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DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
AOS PARTICIPANTES NO CURSO PROMOVIDO
PELA PENITENCIARIA APOSTÓLICA

Sala das Bênçãos, 25 de Março de 2011

 

Prezados amigos

Estou muito feliz por dirigir as minhas cordiais boas-vindas a cada um de vós. Saúdo o Cardeal Fortunato Baldelli, Penitenciário-Mor, e agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu. Saúdo o Regente da Penitenciaria, D. Gianfranco Girotti, os funcionários, os colaboradores e todos os participantes no Curso sobre o Foro Interno, que já se tornou um encontro tradicional e uma importante ocasião para aprofundar os temas relativos ao Sacramento da Penitência.

Desejo meditar convosco sobre um aspecto às vezes não suficientemente considerado, mas de grande relevância espiritual e pastoral: o valor pedagógico da Confissão sacramental. Se é verdade que é sempre necessário salvaguardar a objectividade dos efeitos do Sacramento e a sua correcta celebração, segundo as normas do Rito da Penitência, não é inoportuno ponderar sobre quanto ele pode educar a fé, tanto do ministro como do penitente. A disponibilidade fiel e generosa dos sacerdotes à escuta das confissões, segundo o exemplo dos grandes santos da história, de são João Maria Vianney a são João Bosco, de são José Maria Escrivá a são Pio de Pietrelcina, de são José Cafasso a são Leopoldo Mandić, indica-nos a todos o modo como o confessionário pode ser um «lugar» real de santificação.

De que modo o Sacramento da Penitência educa? Em que sentido a sua celebração tem um valor pedagógico, em primeiro lugar para os ministros? Poderíamos começar a partir do reconhecimento de que a missão sacerdotal constitui um ponto de observação singular e privilegiado do qual, quotidianamente, nos é concedido contemplar o esplendor da Misericórdia divina. Quantas vezes, na celebração do Sacramento da Penitência, o presbítero assiste a verdadeiros milagres de conversão que, renovando o «encontro com um acontecimento, com uma Pessoa» (Carta Encíclica Deus caritas est, 1), fortalecem a sua própria fé. No fundo, confessar significa assistir a tantas «professiones fidei» quantos são os penitentes, e contemplar a obra de Deus misericordioso na história, ver concretamente os efeitos salvíficos da Cruz e da Ressurreição de Cristo, em todos os tempos e para cada homem. Não raro, somos postos diante de verdadeiros dramas existenciais, que não encontram uma resposta nas palavras dos homens, mas são abraçados e assumidos pelo Amor divino, que perdoa e transforma: «Mesmo que os vossos pecados fossem vermelhos como a púrpura, ficariam brancos como a neve!» (Is 1, 18). Conhecer e, de certo modo, visitar o abismo do coração humano, até nos aspectos mais obscuros, se por um lado se põe à prova a humanidade e a fé do próprio sacerdote, por outro, alimenta nele a certeza de que a última palavra sobre o mal do homem e da história é de Deus, é da sua Misericórdia, capaz de renovar todas as coisas (cf. Ap 21, 5). Depois, quanto pode aprender o sacerdote de penitentes exemplares pela sua vida espiritual, pela seriedade com que realizam o exame de consciência, pela transparência no reconhecimento do pecado pessoal e pela docilidade ao ensinamento da Igreja e a às indicações do confessor. Da administração do Sacramento da Penitência podemos receber profundas lições de humildade e de fé! É uma exortação muito forte para cada sacerdote à consciência da própria identidade. Só em virtude da nossa humanidade, não poderíamos ouvir as confissões dos irmãos! Se eles nos procuram, é somente porque somos presbíteros, configurados com Cristo Sumo e Eterno Sacerdote, e tornados capazes de agir no seu Nome e na sua Pessoa, tornar realmente presente Deus que perdoa, renova e transforma. A celebração do Sacramento da Penitência tem um valor pedagógico para o sacerdote, em vista da sua fé, da verdade e da pobreza da sua pessoa, e alimenta nele a consciência da identidade sacramental.

Qual é o valor pedagógico do Sacramento da Penitência para os penitentes? Devemos admitir previamente que ele depende, antes de tudo, da obra da Graça e dos efeitos objectivos do Sacramento da alma do fiel. Certamente, a Reconciliação sacramental é um dos momentos em que a liberdade pessoal e a consciência de si são chamadas a manifestar-se de modo particularmente evidente. Talvez seja também por este motivo que, numa época de relativismo e de uma consciência consequentemente atenuada do próprio ser, se debilitou inclusive a prática sacramental. O exame de consciência tem um importante valor pedagógico: ele educa a considerar com sinceridade a própria existência, a confrontá-la com a verdade do Evangelho e a avaliá-la com parâmetros não apenas humanos, mas conferidos pela Revelação divina. O confronto com os Mandamentos, com as Bem-Aventuranças e, principalmente, com o Preceito do amor, constitui a primeira grande «escola penitencial».

No nosso tempo, caracterizado pelo barulho, pela distracção e pela solidão, o diálogo do penitente com o confessor pode representar uma das poucas, se não a única ocasião para ser escutado verdadeiramente, e em profundidade. Dilectos sacerdotes, não deixeis de reservar o espaço oportuno para o exercício do ministério da Penitência no confessionário: ser acolhido e escutado constitui inclusive um sinal humano do acolhimento e da bondade de Deus em relação aos seus filhos. Além disso, a confissão integral dos pecados educa o penitente para a humildade, o reconhecimento da sua fragilidade pessoal e, ao mesmo tempo, para a consciência da necessidade do perdão de Deus e a confiança de que a Graça divina pode transformar a sua vida. Do mesmo modo, a escuta das admoestações e dos conselhos do confessor é importante para o juízo sobre os actos, para o caminho espiritual e para a cura interior do penitente. Não podemos esquecer quantas conversões e quantas existências realmente santas começaram num confessionário! O acolhimento da penitência e a escuta das palavras «absolvo-te dos teus pecados» representam, enfim, uma autêntica escola de amor e de esperança, que orienta para a plena confiança em Deus Amor, revelado em Jesus Cristo, para a responsabilidade e o compromisso da conversão contínua.

Caros sacerdotes, o facto de sermos nós os primeiros a experimentar a Misericórdia divina e de sermos os seus instrumentos humildes, educa-nos para uma celebração cada vez mais fiel do Sacramento da Penitência e para uma profunda gratidão a Deus, que «nos confiou o ministério da reconciliação» (1 Cor 5, 18). À Bem-Aventurada Virgem Maria, Mater misericordiae e Refugium peccatorum, confio os frutos do vosso Curso sobre o Foro Interno e o ministério de todos os Confessores, enquanto vos abençoo com grande afecto.

 



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