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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS BISPOS DA BIELO-RÚSSIA
EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"

7 de Abril de 2004

 

 

Venerado Senhor Cardeal
Caríssimo Senhor Bispo de Grodno

1. «A paz seja convosco» (Mt. 28, 9). Ao encontrar-vos, faço minha, com alegria, a saudação de Cristo ressuscitado. Dirijo-a, por meio de vós, às Comunidades eclesiais do vosso amado País, que estão a viver uma providencial época primaveril, depois do inverno da perseguição violenta que se prolongou durante longos decénios, exprimindo-se na ateização sistemática das populações e, de modo especial, dos jovens, na destruição quase total das estruturas eclesiásticas, bem como no fechamento forçado dos lugares de formação cristã.

Diante do presente renascimento espiritual, como não dar graças, antes de tudo ao Senhor, que abriu para vós as portas da liberdade de culto, embora ainda relativa, e moveu os corações a fim de permitir a entrada no vosso País de jovens forças sacerdotais e religiosas, juntamente com a construção ou a restauração de numerosas igrejas e capelas? Isto foi realizado, também graças à ajuda solidária de numerosos irmãos e irmãs espalhados pelo mundo, para os quais se dirige o meu grato pensamento. A Deus, Pai de bondade, que finalmente escutou o brado do seu povo oprimido, e a não poucos homens e mulheres de boa vontade, que se fizeram instrumentos da Sua solicitude, dirige-se portanto o nosso cordial agradecimento pelo progressivo reconstruir-se na Bielo-Rússia, embora entre dificuldades gravíssimas, do tecido comunitário eclesial.

2. Esta obra de reconstrução «física» e espiritual da vossa Pátria foi seguida, há três anos, pelo reconhecimento estatal da personalidade jurídica da Arquidiocese de Minsk-Mohilev e da diocese de Pinsk, enquanto, aos poucos, se tornaram visíveis os vínculos com a Sé Apostólica, com a nomeação e a presença «in loco» de um Representante Pontifício, sinal da minha particular solicitude e do meu amor pela vossa Igreja local e pela Bielo-Rússia inteira.

Estou confiante em que no caminho empreendido se continuará a proceder, de acordo com quanto foi estabelecido e prometido nos acordos bilaterais, nos reconhecimentos jurídicos e nos regulamentos administrativos, em favor quer de quantos, não cidadãos bielo-russos, prestam actualmente a sua generosa obra apostólica no País, quer de Institutos de religiosos e de religiosas que desejam abrir casas no território.

A Igreja católica quer ser, também na Bielo-Rússia, um sinal de esperança para quantos despendem as suas energias, em vista de um melhor futuro de paz e de reconciliação para todos. O esforço de estruturação pastoral da diocese de Grodno e o empenho do Sínodo diocesano de Minsk-Mohilev e de Pinsk merecem encorajamento e apoio.

3. Venerados Irmãos no Episcopado, contemplando o vosso fervor e o dos sacerdotes, dos religiosos, das religiosas e dos leigos, não se pode deixar de olhar com responsável confiança para o futuro. Sustente-vos a consciência do amor de Deus, que conduz as sortes dos homens e tem nas Suas mãos os destinos da história. Guie-vos a Virgem Maria, venerada e amada pelo vosso povo, especialmente no santuário de Budslav.

É com a alma confortada por estas certezas que quereria deter-me agora a considerar, juntamente convosco, algumas graves questões sociais e religiosas, que nos vossos relatórios quinquenais, em ordem a esta Visita «ad limina Apostolorum» quisestes submeter ao Bispo de Roma.

Preocupa-vos a situação cultural, social, económica e política do vosso País, que parece difícil e instável; além disso, angustia-vos o empobrecimento progressivo de amplos estratos da sociedade, o que faz nascer em alguns perigosas nostalgias do passado.

A estes problemas vós prestais constante atenção, prontos a oferecer todo o contributo útil para a sua solução. Os vossos cuidados dirigem-se, todavia, especialmente às «emergências» religiosas, bem evidenciadas nos colóquios destes dias. Antes de tudo, tendes em grande consideração o cuidado e a formação dos sacerdotes, que animam os leigos e as comunidades cristãs no seu despertar espiritual. A eles dirige-se o meu pensamento reconhecido, porque o seu ministério é particularmente duro e disto estou bem consciente.

Depois de tantos anos de abandono, o ambiente em que trabalham é, de facto, muitas vezes hostil, e o campo a lavrar está repleto de abrolhos e de silvas. Os fiéis estão em geral dispersos em zonas muito vastas e ainda têm medo. A solidão dos sacerdotes é por vezes difícil de ser suportada, dado que não raro, por exigências pastorais, vivem distantes uns dos outros. Há também entre eles escassa homogeneidade de origem, de formação, de experiência de vida e de mentalidade.

Bem consciente destas vossas dificuldades, caríssimos sacerdotes, dirijo-me a vós com afecto, abraço-vos e repito-vos o encorajamento que dirigi, no início do meu Pontificado romano, à Igreja inteira: «Não tenhais medo!», «Abri as portas a Cristo» (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, vol. I, pág. 38). O Senhor Jesus venceu o mundo (cf. Jo. 16, 33) e com Ele já sois vitoriosos.

Amados Irmãos no Episcopado, não é necessário recomendar que ameis os vossos sacerdotes, os sustenteis com a oração e a proximidade, com a palavra e também com a ajuda material, porque já o fazeis com generosa dedicação. Não me resta senão exortar-vos a perseverar. Continuai na boa tradição das reuniões mensais do Clero. O encontro do Bispo com os sacerdotes é sempre uma providencial ocasião de fraternidade e de crescimento espiritual. Continuai a seguir os presbíteros no empenho ascético pessoal e na sua formação permanente, inspirando-vos nas indicações do Concílio Vaticano II para a necessária actualização. Nenhuma dificuldade vos desanime nem detenha o vosso entusiasmo apostólico.

4. A propósito de formação, penso não só naquela permanente, destinada aos presbíteros, mas também na preparação dos candidatos ao sacerdócio. Não é este porventura o problema mais urgente? Individualizar os chamados, cultivar a sua vocação, seguir o seu caminho formativo é empenho de que depende o futuro da Igreja no País. É necessário preparar sacerdotes que gradualmente assumam o lugar de quem veio de outras regiões e está a prodigalizar- se nestes anos com tanta generosidade entre vós. Esforço análogo deverá ser feito em prol do Seminário Interdiocesano de Grodno, agora renovado, que poderá assim ser guiado, pouco a pouco, por Superiores e Professores originários do País. Certamente não é fácil, no momento actual, a formação dos sacerdotes chamados a ser «homines Dei et hominum », quando ainda se sentem fortemente as consequências do «homo sovieticus », plasmado durante decénios de regime ateísta. Quanto a isto, não vos desencorajeis. Contai antes com a graça saneadora de Cristo, com a generosidade que desabrocha de uma vocação de amor total e oblativo e com a obra espiritual e pluridisciplinar dos educadores.

«A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos» (Mt. 9, 37), recorda-nos Jesus no Evangelho. À espera dos frutos do actual empenho formativo, olhai ao redor e batei com insistência à obter sacerdotes, religiosos e religiosas de proveniência diversificada, considerando também a atitude do Governo a respeito disto.

 No campo, depois, da vida religiosa, seja vossa luz para o caminho e consolo nas dificuldades a Exortação Apostólica Vita consecrata, que manifesta de maneira muito precisa a estima da Igreja pela vida consagrada, por aquilo que ela é em si e pelo sentido eclesial que deve possuir quem segue Cristo mais de perto.

5. Outro aspecto do trabalho pastoral, que quereria pôr em evidência, é o apostolado em relação à «intelligentzia», isto é, de quem actua nos diversos campos da cultura. É empenho a não ser descuidado, embora eu saiba que a prioridade, por vós mesmos estabelecida, é o cuidado da juventude e da família. Com efeito, tudo parece ser prioritário se se considera, por um lado, o colapso ético da sociedade e, por outro, a mentalidade «soviética» ainda presente no homem comum.

É preciso programar uma acção de nova evangelização, corajosa e adaptada às mudadas situações históricas e sociais do momento presente. Dedicai-vos a esta acção evangelizadora sem cessar, tendo em conta especialmente a grande data histórica do Jubileu do Ano 2000.

A nova evangelização não pode prescindir de uma corajosa acção de promoção humana, contanto que esta seja orientada para o serviço de todo o homem e do homem todo. A respeito disso, pode oferecer um contributo significativo a actividade realizada pela «Cáritas ». Enquanto me alegro convosco por ela ter surgido, pelo menos como estrutura central, nas três dioceses bielo-russas, faço votos por que se possa desenvolver em organizações e obras, servindo- se sobretudo da ajuda de leigos honestos e fervorosos, competentes e sensíveis às necessidades dos pequeninos, dos doentes, dos pobres, dos idosos e de quem procura uma preparação adequada à vida.

6. Não posso concluir este encontro sem recordar que na Bielo-Rússia o diálogo com os nossos irmãos e irmãs ortodoxos não poderá deixar de ser facilitado, porque inclusive os católicos podem dizer com eles: «Também nós somos daqui! ». É evidente que a presença e o apostolado da Igreja não são de «proselitismo », nem «missionários», na conotação negativa que por vezes é data a este termo em ambiente ortodoxo. Os sacerdotes estão presentes como Pastores do rebanho, para responder às exigências de assistência espiritual à qual cada crente tem direito.

Procurai, então, por vossa parte, entretecer sobretudo o diálogo da caridade, com quantos têm outras religiões ou não têm nenhuma. Cuidai em primeiro lugar de estabelecer relações fraternas com aqueles aos quais nos ligam, embora numa comunhão ainda não perfeita, os valores do Evangelho, as Bem-aventuranças, o Pai Nosso, a piedade mariana, os mesmos sacramentos, a mesma sucessão apostólica, o amor à Igreja, que encontra o seu ícone no mistério da Santíssima Trindade.

Com eles, com os seus Pastores, é legítima a colaboração em iniciativas humanas, culturais, caritativas e religiosas, contanto que não a impeçam razões de fidelidade ao «depositum fidei», sempre conjugando prudência e coragem.

E dado que para os fiéis de rito greco- católico no território bielo-russo não há actualmente uma hierarquia constituída, desejo aproveitar esta circunstância para saudar e abençoar também eles e assegurar-lhes que as suas alegrias e tristezas, as suas angústias e esperanças, juntamente com aquelas dos caríssimos fiéis de rito latino, são do mesmo modo as minhas, como o são as da humanidade inteira (cf. Gaudium et spes, 1).

A vós e às populações confiadas à vossa solicitude pastoral, a minha afectuosa Bênção.

 

 

 

 



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