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VIAGEM APOSTÓLICA AOS ESTADOS UNIDOS
[1 - 8  DE OUTUBRO DE 1979]

AOS RELIGIOSOS NA FESTA DE SÃO FRANCISCO

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

Quinta-feira, 4 de Outubro de 1979

 

Irmãos em Cristo

Agradeço ao meu Deus todas as vezes que, penso em vós; e sempre que rezo por vós, rezo com alegria, lembrando-me de como vós colaborastes na difusão da Boa Nova, desde o dia em que a ouvistes pela primeira vez até ao presente (Flp 1, 3-5). Estas palavras de São Paulo exprimem os meus sentimentos desta tarde. É belo estar convosco. E estou grato a Deus pela vossa presença na Igreja e pela vossa colaboração no proclamar a Boa Nova.

1. Irmãos, Cristo é a finalidade e a medida da nossa vida. A vossa vocação teve origem no conhecimento de Cristo; e a vossa vida é sustentada pelo Seu amor. Porque vos chamou a segui-1'O mais de perto, com uma vida consagrada pela profissão dos conselhos evangélicos. Vós segui-1'O com sacrifício e generosidade espontânea. Vós segui-1'O com alegria cantando a Deus do íntimo do coração salmos, hinos e cânticos espirituais (Col 3, 16): Segui-1'O com fidelidade, considerando até uma honra sofrer humilhações pelo Seu nome (Act 5, 42).

A vossa consagração religiosa é essencialmente um acto de amor. E imitação de Cristo, que se entregou ao Seu Pai para salvar o mundo. Em Cristo estão unidos o Seu amor pelo Pai e o amor pelos homens.

E convosco acontece o mesmo. A vossa consagração religiosa não só reforçou o dom baptismal de união com a Trindade, mas também vos chamou a um serviço. maior do povo de Deus. Vós estais mais próximos da pessoa de Cristo, e participais mais da Sua missão de salvar o mundo.

Esta tarde quero falar da vossa participação na missão de Cristo.

2. Antes de tudo recordo-vos as qualidades pessoais que são necessárias para poder alguém participar com eficácia na missão de Cristo. Em primeiro lugar, deveis ser livres, interior e espiritualmente. Para muitos a liberdade de que falo é um paradoxo; existem equívocos inclusivamente em alguns que fazem parte da Igreja. Todavia é a liberdade fundamental do homem, e foi-nos ganha por Cristo na Cruz. Como disse São Paulo: Éramos ainda impotentes quando no momento predestinado Cristo morreu pelos pecadores (Rom 5, 6).

Esta liberdade espiritual recebida no Baptismo, procurastes vós aumentá-la e fortificá-la aceitando generosamente o chamamento para seguir Jesus de perto, na pobreza, na castidade e na obediência. Seja o que for o que os outros digam ou o mundo creia, as vossas promessas de observar os conselhos evangélicos não sufocaram a vossa liberdade: obedientes, não sois menos livres; e o celibato não vos torna menos capazes de amar, pelo contrário. A prática fiel dos conselhos evangélicos vinca a dignidade do homem, liberta o coração e faz arder o espírito de amor total por Cristo e pelos Seus irmãos no mundo (Perfectae Caritatis, 1, 12).

Mas tal liberdade de coração (1 Cor 7, 32-35) deve ser mantida pela vigilância contínua e pela oração ardente. Se estiverdes constantemente unidos a Cristo na oração, estareis sempre livres e cada vez mais disponíveis para participar na sua missão.

3. Em segundo lugar, deveis colocar a Eucaristia no centro da vossa vida. Participando embora de tantos modos na paixão, morte e ressurreição de Cristo, é na Eucaristia de modo particular que esta participação é celebrada e tornada eficaz. Na Eucaristia renova-se o espírito, alimenta-se a inteligência e o coração, e encontrareis a força para viver, dia após dia, para Ele, Redentor do mundo.

4. Em terceiro lugar, sede fiéis ao Evangelho. Recordai-vos das palavras de Jesus: Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática (Lc 8, 21). Se escutardes a palavra de Deus com sinceridade, e procurardes pô-la em prática humildemente mas com perseverança, a Sua palavra dará frutos na vossa vida, como a semente caída em terra fértil.

5. O quarto e último elemento que torna eficaz a vossa participação na missão de Cristo é a vida com os irmãos. A vida em comunidade religiosa é expressão concreta de amor pelos outros. As exigências de renúncia a si próprio e de serviço generoso criam a comunidade; o amor que vos une como irmãos na comunidade constitui, por seu lado, força que vos sustenta no vosso trabalho pela Igreja.

6. Irmãos em Cristo, hoje a Igreja universal presta culto a São Francisco de Assis. Pensando neste grande santo recordo a sua alegria perante a criação, a sua simplicidade inocente, a sua união poética com a "Senhora Pobreza", o seu zelo missionário e o seu desejo de aceitar totalmente a Cruz de Cristo. Que magnifica herança vos deixou, a vós que sois Franciscanos, e a todos nós!

Do mesmo modo, exaltou Deus muitos outros homens e mulheres de santidade excepcional. Destinou, estes também, a fundarem comunidades religiosas que — cada uma por caminhos diversos — deviam desempenhar papéis importantes na vida da Igreja. O segredo da realização de cada Instituto religioso foi a sua fidelidade ao carisma inicial que Deus encontrou no fundador ou na fundadora, para enriquecer a Igreja. Por este motivo repito as palavras de Paulo VI: "Sede fiéis ao espírito dos vossos fundadores, às suas intenções evangélicas, ao exemplo da sua santidade... É precisamente aqui que tem origem o dinamismo próprio de cada família religiosa" (Evangelica Testificatio, 11-12). E esta fidelidade continua a ser critério seguro para se julgar de quais actividades eclesiais o Instituto e cada membro deveriam incumbir-se, a fim de contribuírem para a missão de Cristo.

7. Nunca esqueçais a finalidade exacta do serviço apostólico: conduzir os homens e as mulheres dos nossos dias à comunhão com a Santíssima Trindade. No nosso tempo existe a tentação crescente de procurar a segurança na propriedade, na ciência e no poder. Dando testemunho com uma vida consagrada a Cristo na pobreza, castidade e obediência, vós pondes em dúvida aquela falsa segurança. Vós recordais aos homens que só Cristo é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14, 6.).

8. Hoje os religiosos trabalham numa vasta gama de actividades: ensinam nas escolas católicas, levam a palavra de Deus ao campo missionário, enfrentam necessidades humanas com a inteligência e a acção, servem com a oração e o sacrifício. Enquanto trabalhais, cada qual no seu sector, tende presente o conselho de São Paulo: Tudo o que fizeres fá-lo com todo o teu ser, fá-lo para o Senhor mais do que para os homens (Col 3, 23). A medida do vosso rendimento será o grau do vosso amor por Jesus.

9. Finalmente: todas as formas de serviço apostólico — do indivíduo ou da comunidade — devem estar em sintonia com o Evangelho explicado pelo Magistério. Uma vez que todo o serviço cristão deve levar o Evangelho aos homens, todo o serviço cristão deve ser portador de valores evangélicos. Sede, portanto, homens da palavra de Deus: homens cujo coração arde quando ouvem proclamar a palavra (Lc 24, 32); que agem segundo os seus mandamentos; que desejam que a Boa Nova seja proclamada até às terras mais longínquas.

Irmãos, a vossa presença na Igreja, a vossa colaboração na difusão do Evangelho são encorajamento e alegria para mim, na minha missão de Pastor de toda a Igreja. Deus vos dê longa vida e chame muitos outros a seguir Cristo na vida religiosa. A Virgem Maria, Mãe da Igreja e exempla de vida consagrada, obtenha para vós a alegria e a consolação do seu Filho Cristo.

 



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