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VIAGEM APOSTÓLICA A MALTA
POR OCASIÃO DO 1950º ANIVERSÁRIO
DO NAUFRÁGIO DE SÃO PAULO
(17-18 DE ABRIL DE 2010)

SANTA MISSA

HOMILIA DO PAPA BENTO XVI

Praça "dei Granai" - Floriana
Domingo, 18 de Abril de 2010

(Vídeo)

 

Estimados irmãos e irmãs
em Jesus Cristo
Meus queridos filhos e filhas!

Sinto-me muito feliz por estar aqui hoje com todos vós, diante da linda igreja de São Públio para celebrar o grande mistério do amor de Deus que se tornou perfeito na Sagrada Eucaristia. Neste tempo, a alegria do período pascal enche os nossos corações porque estamos a celebrar a vitória de Cristo, a vitória da vida sobre o pecado e sobre a morte. É uma alegria que transforma as nossas vidas e nos cumula de esperança  no  cumprimento  das promessas  de  Deus.  Cristo ressuscitou, aleluia!

Saúdo o Presidente da República e a Senhora Abela, as Autoridades civis desta amada Nação e todo o povo de Malta e Gozo. Agradeço ao arcebispo Cremona as suas amáveis palavras e saúdo também o bispo Grech e o bispo Depasquale, o arcebispo Mercieca, o bispo Cauchi e os demais bispos e sacerdotes presentes, assim como os fiéis cristãos da Igreja que está em Malta e em Gozo. Desde a minha chegada, ontem  à  tarde, senti o mesmo acolhimento caloroso que os vossos antepassados reservaram ao Apóstolo Paulo no ano 60.

Muitos viajantes desembarcaram aqui ao longo da vossa história. A riqueza e a variedade da cultura maltesa é um sinal de que o vosso povo obteve grande benefício do intercâmbio de dons e hospitalidade com os viajantes vindos do mar. E é significativo que vós soubestes exercer o discernimento, reconhecendo o melhor daquilo que eles tinham para oferecer.

Exorto-vos a continuar a fazer assim. Nem tudo aquilo que o mundo propõe hoje vale a pena ser acolhido pelos Malteses. Muitas vozes procuram persuadir-nos a deixar de lado a nossa fé em Deus e na sua Igreja e a escolher para nós mesmos os valores e os credos com os quais viver. Dizem-nos que não temos necessidade de Deus nem da Igreja. Se somos tentados a crer nelas, deveríamos recordar o episódio do Evangelho de hoje, quando os discípulos, todos pescadores peritos, labutaram a noite inteira, mas não pescaram nem sequer um peixe. Depois, quando Jesus apareceu à margem, indicou-lhes onde pescar e puderam realizar uma pesca tão abundante, que tinham dificuldade para a arrastar. Abandonados a si mesmos, os seus esforços eram infecundos; quando Jesus permaneceu ao seu lado, capturaram uma enorme quandidade de peixes. Meus caros irmãos e irmãs, se depositarmos a nossa confiança no Senhor e seguirmos os seus ensinamentos, colheremos sempre muitos frutos.

A primeira leitura da Missa hodierna é daquelas que sei que gostais de ouvir:  a narração do naufrágio de Paulo no litoral de Malta e a calorosa hospitalidade que lhe foi reservada pela população destas ilhas. Observai como os componentes da tripulação do barco, para poder sobreviver, foram obrigados a lançar borda fora toda a carga, os equipamentos do barco e até mesmo o trigo, que era o seu único sustento. Paulo exortou-os a depositar a sua confiança unicamente em Deus, enquanto o barco era sacudido pelas ondas. Também nós temos que depositar a nossa confiança somente nele. Somos tentados a pensar que a tecnologia avançada dos nossos dias possa satisfazer todos os nossos desejos e salvar-nos dos perigos que nos angustiam. Mas não é assim. Em cada momento da nossa vida, dependemos inteiramente de Deus no qual vivemos, nos movemos e temos a nossa existência. Só Ele pode proteger-nos do mal, somente ele pode orientar-nos no meio das tempestades da vida e apenas ele pode conduzir-nos para um porto seguro, como fez por Paulo e pelos seus companheiros, à deriva nas costas de Malta. Eles fizeram aquilo que Paulo os exortava a fazer, e foi assim que "todos chegaram à terra sãos e salvos" (Act 27, 44).

Mais do que qualquer carga que podemos podemos carregar connoscono sentido das nossas realizações humanas, das nossas propriedades e da nossa tecnologia é a nossa relação com o Senhor que oferece a chave da nossa felicidade e da nossa realização humana. E ele chama-nos a uma relação de amor. Prestai atenção à pergunta que, por três vezes, ele dirige a Pedro à margem do lago:  "Simão, filho de João, tu amas-me?". Com base na resposta afirmativa de Pedro, Jesus confia-lhe uma tarefa, a tarefa de apascentar o seu rebanho. Aqui vemos o fundamento de todo o ministério pastoral na Igreja. É o nosso amor pelo Senhor que deve plasmar todos os aspectos da nossa pregação e ensinamento, da celebração dos sacramentos e do nosso cuidado pelo Povo de Deus. É o nosso amor pelo Senhor que nos impele a amar aqueles que Ele ama, e a aceitar de bom grado a tarefa de comunicar o seu amor àqueles que servimos. Durante a paixão do Senhor, Pedro renegou-o três vezes. Agora, depois da Ressurreição, Jesus convida-o três vezes a declarar o seu amor, oferecendo deste modo salvação e perdão, e ao mesmo tempo confiando-lhe a sua missão. A pesca milagrosa tinha sublinhado a dependência dos Apóstolos de Deus para o bom êxito dos seus projectos terrenos. O diálogo entre Pedro e Jesus salientou a necessidade da misericórdia divina para curar as suas feridas espirituais, as feridas do pecado. Em cada âmbito da nossa vida, temos necessidade da ajuda da graça de Deus. Com Ele podemos realizar todas as coisas:  sem Ele, nada podemos fazer.

Conhecemos do Evangelho de São Marcos os sinais que acompanham aqueles que depositaram a sua fé em Jesus:  apanharão serpentes com as mãos, e isto não lhes fará padecer qualquer mal; imporão as mãos sobre os doentes e eles serão curados (cf. Mc 16, 18). Tais sinais foram depressa reconhecidos pelos vossos antepassados, quando Paulo chegou ao meio deles. Uma víbora agarrou-se à sua mão, mas ele simplesmente sacudiu-a, lançando-a no fogo sem sofrer qualquer dor. Paulo desejava ver o pai de Públio, o "protos" da ilha, depois de ter rezado e imposto as mãos sobre ele, curou-o da febre. De todos os dons trazidos a estas costas durante a história do vosso povo, aquele que Paulo trouxe foi o maior de todos, e é vosso mérito que ele tenha sido imediatamente acolhido e conservado. Conservai a fé e os valores que vos foram transmitidos pelo vosso pai, o Apóstolo São Paulo. Continuai a explorar a riqueza e a profundidade do dom de Paulo e procurai transmiti-lo não apenas aos vossos filhos, mas a todos aqueles que encontrais hoje. Cada visitante de Malta deveria ficar impressionado pela devoção do seu povo, pela fé vibrante manifestada nas celebrações nos dias de festa, pela beleza das suas igrejas e dos seus santuários. Mas aquela dádiva tem necessidade de ser compartilhada com outros, deve ser manifestada. Como Moisés ensinou ao povo de Israel, os preceitos do Senhor "serão gravados no teu coração. Ensiná-los-ás aos teus filhos e meditá-los-ás quer em tua casa, quer em viagem, quer ao deitar-te ou ao levantar-te" (Dt 6, 6-7). Isto foi bem compreendido pelo primeiro santo canonizado de Malta, Dun Gorg Preca. A sua incansável obra de catequese, inspirando jovens e idosos com um amor pela doutrina cristã e uma profunda devoção ao Verbo encarnado, tornou-se um exemplo que vos exorto a conservar. Recordai que o intercâmbio de bens entre estas ilhas e o resto do mundo é um processo bilateral. Aquilo que recebeis, valorizai-o com atenção, e o que possuís de valor sabei compartilhá-lo com os demais.

Desejo dirigir uma palavra particular aos sacerdotes aqui presentes, neste ano dedicado à celebração do grande dom do sacerdócio. Dun Gorg era um presbítero de humildade, bondade, mansidão e generosidade extraordinárias, profundamente dedicado à oração e com a paixão de comunicar as verdades do Evangelho. Tomai-o como modelo e inspiração para vós, enquanto cumpris a missão que recebestes de apascentar a grei do Senhor. Recordai também a pergunta que o Senhor ressuscitado dirigiu três vezes a Pedro:  "Tu amas-me?". Esta é a pergunta que Ele dirige a cada um de vós. Vós o amais? Desejai servi-lo com o dom de toda a vossa vida? Desejais levar outros a conhecê-lo e a amá-lo? Com Pedro, tende a coragem de responder:  "Sim, Senhor, Tu sabes que te amo!", e assumi com um coração grato a magnífica tarefa que Ele vos designou. A missão confiada aos sacerdotes é verdadeiramente um serviço à alegria, ao júbilo de Deus que deseja ardentemente irromper no mundo (cf. Homilia, 24 de Abril de 2005).

Olhando agora ao meu redor a grande multidão reunida aqui em Floriana para a celebração da Eucaristia, volta-me à mente a cena descrita na segunda leitura de hoje, na qual miríades de miríades, e milhares de milhares uniram as suas vozes num grande hino de louvor:  "Àquele que está sentado sobre o trono e ao Cordeiro sejam dadas acções de graças, honra, glória e poder para todo o sempre" (Ap 5, 13).

Continuai a entoar este hino, para o louvor do Senhor ressuscitado e em acção de graças pelos seus múltiplos dons.  Com  as  palavras  de  São Paulo, Apóstolo de Malta, concluo a minha exortação a vós esta manhã:  "Eu amo-vos a todos em Cristo Jesus!" (1 Cor 16, 24).

Louvado seja Jesus Cristo!

 

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