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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À POLÓNIA

MENSAGEM DO SANTO PADRE
 À CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA POLÓNIA

8 de Junho de 1997

 

Caros Irmãos no serviço episcopal!

1. Com alegria aproveito a ocasião oferecida pelos grandes eventos religiosos na Polónia, concernentes à Igreja universal, para vos transmitir uma saudação fraterna e vos dirigir uma palavra especial. Quero, deste modo, dar expressão ao meu amor pela Igreja de Cristo na nossa Pátria, da qual tem cuidado em espírito de responsabilidade colegial a inteira Conferência do Episcopado Polaco e cada um dos Bispos.

A minha peregrinação teve início em Wrocław, com a participação no 46° Congresso Eucarístico Internacional. O encontro com Cristo no seu Mistério de infinito amor e unidade, entregue à Igreja e à humanidade no Sacrifício eucarístico, tem para nós uma eloquência profunda: tem-na para os católicos, assim como para todos os irmãos cristãos, de modo especial, os que se encontraram presentes no Congresso. Toda a Igreja na Polónia teve ocasião de aprofundar e contemplar o mistério da presença eucarística do Emanuel — Deus connosco (cf. Mt 1, 23). Para todos nós foi uma particular experiência da verdade sobre Cristo, que «é o mesmo ontem, hoje e sempre» (Hb 13, 8). Todos podemos haurir desta fonte vivificante a força e a esperança para a ulterior construção na terra polaca de uma comunidade de fé, de uma comunidade de todos os crentes em Cristo.

Esta comunidade, sendo unidade na caridade, é sempre fruto de sacrifício, de renúncia a alguma coisa de próprio em favor dos irmãos, fruto de solicitude pelo bem comum. Temos o dever de divisar este bem na unidade da Igreja universal, na unidade de cada Igreja particular, por fim, em todas as formas do agir colegial, entre as quais, depois do Concílio Vaticano II, um papel particular compete às Conferências Episcopais. Tarefa da Igreja é também construir os fundamentos morais, sobre os quais podem crescer e frutificar as várias comunidades humanas, iniciando do matrimónio e da família, através da comunidade de uma nação e de um Estado, até às múltiplas formas de convivência e de cooperação internacionais. Assim como, por disposição divina, a harmonia e a ordem numa família são mantidas, graças à observância das normas que derivam dos ligames naturais do sangue e da lei divina, de igual modo na comunidade da Igreja a harmonia depende da correspondência ao dom da fé, da esperança e da caridade, e da subordinação hierárquica realizada em sintonia com o princípio de subsidiariedade, cum Petro e sub Petro, em qualquer encargo recebido, especialmente no episcopal, e em toda a função ou ministério exercidos. O mínimo dessa subordinação é definido pela legislação eclesiástica, mas deve constantemente ser completado pelo imperativo do coração, que brota do amor da verdade presente na Igreja.

A Verdade divina, cuja revelação autêntica encontramos na Sagrada Escritura e na Tradição, manifesta-se também com a voz do Magistério da Igreja, e de modo especial com o ensinamento do Concílio Vaticano II. Para seguir de maneira correcta esse ensinamento, é necessário haurir o seu conhecimento por meio dos especialistas nos vários campos das ciências eclesiásticas e leigas, aprofundando os seus conteúdos, especialmente a nível de Conferência Episcopal, para depois os transmitir aos presbíteros e aos fiéis, numa forma pura e compreensível, de maneira que cada um possa encontrar neles a solução aos problemas pessoais e sociais, que se apresentam na vida quotidiana.

A unidade da Igreja exige que a solicitude dos Bispos se estenda a todos aqueles que transmitem o dom evangélico da verdade, tanto nas escolas e nos ateneus católicos, como através dos meios de comunicação católicos. A Conferência Episcopal, respeitando as competências dos Bispos diocesanos, é responsável pelo conjunto da transmissão da fé no território, independentemente da pertença daqueles que a transmitem ao clero diocesano, aos religiosos ou aos fiéis leigos. É necessário que a Igreja esteja presente nos meios de comunicação. Por meio deles, com efeito, ela entra em diálogo com o mundo, e com a ajuda deles pode formar a consciência do homem. Devemos atingir o mundo com aquilo que a Igreja tem a oferecer de melhor, respeitando a dignidade da pessoa humana e tornando-a sensível à responsabilidade diante de Deus.

2. A segunda etapa da minha peregrinação foi a antiquíssima Gniezno — centro e berço da Polónia e da Igreja na Polónia. Após mil anos da morte, por martírio, de Santo Adalberto, foi-me dado venerar as santas relíquias do Padroeiro da Polónia. Adalberto, obediente ao mandato de Cristo: «Ide, pois, ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28, 19), fortalecido pelo poder do Evangelho, foi à terra dos Prussianos. O seu testemunho não foi então acolhido, mas quando ele o confirmou com a morte, começou a produzir a messe e continuou a fazê-lo abundantemente até ao dia de hoje. Não é este, porventura, o modelo para os Pastores também no nosso País, no qual se observam preocupantes processos de alteração dos valores do Evangelho e até mesmo de hostilidade em relação a Cristo e à sua Igreja? A sociedade polaca exige uma nova evangelização profunda. Ninguém deve ser considerado perdido, porque Cristo morreu por todos, abrindo a cada homem a via à vida eterna. É preciso fé renovada no poder da cruz de Cristo.

Encontramo-nos diante dos grandes desafios que caracterizam o nosso tempo. Eu fazia notar isto já no meu discurso à Conferência do Episcopado Polaco, durante a peregrinação em 1991. Dizia então: «O caminho da Igreja é o homem... O Episcopado e a Igreja na Polónia devem, num certo sentido, traduzir esta tarefa numa linguagem de tarefas concretas, servindo-se da visão conciliar da Igreja-Povo de Deus, e também da nossa analogia dos “sinais dos tempos”. Os nossos “sinais dos tempos” polacos sofreram uma clara deslocação juntamente com a queda do sistema marxista e totalitário, que regulava a consciência e as atitudes do povo do nosso País. No sistema precedente... a Igreja criava como que um espaço em que o homem e a nação podiam defender os próprios direitos... Agora... o homem deve encontrar espaço na Igreja para, num certo sentido, se defender contra si mesmo: contra o mau uso da própria liberdade, contra o desperdício da grande oportunidade histórica para a Nação. Por mais que a situação anterior obtivesse o reconhecimento geral em relação à Igreja (até mesmo da parte de pessoas e ambientes “leigos”) — na situação actual em muitos casos não se pode contar com um reconhecimento semelhante. É preciso antes ter em conta a crítica, e talvez até algo de pior. É preciso conseguir fazer o discernimento: aceitar o que para toda a crítica pode ser justo. E para o restante: é óbvio que Cristo sempre será “sinal de contradição” (cf. Lc 2, 34). Esta “contradição” é para a Igreja também uma confirmação de ser ela mesma, de estar na verdade. Ela é talvez também o coeficiente da missão evangélica e do serviço pastoral» (Varsóvia, 9/6/1991; L'Osserv. Rom. ed. port. 30/6/1991, n. 3, pág. 6).

Entre os problemas concretos e as tarefas a enfrentar, quereria ressaltar a necessidade de que os leigos assumam a responsabilidade que lhes compete na Igreja. Isto refere-se àqueles âmbitos de vida, nas quais os leigos deveriam, em nome próprio, mas como membros fiéis da Igreja, desenvolver o pensamento político, a vida económica e a cultura, em sintonia com os princípios do Evangelho. Sem dúvida, é preciso ajudá-los nisto, mas não devem ser substituídos. A Igreja deve ser livre no anúncio do evangelho e de todas as verdades e das indicações nele contidas. Ela deseja uma semelhante liberdade, esforça-se por essa liberdade e isto é-lhe suficiente. Não procura nem quer possuir privilégios especiais.

Na minha palavra aos Bispos polacos, por ocasião da visita «ad Limina» de 1993, chamei a sua atenção para a possibilidade de utilizar o Sínodo Plenário, para reavivar a participação dos leigos na vida da Igreja. Parece que essa oportunidade continua a existir e é preciso fazer tudo para a aproveitar. Uma dimensão nova na actividade da Igreja são as organizações católicas e, entre elas, a Acção Católica. Possibilidades desse género não existiam na Polónia desde os anos quarenta. É verdade que não é fácil sensibilizar a sociedade a agir de maneira comunitária, mas esta é a justa direcção da pastoral polaca e não se pode facilmente renunciar a ela.

Uma solicitude muito séria da Igreja é a juventude, da qual depende o seu futuro. A Igreja na Polónia tem as suas magníficas experiências unidas à catequese paroquial. Hoje, o ensino da religião desenvolve-se na escola. Isto gerou novos desafios, que derivam, entre outras coisas, das transformações, que se verificaram no seio da sociedade polaca nos últimos anos. Às crianças e aos jovens do nosso tempo é preciso ir com o mesmo Evangelho, mas anunciado dum modo novo e adaptado à mentalidade de hoje e às condições em que vivemos. Isto exige um esforço sério, não só dirigido à formação dos novos instrumentos de diálogo com as crianças e com os jovens, mas também para encontraros modos oportunos para chegar aos jovens.

3. A terceira etapa da minha visita foi Cracóvia e o 600° aniversário da fundação, na terra polaca, do primeiro centro científico e didáctico do pensamento teológico, como era a Faculdade de Teologia da Academia de Cracóvia, que se tornou mais tarde a Universidade Jagelónica. O seu nascimento foi mérito da Rainha Edviges da dinastia dos Anju, que em Błonia Krakowskie foi solenemente canonizada por mim e, deste modo, incluída entre os Santos da Igreja universal. Dou graças a Deus Omnipotente por esta grande graça. É uma feliz coincidência o facto de, durante a mesma visita apostólica na Polónia, podermos, após séculos, olhar os efeitos das iniciativas clarividentes, tanto de Santo Adalberto, Bispo e Mártir, como de Santa Edviges, Rainha, que queriam, no modo que lhes era próprio, consolidar a fé cristã na nossa Pátria. O que Santo Adalberto anunciou e o que semeou com a sua morte por martírio, Santa Rainha Edviges decidiu ampliá-lo e torná-lo próprio de muitas gerações, abrindo na Polónia um amplo acesso ao tesouro do saber e da ciência da Europa cristã. Após seiscentos anos, sabemos que foi um passo providencial. Assim como Santo Adalberto pode ser considerado padroeiro da organização eclesiástica na Polónia, assim também à Santa Edviges se pode justamente atribuir o título de padroeira da abertura da Polónia ao pensamento cristão europeu.

Como são eloquentes hoje para nós estes dois exemplos, no momento em que, após anos de isolamento, retornamos de novo ao ambiente da cultura do Ocidente, a nós bem conhecida, tendo nós mesmos, durante séculos, oferecido a ela também a nossa riqueza. Não podemos hoje abster-nos de tomar a direcção que nos é indicada. A Igreja na Polónia pode oferecer à Europa, que se está a unir, a sua adesão à fé, a sua tradição inspirada pela religiosidade, o esforço pastoral dos Bispos e dos presbíteros, e ainda, certamente, numerosos outros valores, graças aos quais a Europa poderá constituir um organismo rico, não só de um alto nível económico, mas também de uma profunda vida espiritual.

Caros Irmãos no episcopado, foram mencionados aqui apenas alguns problemas. Apresento-os hoje à vossa reflexão pastoral e, antes de tudo, à vossa ardente oração. Certamente ainda deveremos retornar a eles por ocasião do encontro em Roma, no limiar do próximo ano, para o qual já hoje vos convido de todo o coração. Agradeço a todos vós cordialmente a oração durante toda a minha visita. À intercessão dos Santos e dos Beatos, elevados aos altares durante a minha peregrinação, recomendo-vos e também a Igreja que vos foi confiada, e de igual modo a inteira Pátria. Abençoo- vos de coração.

 

 

 

 



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