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PEREGRINAÇÃO JUBILAR DO PAPA JOÃO PAULO II
 À TERRA SANTA (20-26 DE MARÇO DE 2000)

 ENCONTRO ECUMÉNICO NO PATRIARCADO GRECO-ORTODOXO DE JERUSALÉM

 SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE

Sábado, 25 de Março de 2000

 

Queridos Irmãos e Irmãs em Cristo

1. É com profunda gratidão à Santíssima Trindade que realizo esta visita ao Patriarcado greco-ortodoxo de Jerusalém, e saúdo todos vós na graça e na paz de nosso Senhor Jesus Cristo. Agradeço a Sua Beatitude o Patriarca Diodoros I a sua hospitalidade fraterna e as cordiais palavras que nos dirigiu. Saúdo Sua Beatitude o Patriarca Torkom II, e todos os Arcebispos e Bispos das Igrejas e das Comunidades eclesiais aqui presentes. É fonte de grande alegria saber que os Chefes das Comunidades cristãs na Cidade Santa de Jerusalém se encontram com frequência para abordar questões de comum interesse para os fiéis. O espírito fraterno que prevalece entre vós é um sinal e um dom para os cristãos da Terra Santa, que enfrentam os desafios que se lhes apresentam.

Será acaso necessário que diga que sou profundamente encorajado pelo encontro desta tarde? Ele confirma que iniciámos o caminho para nos conhecermos melhor uns aos outros, com o desejo de superar a desconfiança e a rivalidade herdadas do passado. Aqui em Jerusalém, na cidade onde nosso Senhor Jesus Cristo morreu e ressuscitou, as suas palavras ecoam com uma especial ressonância, sobretudo as que Ele disse na noite antes de morrer:  "que todos sejam um só... para que o mundo creia que Tu Me enviaste" (Jo 17, 21). Para responder à súplica do Senhor estamos hoje aqui reunidos, seguidores do único Senhor apesar das nossas dolorosas divisões, e todos conscientes de que a sua vontade nos obriga, assim como as Igrejas e Comunidades eclesiais que representamos, a percorrer a via da reconciliação e da paz.

O acontecimento de hoje recorda-me o encontro histórico realizado aqui em Jerusalém, entre o meu Predecessor o Papa Paulo VI e o Patriarca Ecuménico Atenágoras I. Foi um evento que lançou os fundamentos de uma nova era de contactos entre as nossas Igrejas. Nos anos que se passaram aprendemos que o caminho para a unidade é difícil. Isto não nos deve fazer desanimar. Devemos ser pacientes e perseverantes, e prosseguir sem vacilar. O caloroso abraço do Papa Paulo VI e do Patriarca Atenágoras I apresenta-se como sinal profético e fonte de inspiração, que nos impele a novos esforços para correspondermos à vontade do Senhor.

2. A nossa aspiração por uma comunhão mais plena entre os cristãos assume um significado especial na Terra natal do Salvador e na Cidade Santa de Jerusalém. Aqui, na presença das diversas Igrejas e Comunidades, desejo reafirmar que a característica eclesial de universalidade respeita plenamente a legítima diversidade. A variedade e a beleza dos vossos ritos litúrgicos e das vossas tradições e instituições espirituais, teológicas e canónicas, testemunham a riqueza da herança divinamente revelada e indivisa da Igreja universal, tal como se desenvolveu através dos séculos no Oriente e no Ocidente. Existe uma legítima diversidade que não é de modo algum contrária à unidade do Corpo de Cristo, mas sim fortalece o esplendor da Igreja e contribui em grande medida para o cumprimento da sua missão (cf. Ut unum sint, 50). Nenhuma destas riquezas deve ser perdida na unidade mais plena à qual aspiramos.

3. Durante a recente Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, neste Ano do Grande Jubileu, muitos de vós se uniram em oração por uma maior compreensão e cooperação entre todos os seguidores de Cristo. Fizestes isto conscientes de que todos os discípulos do Senhor têm juntos uma comum missão de servir o Evangelho na Terra Santa.

Quanto mais estivermos unidos em oração à volta de Cristo, tanto mais corajosos nos tornaremos ao enfrentar a dolorosa realidade humana das nossas divisões. A peregrinação da Igreja através deste novo século e do novo milénio é o caminho traçado por ela em virtude da sua intrínseca vocação à unidade. Peçamos ao Senhor que inspire um novo espírito de harmonia e de solidariedade entre as Igrejas para enfrentar as dificuldades práticas que assediam a Comunidade cristã em Jerusalém e na Terra Santa.

4. A cooperação fraterna entre os cristãos nesta Cidade Santa não é uma mera opção; ela tem o seu próprio significado ao comunicar o amor que o Pai tem pelo mundo ao enviar o seu Filho unigénito (cf. Jo 3, 16). Só num espírito de recíproco respeito e apoio a presença cristã pode florescer aqui numa comunidade viva com as suas tradições e confiante de enfrentar os desafios sociais, culturais e políticos de uma situação em evolução. Só estando reconciliados entre si, os cristãos podem desempenhar plenamente o seu papel, fazendo de Jerusalém a Cidade da Paz para todos os povos. Na Terra Santa, onde os cristãos vivem ao lado dos seguidores do Judaísmo e do Islão, onde quase todos os dias existem tensões e conflitos, é essencial superar  a  escandalosa  impressão  suscitada pelas nossas divergências e controvérsias. Nesta Cidade deveria ser sobretudo possível para cristãos, judeus e muçulmanos  viverem  juntos  em  fraternidade,  liberdade,  dignidade,  justiça e paz.

5. Estimados Irmãos em Cristo, foi minha intenção conferir uma dimensão claramente ecuménica à celebração do Ano jubilar 2000 por parte da Igreja. A abertura da Porta Santa na Basílica de São Paulo fora dos Muros, na qual estavam representadas numerosíssimas Igrejas e Comunidades eclesiais, simbolizou o nosso atravessar juntos a "porta", que é Cristo:  "Eu sou a porta:  se alguém entrar por Mim, salvar-se-á" (Jo 10, 9). O nosso caminho ecuménico é precisamente este:  um caminho em Cristo e através de Cristo, o Salvador, rumo à fiel realização do plano do Pai. Com a graça de Deus, o bimilenário da Encarnação do Verbo será "um tempo favorável", um ano de graça para o movimento ecuménico. No espírito dos Jubileus do Antigo Testamento, este é para nós um tempo providencial para nos dirigirmos ao Senhor e pedirmos perdão pelas feridas que os membros das nossas Igrejas infligiram uns aos outros ao longo dos séculos. Chegou o momento de pedirmos ao Espírito de Verdade que ajude as nossas Igrejas e Comunidades a empenharem-se num diálogo teológico sempre mais fecundo, que nos tornará capazes de crescer no conhecimento da verdade e de alcançar a plenitude da comunhão no Corpo de Cristo. Do intercâmbio de ideias, o nosso diálogo tornar-se-á depois um intercâmbio de dons:  uma partilha mais autêntica do amor que o Espírito derrama incessantemente nos nossos corações.

Sua Beatitude recordou-nos a oração de Cristo na vigília da sua Paixão e Morte. Esta oração é a sua última vontade e o seu testamento, e desafia todos nós. Qual será a nossa resposta?

Queridos Irmãos em Cristo, com o coração repleto de esperança e com inabalável confiança, façamos do terceiro Milénio cristão o Milénio da nossa alegria, reencontrada na unidade e na paz do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Amém.

 


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