sim, reiterou Francisco, a sua «não é dureza de cabeça, teimosia», mas de coração. Assim, «podemos perguntar: qual é o percurso desta teimosia total de cabeça e coração? Como se chega a este fechamento, que até os apóstolo tinham antes da vinda do Espírito Santo?». No fundo, explicou o Papa, «a história desta teimosia consiste no fechamento, na falta de diálogo». Eram pessoas que «não sabiam dialogar com Deus porque não sabiam rezar nem ouvir a voz do Senhor; e não sabiam conversar com os outros».

Este fechamento ao diálogo levava-os a interpretar «a lei para a aperfeiçoar, mas permaneciam fechados aos sinais de Deus na história, ao povo». E «este fechamento do coração levava-os a não obedecer a Deus».

De resto, «este é o drama dos doutores de Israel, dos teólogos do povo de Deus: não sabiam ouvir nem dialogar», pois, afirmou o Papa, «o diálogo deve ser feito com Deus e com os irmãos». E «a fúria, o desejo de silenciar todos aqueles que pregam a novidade Deus, ou seja que Jesus ressuscitou», é «sinal de quem «não sabe dialogar, não está aberto à voz do Senhor, aos seus prodígios no meio do povo». Portanto, «eles não têm razão, mas chegam» a irar-se e a desejar matar os apóstolos. «É um itinerário doloroso», também porque «foram as mesmas pessoas que pagaram os guardiões do sepulcro para dizer que os discípulos tinham roubado o corpo de Jesus: fazem de tudo para não se abrir à voz de Deus!».

Antes de prosseguir a celebração da Eucaristia — «a vida de Deus que nos fala do alto» — o Papa orou «pelos mestres, pelos doutores e por quantos ensinam ao povo de Deus, para que não se fechem mas dialoguem, salvando-se assim da ira de Deus que, se não mudarem de atitude, cairá sobre eles».

 



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