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CARTA DO PAPA BENTO XVI
AO CARDEAL EDWARD IDRIS CASSIDY
NO XX ANIVERSÁRIO DA VISITA
DE JOÃO PAULO II A ALICE SPRINGS

 

Ao meu Venerável Irmão
Cardeal EDWARD IDRIS CASSIDY

É com imensa alegria que, através de Vossa Eminência, transmito as minhas saudações a Sua Excelência D. Edmund Collins, Bispo de Darwin, e a todas as pessoas que se hão-de reunir em Alice Springs de 2 a 7 de Outubro de 2006, para celebrar o XX aniversário da visita do meu querido Predecessor o Papa João Paulo II. Tenha a certeza das minhas orações e da minha proximidade espiritual neste momento de jubilosa recordação.

A arte da lembrança, exercida no arco da esperança, não é simplesmente uma ocasião de mera comemoração. Ela renova os propósitos. Para as comunidades australianas de aborígenes e de habitantes insulares do Estreiro de Torres, hoje reunidas, isto expressa-se no desejo de propor novamente os desafios com que o Papa João Paulo II já os encorajava: "Sede fiéis às vossas tradições dignas, adaptai a vossa cultura viva, sempre que isto se tornar necessário e, acima de tudo, abri os vossos corações à consoladora, purificadora e exaltante mensagem de Jesus Cristo, que morreu a fim de podermos ter vida, e vida em abundância" (Discurso às comunidades de aborígenes e de habitantes insulares do Estreiro de Torres, Alice Springs, 29 de Novembro de 1986, em: Insegnamenti IX, 2 [1986], pág. 1763).

Como estes desafios podem ser enfrentados, quando há muitas situações que podem levar ao desânimo ou mesmo ao desespero? Quando Jesus, durante o tempo que passou na terra, ia de aldeia em aldeia para anunciar a Boa Nova da verdade e do amor, capturava a atenção das pessoas que se punham à sua escuta. Diversamente dos Escribas, que eram rejeitados pela sua hipocrisia, narra-se que o Senhor "suscitava admiração com o seu ensinamento, dado que ensinava como quem tem autoridade" (cf. Lc 1, 22). Com efeito, cada comunidade humana tem necessidade e vai em busca de líderes fortes e inspiradores, que orientem os outros pelo caminho da esperança. Por conseguinte, muito depende dos exemplos dos anciãos das comunidades. Encorajo-os a exercer a sua autoridade com sabedoria, através da fidelidade às suas tradições cantigas, histórias, pinturas e danças mas de maneira muito especial mediante uma renovada expressão da sua profunda consciência de Deus, que se torna possível através da Boa Nova de Jesus Cristo.

Eminência, por seu intermédio desejo exortar directamente os jovens presentes: conservai acesa a chama da esperança e "caminhai de cabeça alta". Cristo está ao vosso lado! Mesmo na hora mais obscura, a sua luz continua a resplandecer. Efectivamente, com o Salmista nós podemos proclamar: "Ouvi os gritos da multidão; o terror envolveu-me... Mas eu confio em ti, Senhor, e digo: Tu és o meu Deus!" (Sl 31 [30], 14-15). Não permitais que o vosso "sonho" seja debilitado pelo convite superficial daqueles que podem atrair-vos ao uso impróprio do álcool e das drogas, como promessas de felicidade. Estas promessas são falazes e conduzem exclusivamente para um círculo de miséria e ilusão. Pelo contrário, desejo exortar-vos a promover o encontro com o mistério do espírito de Deus, que age em vós e na criação, indicando-vos assim uma vida de propósitos, serviços, satisfação e alegria.

À comunidade mais vasta, desejo repetir aquilo que já mencionei no meu discurso no início do corrente ano, dirigido aos Embaixadores das nações acreditadas junto da Santa Sé. Muito já se alcançou ao longo do caminho da reconciliação racial, mas ainda há muito a realizar. Ninguém pode eximir-se deste processo. Enquanto nenhuma cultura pode utilizar as feridas do passado como um pretexto para evitar a abordagem das dificuldades que se encontram na resolução das necessidades sociais contemporâneas do seu próprio povo, é também útil recordar que somente através da disponibilidade em aceitar a verdade histórica é possível alcançar uma compreensão da realidade contemporânea e aderir à visão de um futuro harmonioso. Por conseguinte, encorajo uma vez mais todos os australianos a enfrentarem com compaixão e determinação as profundas causas subjacentes ao flagelo que continua a afligir um número tão elevado de cidadãos aborígenes. O compromisso em favor da verdade abre o caminho para uma reconciliação duradoura, através do processo purificador que consiste em pedir e conceder o perdão dois elementos indispensáveis para a paz. Deste modo, a nossa memória é purificada e os nossos corações pacificados, enquanto o nosso próprio futuro se enche de uma esperança solidamente fundamentada na paz que brota da verdade.

Com estes sentimentos de solicitude sincera, e confiante no amor de Cristo que nos impele (cf. 2 Cor 5, 14), é do íntimo do coração que vos concedo, assim como a todas as pessoas congregadas, a minha Bênção Apostólica, que de bom grado faço extensiva aos membros das suas famílias, onde quer que eles se encontrem.

Vaticano, 22 de Setembro de 2006.

PAPA BENTO XVI

 

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