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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Nunca excluir

Quinta-feira, 5 de Novembro de 2015

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 47 de 19 de Novembro de 2015

É com os gestos que Jesus nos pede que incluamos todos, porque como cristãos «não temos o direito» de excluir os outros, de os julgar, de lhes fechar as portas. Também porque «a atitude da exclusão» está na raiz de todas as guerras, grandes e pequenas, afirmou o Papa Francisco.

«São Paulo — observou o Pontífice citando o trecho litúrgico tirado da carta aos romanos (14, 7-12) — não se cansa de recordar o dom de Deus, o presente que Deus nos deu recriando-nos, regenerando-nos». E «diz esta palavra tão forte: “Nenhum de nós vive para si mesmo, e ninguém morre para si mesmo. Se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o Senhor. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor. Foi para isso que Cristo morreu e ressuscitou, para ser o Senhor tanto dos mortos como dos vivos”». Portanto, reiterou Francisco, «Cristo que une, que faz a unidade, Cristo, que com o seu sacrifício no Calvário incluiu todos os homens na salvação».

«A atitude que Paulo quer frisar é a da inclusão», explicou. Com efeito, o apóstolo «quer que eles sejam inclusivos, que incluam todos como fez o Senhor. E adverte-os: “E tu, não obstante o que o Senhor fez, por que julgas o teu irmão? E tu, por que desprezas o teu irmão?”». Em síntese, o apóstolo «faz-lhes sentir que têm uma atitude que não é a do Senhor». Porque «o Senhor inclui; também Paulo, noutro trecho, dizia: “De dois povos fez um só”». Ao contrário, «eles excluem».

«Quando nós julgamos uma pessoa — prosseguiu Francisco — fazemos exclusão», talvez dizendo: «Com este não, com esta não, com esse não...». Agindo assim, «permanecemos no nosso pequeno grupo, somos selectivos, e isto não é cristão». E dizemos: «Não, este é um pecador, esse fez aquilo...». A questão, insistiu o Papa, é que «nós julgamos os outros». Mas «aconteceu o mesmo com Jesus», como se lê no trecho evangélico de Lucas (15, 1-10) proposto pela liturgia: «Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus todos os publicanos e pecadores — ou seja, os excluídos, todos aqueles que estavam fora — para o ouvir. E os fariseus e escribas murmuravam, dizendo: “Ele acolhe os pecadores e come com eles”».

Inclusive «a atitude dos romanos era de exclusão». Eis por que razão Paulo os «admoesta a não julgarem». Trata-se da «mesma atitude dos escribas e dos fariseus, que dizem: “Nós somos perfeitos, seguimos a lei: eles são pecadores, são publicanos”».

Mas «a atitude de Jesus é de inclusão». Eis que, explicou o Papa, «há dois caminhos possíveis: da exclusão das pessoas da nossa comunidade, e da inclusão». E «o primeiro, embora a nível limitado, é a raiz de todas as guerras: todas as calamidades, todos os conflitos começam com uma exclusão». É assim que «se exclui da comunidade internacional, mas também das famílias: quantas desavenças entre amigos!». Ao contrário, «o caminho que nos faz ver Jesus, que nos ensina Jesus, é totalmente outro, é oposto ao outro: incluir».

No Evangelho «duas parábolas — explicou o Pontífice — levam-nos a entender que não é fácil incluir as pessoas, porque há resistência, há uma atitude selectiva: não é fácil». A primeira fala do «pastor que volta para casa com as ovelhas e dá-se conta que das cem falta uma». Sem dúvida, teria podido dizer: «Encontrá-lá-ei amanhã...». No entanto, «deixa tudo — estava com fome, tinha trabalhado o dia inteiro — e, no final da tarde, talvez na escuridão, sai para a procurar». O mesmo «faz Jesus com aqueles pecadores publicanos: vai comer com eles, para os encontrar». A outra parábola à qual o Papa se referiu é a «da mulher que perde a moeda: é a mesma coisa; acende uma lâmpada, varre a casa e procura atentamente, até que a encontra». E «talvez leve o dia inteiro, mas encontra-a».

«O que acontece em ambos os casos?», interrogou-se nesta altura Francisco. Acontece que o pastor e a mulher «estão cheios de alegria, porque encontraram o que estava perdido. E vão ter com os vizinhos, com os amigos, porque se sentem muito felizes: “Encontrei, incluí!”». Precisamente «este é o incluir de Deus — realçou o Papa — contra a exclusão daquele que julga, que expulsa o povo, as pessoas», dizendo: «Não, este não, esse não, aquele não...» e criando para si «um pequeno círculo de amigos, que é o seu ambiente».

Esta, acrescentou o Pontífice, «é a dialéctica entre exclusão e inclusão: Deus incluiu-nos todos na salvação, todos!». E «este é o início: nós, com as nossas debilidades, com os nossos pecados, invejas e ciúmes, temos sempre esta atitude de exclusão que, como eu disse, pode acabar em guerra».

Jesus age precisamente como o Pai, «quando o enviou para nos salvar: procura-nos para nos incluir, para entrar em comunidade, para ser uma família». E «a alegria de Paulo é a grande salvação que recebeu do Senhor». Assim, frisou o Papa citando as duas parábolas evangélicas, também a alegria do pastor e da mulher consiste precisamente no facto de «terem encontrado o que julgavam» ter «perdido para sempre».

Convidando à reflexão, Francisco sugeriu que nunca julguemos, «pelo menos um pouco», segundo «as nossas possibilidades». Porque «Deus sabe: é a sua vida. Mas não o excluo do meu coração, da minha oração, do meu sorriso e, se tiver uma ocasião, digo-lhe uma boa palavra». Em síntese, «nunca excluamos, não temos o direito» de o fazer. Na carta aos Romanos, Paulo escreve: «Todos teremos que comparecer perante o tribunal de Deus. Assim, pois, cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus». Porque, «se eu excluir, um dia estarei diante do tribunal de Deus e deverei prestar contas de mim mesmo».

O Papa concluiu, pedindo «a graça de sermos homens e mulheres que incluem sempre — sempre! — na medida da sadia prudência, mas sempre». Nunca se pode «fechar as portas a ninguém», ma devemos estar «com o coração sempre aberto». E dizer «gosto, não gosto», mas mantendo «o coração aberto».

 


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