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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

A Igreja não é um supermercado

Sexta-feira, 24 de novembro de 2017

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 49 de 7 de dezembro de 2017

«Igrejas de serviço, igrejas gratuitas, como foi gratuita a salvação, não “igrejas-supermercado”»: o Papa não hesitou em repropor a atualidade do gesto de Jesus de expulsar os mercadores do templo. «Vigilância, serviço e gratuitidade»: eis as três palavras-chave de hoje.

«Ambas as leituras da liturgia de hoje falam do templo, aliás, da purificação do templo». Inspirando-se no primeiro livro dos Macabeus (4, 36-37.52-59) o Papa observou que «depois da derrota das pessoas que Antíoco Epifânio enviara para paganizar o povo, Judas Macabeu e os seus irmãos quiseram purificar o templo onde se faziam sacrifícios pagãos e restabelecer a beleza espiritual do templo, o sagrado do templo». Por isso «o povo sentia-se alegre». Lê-se que «grandíssima foi a alegria do povo, porque se cancelou a vergonha dos pagãos». Portanto, «o povo encontra de novo a sua lei, o seu ser; o templo torna-se outra vez o lugar do encontro com Deus».

«O mesmo faz Jesus quando expulsa aqueles que comerciavam no templo: purifica o templo», afirmou evocando Lucas (19, 45-48). Assim o Senhor torna o templo «como deve ser: puro, só para Deus e para o povo que vai rezar». Mas «como podemos purificar o templo de Deus?». A resposta está em «três palavras que podem ajudar-nos a compreender. Primeira: vigilância; segunda: serviço; terceira: gratuitidade».

«Portanto, vigilância é a primeira palavra: «Não só o templo físico, os edifícios são os templos de Deus: o mais importante templo de Deus é o nosso coração, a nossa alma». A ponto que São Paulo diz: «Sois templo do Espírito Santo». Portanto, «o Espírito Santo habita em nós».

E «por isso a primeira palavra» proposta é «vigilância». Eis algumas perguntas para um exame de consciência: «O que acontece no meu coração? Dentro de mim? Como me comporto com o Espírito Santo? O Espírito Santo é um dos muitos ídolo que conservo dentro de mim ou cuido do Espírito Santo? Aprendi a vigiar dentro de mim, a fim de que o templo no meu coração seja só para o Espírito Santo?».

Eis a importância de «purificar o templo interior e vigiar». «Está atento, está atenta: o que acontece no teu coração? Quem vem quem vai... quais são os teus sentimentos, as tuas ideias? Falas com o Espírito Santo? Ouves o Espírito Santo?». Trata-se contudo de «vigiar: estar atento ao que acontece no nosso templo, dentro de nós».

A segunda palavra é «serviço». «Jesus faz-nos compreender que ele está presente de modo especial no templo dos necesstados». E «diz claramente: está presente nos doentes, nos que sofrem, nos famintos, nos presos, está presente neles». Também para a palavra «serviço» Francisco sugeriu algumas perguntas para serem formuladas a nós mesmos: «Sei conservar aquele templo? Cuido do templo com o meu serviço? Aproximo-me para ajudar, vestir, consolar os que precisam?».

«São João Crisóstomo repreendia os que faziam muitas ofertas para ornar, embelezar o templo físico e não cuidavam dos necessitados, dizendo: “Não, isto não está bem, primeiro o serviço depois as ornamentações”». Resumindo, somos chamados a «purificar o templo que são os outros». E para o fazer bem é preciso perguntar: «De que modo ajudo a purificar aquele templo?». A resposta é simples: «Com o serviço aos necessitados. O próprio Jesus diz que ele está presente neles». E «está presente neles — explicou o Papa — e quando nos aproximamos para prestar um serviço, ajudar, assemelhamo-nos a Jesus que está ali dentro».

Francisco confidenciou que viu «um ícone tão bonito do Cireneu que ajudava Jesus a carregar a cruz: olhando bem para aquele ícone, o Cireneu tinha o mesmo rosto que Jesus». Portanto «se acudires o templo que está doente, o preso, o necessitado, o faminto, também o teu coração será mais parecido com o de Jesus». Por isso, «conservar o templo significa serviço».

«A primeira palavra, vigilância», exprime algo que «acontece dentro de nós». Enquanto «a segunda palavra» indica-nos o «serviço aos necessitados: isso significa purificar o templo». E «a terceira palavra que me vem à mente lendo o Evangelho é gratuitidade». No trecho do Evangelho, Jesus diz: «A minha casa será casa de oração. Vós, ao contrário, fizestes dela um covil de ladrões». Tendo em mente as palavras do Senhor, «quantas vezes com tristeza entramos num templo, numa paróquia, num episcopado, e não sabemos se estamos na casa de Deus ou num supermercado: há ali os mercadores, até com uma lista dos preços para os sacramentos» e «falta a gratuitidade». Contudo, «Deus salvou-nos gratuitamente, nada nos cobrou», disse, convidando a ajudar «para que as nossas igrejas, paróquias não sejam supermercados: mas casa de oração, que não sejam covil de ladrões, mas serviço gratuito». Alguém poderia objetar que «devemos ter dinheiro para manter a estrutura e para dar de comer aos sacerdotes, aos catequistas». A resposta do Pontífice foi clara: «Tu dá gratuitamente e Deus providenciará o resto, providenciará o que falta».

«Conservar o templo significa: vigilância, serviço e gratuitidade». Antes de tudo «vigilância no templo do nosso coração: devemos prestar atenção ao que acontece lá, estar atentos porque é o templo do Espírito Santo». Depois «serviço aos necessitados», repetiu, sugerindo que se leia o cap. 25 do Evangelho de Mateus. Serviço inclusive «aos famintos, aos doentes, aos presos, aos que têm necessidade porque ali está Cristo», sempre com a certeza de que «o necessitado é o templo de Cristo».

O «terceiro» ponto é a «gratuitidade no serviço que se oferece nas nossas igrejas: igrejas de serviço, gratuitas. Como foi gratuita a salvação, e não “igrejas-supermercado”». 

 



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