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DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
AO SENHOR AHMED HAMID ELFAKI HAMID
NOVO EMBAIXADOR DO SUDÃO
JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO
DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS* 

Sexta-feira, 1 de Junho de 2007

 

Senhor Embaixador

1. É com prazer que recebo Vossa Excelência por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da República do Sudão junto da Santa Sé.

Expresso-lhe a minha gratidão por me ter transmitido as saudações de Sua Excelência o Presidente Omer Hassan Ahmed El-Bashir, do Governo e do povo sudanês. Ao receber estes votos de paz e fraternidade, invoco o Todo-Poderoso para que ilumine as consciências e apoie os esforços e as iniciativas de todas as pessoas que desejam progredir de modo corajoso e decisivo pelo caminho da consolidação da paz duradoura no seu país e da fraternidade plenamente vivida entre as diferentes componentes da sociedade.

2. Na minha mensagem Urbi et Orbi para a festa da Páscoa de 2007, quis fazer-me eco dos gritos de desespero das pessoas que, em numerosos países do mundo, seja qual for a sua origem étnica ou religiosa, sofrem a ausência da paz, são submetidas a todos os tipos de violência, ao desprezo da vida, à violação dos seus direitos mais fundamentais, à exploração sob todas as formas, à ausência de liberdade e de segurança. As preocupações que então recordei juntam-se, como Vossa Excelência ressaltou, à preocupação das Autoridades do seu país e da Comunidade internacional, sobretudo perante a situação dramática que persiste desde 2003 na região do Darfur, com as suas consequências a nível regional.

Neste conflito destruidor que atinge antes de tudo as populações civis, todos sabem que solução alguma viável para a consecução da paz fundada na justiça pode ser realizada pela força das armas, mas ao contrário ela exige a cultura do diálogo e da negociação, em vista de chegar a uma solução política do conflito, no respeito das minorias culturais, étnicas e religiosas. Nunca é demasiado tarde para fazer corajosamente as opções necessárias e por vezes constrangedoras destinadas a pôr fim a uma situação de crise, sob condição de que todas as partes se comprometam sinceramente e com determinação na sua resolução e que as declarações de princípio sejam acompanhadas por decisões construtivas, em particular sobre as disposições humanitárias urgentes. Portanto, faço apelo a todas as pessoas que têm uma responsabilidade em matéria, para que prossigam os seus esforços e tomem as decisões necessárias. Os diferentes Acordos que Vossa Excelência recordou, como o recente Acordo de reconciliação assinado entre o Sudão e o Chade, sob a égide da Arábia Saudita, obriga as partes a uma colaboração com a União Africana e as Nações Unidas para a estabilização do Darfur e da vizinha região do Chade, são apelos positivos para abandonar as estratégias de confronto, a fim de encontrar soluções viáveis e pontos de apoio estáveis. Assim, a paz e a estabilidade desejadas por todos poderão ser alcançadas penso sobretudo no processo de paz em curso no sul do país com efeitos benéficos a nível nacional, continental e também mundial.

3. Vossa Excelência, Senhor Embaixador, recordou que a paz é um dom de Deus Todo-Poderoso, o Deus criador de todos os homens e de todas as coisas, no qual a unidade da família tem a sua origem. Ela constitui uma aspiração muito profunda ancorada no coração de cada pessoa, e todos se deveriam sentir cada vez mais responsáveis por fazê-la germinar, vigiando por que se enraize na justiça, dê frutos de reconciliação e sirva ao desenvolvimento integral de todos os membros de uma nação sem excepções.

A paz constitui também um desafio a enfrentar pelo seu país, rico na multiplicidade cultural, na diversidade étnica e na coexistência de várias religiões. A diversidade nacional pode, se for considerada positivamente como uma oportunidade, concorrer de modo eficaz para a estabilização da paz e da segurança no país, servir a integração de todas as comunidades presentes no território e o desenvolvimento integral das pessoas, e permitir que a expressão das suas diferenças, num diálogo franco e sincero, sirva o bem comum.

Por fim, a paz apresenta-se como uma tarefa a realizar e um serviço do povo. Compete sobretudo às Autoridades do Estado vigiar activamente, no seio da Nação, pela expressão desta diversidade, não poupando os seus esforços para promover relações cada vez mais fraternas entre os membros da comunidade nacional, eliminar todas as formas de discriminação ou de supremacia de um grupo sobre outro, e garantir o respeito e os direitos das minorias. Assim, a paz mostrar-se-á "não como uma simples ausência de guerra, mas como a harmonia dos cidadãos numa sociedade governada pela justiça, na qual se realiza, na medida do possível, também o bem de todos" (Mensagem para a celebração do Dia Mundial da Paz de 2006, n. 6).

4. Para que todos os homens sejam capazes de estabelecer relações fraternas e sinceras, e que edifiquem uma sociedade cada vez mais justa e equitativa, a contribuição das diferentes tradições religiosas presentes no seu país, com a riqueza do seu património de valores humanos, morais e espirituais, assume uma importância totalmente inflexível. A edificação da paz exige a conversão dos corações. Portanto, parece-me que é necessário que "as relações confiantes que se desenvolveram entre cristãos e muçulmanos há anos, sejam não só prosseguidas, mas se desenvolvam num espírito de diálogo sincero e respeitador dos valores religiosos que temos em comum e que, com lealdade, respeite as diferenças" (Discurso aos Embaixadores dos países muçulmanos, 25 de Setembro de 2006). Para viver de modo cada vez mais pacífico esta missão específica ao serviço do bem de toda a comunidade nacional, é fundamental que as pessoas e as comunidades tenham publicamente a liberdade de professar a sua fé e de praticar a sua religião. A experiência mostra que a faculdade de agir segundo a consciência iluminada, a capacidade dada de procurar em primeiro lugar a verdade na justiça e a possibilidade de viver em conformidade com a sua crença, no respeito das outras tradições religiosas, são elementos necessários para a consolidação da paz e para o estabelecimento da justiça, condições fundamentais para um desenvolvimento duradouro e fecundo e de uma existência pacífica e digna para os cidadãos.

5. Vossa Excelência, Senhor Embaixador, aprecia a missão específica das comunidades católicas e dos seus bispos, em comunhão com o Sucessor de Pedro, para o restabelecimento da paz, o entendimento entre as nações e a afirmação dos valores espirituais entre os povos. Desejo, por seu intermédio, expressar o meu afecto e a minha proximidade espiritual à Conferência Episcopal e a todos os católicos do Sudão. Através deles, saúdo igualmente a acção de todos os órgãos católicos, nacionais ou internacionais, que trabalham no país ao serviço do progresso integral de todos os habitantes sem distinções. Conheço a sua coragem e partilho os sofrimentos que numerosos anos de conflitos lhes fazem viver. A sua fé convida-os a trabalhar dia após dia com os homens de boa vontade contra todas as formas de intolerância e de exclusão, que podem ter consequências devastadoras para a unidade da sociedade. Não duvido de que a possibilidade de ser consultados e incluídos de modo mais activo na elaboração de soluções viáveis para construir a paz permitir-lhes-á assumir melhor a missão específica no seio do povo sudanês! Graças a Cristo, que é a sua esperança inabalável nas provações que o seu país vive, eles serão, com todos os seus compatriotas, os artífices generosos e audaciosos da paz.

6. No momento em que inicia a sua missão junto da Santa Sé, apresento-lhe os meus melhores votos. Tenha a certeza de que encontrará sempre aqui um acolhimento atento e uma compreensão cordial junto dos meus colaboradores.

Sobre Vossa Excelência, os seus familiares, os responsáveis da Nação e sobre todo o povo sudanês, invoco de todo o coração a abundância das Bênçãos do Altíssimo.


*L'Osservatore Romano n. 23 pp.10, 11.

 

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