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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
 AO NOVO EMBAIXADOR DA ALEMANHA
JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO
DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

12 de Setembro de 2002

 

1. É com alegria que, hoje, recebo das suas mãos as Cartas Credenciais com que o Presidente da República Federal da Alemanha, Sua Ex.cia o Senhor Johannes Rau, o acredita como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do seu País junto da Santa Sé. Ao mesmo tempo, dou-lhe as cordiais boas-vindas ao Vaticano e felicito-o pela sua nova e honrada missão. Ao mesmo tempo, exprimo o desejo e a confiança de que, também durante o seu mandato, os bons relacionamentos entre a Alemanha e a Santa Sé continuem a aprofundar-se.

2. Desde a histórica reunificação da Alemanha, ocorrida há 12 anos, a expressão que já se tornou corrente "união daquilo que é destinado a permanecer unido" adquiriu um significado concreto não só na República Federal, mas também no restante da Europa e, de certa forma, para muitas pessoas deste Continente, tornou-se uma visão programática, de cuja realização se espera um justo equilíbrio entre interesses, paz duradoura e bem-estar social. Desde o começo, a Santa Sé promoveu com os seus próprios instrumentos o processo de unificação europeia e nunca teve dúvidas sobre o facto de que a fé numa identidade espiritual e cultural comum dos povos europeus tinha que constituir o fundamento da sua reunificação política e institucional na União Europeia. A Europa não seria tal, sem o rico património dos seus povos que, semelhante aos genes humanos, formou e continua a modelar a personalidade deste Continente. Descuidar ou abandonar esta "herança" significaria pôr em perigo a sua identidade e, em última análise, perdê-la. Já tive a oportunidade de indicar que, hoje em dia, os europeus devem enfrentar o desafio de "construir uma cultura e uma ética da unidade, na falta das quais qualquer política da unidade está destinada, mais cedo ou mais tarde, a fracassar" (Carta Apostólica em forma de "Motu Proprio" para a proclamação das co-Padroeiras da Europa, Spes aedificandi, 1 de Outubro de 1999, n. 10).

3. Um factor que qualifica a identidade deste Continente é a Igreja fundada por Jesus Cristo. "Não há dúvida de que, na complexa história europeia, o cristianismo representa um elemento central e qualificador, consolidado sobre a firme base da herança clássica e das numerosas contribuições oferecidas pelas diversas correntes étnico-culturais que se produziram ao longo dos séculos. A fé cristã formou a cultura do Continente e entrelaçou-se inextricavelmente com a sua história, de tal forma que esta não seria compreensível se não se referisse aos acontecimentos que caracterizaram primeiro o grande período da evangelização e, depois, os longos séculos em que o cristianismo, apesar da dolorosa divisão entre Oriente e Ocidente, se confirmou como religião dos próprios europeus" (Ibid., n. 1). Neste contexto, não há dúvida de que uma clara referência a Deus e à fé cristã na Constituição europeia, em processo de definição, significa o reconhecimento de uma realidade histórica e cultural que actua no presente e na qual os europeus encontram a sua própria identidade.

Senhor Embaixador, para a necessária tomada de consciência destes factos, por parte da opinião pública alemã e europeia, a Santa Sé confia também na contribuição orientada dos estudiosos e dos responsáveis políticos do seu querido País, ao qual a cultura deste Continente deve muito.

4. Senhor Embaixador, é com satisfação que a Santa Sé toma conhecimento de que, depois da reunificação da Alemanha e dos enormes esforços económicos e sociais inerentes, a República Federal não hesitou em enfrentar os desafios da integração europeia. Apesar das grandes tarefas de edificação nas novas Estados federais, a Alemanha permaneceu fiel à sua vocação europeia, assim como ao seu conhecido compromisso de solidariedade para com os povos mais pobres do mundo. Embora tenham que enfrentar os seus próprios problemas, os alemães não se esqueceram das dificuldades dos outros.

Desta forma, a política alemã realça um aspecto não secundário do processo de integração continental: a unidade europeia, que se torna cada vez mais sólida, não se configura como um movimento de demarcação dos seus confins, mas acarreta consigo uma decisiva abertura ao mundo. Com efeito, os Estados europeus são chamados a cooperar activamente para a criação de uma Ordem mundial de justiça e de paz! Nesta perspectiva, a Santa Sé presta homenagem aos esforços constantes da República Federal da Alemanha, em ordem a promover o respeito dos direitos do homem em todas as regiões da terra, de tal maneira que, aonde chega a assistência alemã destinada ao desenvolvimento, as pessoas possam viver com dignidade e em liberdade.

Além disso, em virtude da sua grande tradição social, a Alemanha tem uma particular vocação para o alargamento e a consolidação do princípio do bem comum. Oxalá as notáveis ajudas que o povo alemão oferece em cada ano, para apoiar o desenvolvimento dos países mais pobres sejam, ao mesmo tempo, uma contribuição para a salvaguarda e o respeito dos direitos humanos fundamentais, de entre os quais desejo mencionar os principais: "O direito à vida, do qual é parte integrante o direito a crescer à sombra do coração da mãe, depois de ser gerado; o direito a viver numa família unida e num ambiente moral favorável ao desenvolvimento da própria personalidade; o direito a maturar a sua inteligência e liberdade na procura e no conhecimento da verdade; o direito a participar no trabalho para valorizar os bens da terra e a obter dele o sustento próprio e dos seus familiares; e o direito a fundar uma família e a acolher e educar os filhos, exercendo responsavelmente a sua sexualidade. Fonte e síntese destes direitos é, num certo sentido, a liberdade religiosa, entendida como direito a viver na verdade da própria fé e em conformidade com a dignidade transcendente da pessoa" (Centesimus annus, 47).

5. Por fim, através da pessoa do Senhor Embaixador, desejo comunicar as minhas respeitadoras saudações ao Presidente da República Federal e transmitir os meus cordiais bons votos de bênção a todo o povo alemão. O bom relacionamento de cooperação entre a Igreja e o Estado na Alemanha está ao serviço do bem das pessoas e exige o seu aprofundamento e a sua continuação incessantes, tendo como fundamento os princípios, a liberdade e a determinação das funções e das finalidades de ambas as partes interessadas.

Excelência, enquanto lhe agradeço as cordiais palavras que me quis dirigir, asseguro-lhe que os meus colaboradores na Secretaria de Estado e nos outros Departamentos da Cúria Romana estão sempre disponíveis para lhe oferecer qualquer ajuda de que quiser valer-se no exercício do seu elevado múnus. É do íntimo do coração que lhe concedo, Senhor Embaixador, assim como aos queridos componentes da Embaixada da República Federal da Alemanha junto da Santa Sé e à sua estimada família, a minha Bênção apostólica.

  © Copyright 2002 - Libreria Editrice Vaticana

 



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