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CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA POR OCASIÃO
DO IV SIMPÓSIO DOS BISPOS EUROPEUS

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Quarta-feira, 10 de Junho de 1979

 

Queridos Irmãos

1. Expresso cordial e sincera alegria pelo nosso encontro. É alegria, sobretudo porque o encontro se realiza no enquadramento do Simpósio sobre o tema: «Os jovens e a fé».

Recordo-me do Simpósio precedente, de 1975, em que tive a felicidade de participar activamente como um dos relatores. Ao mesmo tempo, desejo exprimir a minha alegria por me encontrar hoje convosco, concelebrando a Sagrada Eucaristia. Espero que nesta comunhão, em que se exprime do modo mais pleno e profundo a nossa unidade sacerdotal e episcopal, recebamos maior luz e força do Espírito Santo, vinda de Cristo-Príncipe dos Pastores, que, como único e Eterno Sacerdote, é também única fonte e fundamento desta unidade, que manifestamos e vivemos na concelebração eucarística.

De tal luz e força do Espírito de Cristo temos grande necessidade para todos os encargos que derivam da nossa missão — por exemplo, no âmbito do tema do vosso Simpósio: A juventude. Mas não exclusivamente. O conjunto daqueles encargos e toda a nossa missão exigem certa graça particular para sabermos ir ao encontro, com exacta e plena correspondência, dos sinais dos tempos, que formam o salvífico «kairos» dos europeus e do continente que representamos e ao qual «somos enviados» como sucessores daqueles mensageiros do Evangelho, de quem toma início a história da Europa depois de Cristo.

2. O vosso encontro — e portanto também a nossa concelebração eucarística de hoje — firmam as raízes naquele fausto pensamento do Vaticano II que recorda aos Bispos de toda a Igreja o carácter colegial do ministério por eles exercido. Exactamente de tal pensamento, expresso com a maior precisão doutrinal na Constituição dogmática «Lumen Gentium», tira origem uma série de instituições e iniciativas pastorais, que já hoje testemunham a nova vitalidade da Igreja e certamente no futuro constituirão o fundamento doutro renovamento da sua missão salvífica, na verdade das dimensões e das esferas de acção.

Ao dizê-lo, tenho ainda diante dos olhos a maravilhosa assembleia dos Bispos da América Latina, que tive a felicidade de inaugurar a 28 de Janeiro do corrente ano em Puebla, no México. Tal assembleia era fruto duma sistemática colaboração de todas as Conferências Episcopais daquele imenso continente, em que actualmente habita quase metade dos católicos de todo o globo. São Episcopados de vária importância numérica, alguns muito numerosos, como sobretudo o do Brasil que sozinho conta mais de 500 Bispos. A metódica colaboração de todas as Conferências Episcopais da América Latina tem o seu apoio no Conselho comummente conhecido pelo nome de CELAM, que permite às ditas Conferências relerem juntas os encargos que se apresentam aos Pastores da Igreja naquele grande continente, tão importante para o futuro do mundo.

Já só o título da Conferência realizada em Puebla de 27 de Janeiro a 1 de Fevereiro de 1979 o atesta de modo muito claro. O título era: A evangelização no presente e no futuro da América Latina. Já só do título é fácil concluir quanto aproveitou a Puebla o providencial tema da sessão ordinária do Sínodo dos Bispos de 1974: a evangelização.

3. Em relação com esse tema fundamental, cada Bispo do mundo, como pastor da sua Igreja particular, da sua Diocese, podia e devia considerar a sua Igreja do ponto de vista da sua contemporaneidade. E como a evangelização exprime a missão da Igreja, tal olhar deve ligar-se ao passado e abrir à perspectiva do futuro: ontem, hoje e amanhã. E não só cada Bispo na sua Diocese, mas também as diversas comunidades dos Bispos e sobretudo as Conferências Episcopais Nacionais podem e devem tornar aquele «tema-chave» do Sínodo de 1974, objecto de reflexão acerca da sociedade, perante a qual têm pastoral responsabilidade na obra de evangelização. O tema proposto por Paulo VI para o Sínodo, há cinco anos, possui múltiplas possibilidades de aplicação em vários âmbitos.

Ao mesmo tempo, este tema leva a reflectir, de modo fundamental, tratando-se de aplicar o próprio Concílio e de pôr em vigor a sua doutrina. A basilar realização do Vaticano II não é senão o novo sentido de responsabilidade pelo Evangelho, pela Palavra, pelo Sacramento e pela obra da salvação, de que todo o Povo de Deus se deve encarregar do modo que a ele se adapta.

É encargo dos Bispos dirigir este grande processo. Nisto está a dignidade e a responsabilidade pastoral deles.

4. É de grande peso e fundamental importância reflectir sobre o problema da evangelização quanto ao continente europeu. Considero-o tema complexo, extremamente complexo. Como aliás para qualquer outro contexto, é necessário fazer resultar da análise da situação presente a visão do futuro, enquanto tal situação é consequência do passado, tão antigo como a mesma Igreja e todo o cristianismo. Na análise deveríamos atingir cada país, cada nação do nosso continente, mas também compreender cada uma das situações, tendo diante dos olhos as grandes correntes da história que — especialmente no segundo milénio — dividiram a Igreja e o cristianismo no continente europeu.

Penso que actualmente, em tempo de ecumenismo, é a hora de encarar estas questões à luz dos critérios elaborados pelo Concílio: encará-las em espírito de colaboração fraterna com os representantes das Igrejas e comunidades com que não temos unidade perfeita; e, ao mesmo tempo, é necessário encará-las em espírito de responsabilidade quanto ao Evangelho. Isto não só no nosso continente, mas também fora. A Europa é ainda o berço do pensamento criador, das iniciativas pastorais e das estruturas organizativas, cujo influxo ultrapassa as suas fronteiras. Ao mesmo tempo a Europa, com o seu grandioso passado missionário; pergunta-se a si mesma nos vários pontos da sua «geografia eclesial» e pergunta se não está para tornar-se um continente missionário.

Existe pois para a Europa o problema que na «Evangelii nuntiandi» foi definido como «auto-evangelização». A Igreja deve sempre evangelizar-se a si mesma. A Europa católica e cristã precisa de tal evangelização. Deve evangelizar-se a si mesma. Talvez em nenhum outro lugar como no nosso continente se delineiem com tanta limpidez as correntes da negação da religião, as correntes da «morte de Deus», da secularização programada e do organizado ateísmo militante. O Sínodo de 1974 forneceu-nos não pouco material a este propósito.

É possível examinar tudo isto segundo critérios histórico-sociais. O Concílio indicou-nos porém outro critério: o critério dos «sinais dos tempos», isto é, dum especial desafio da Providência, d'Aquele que é o dono da messe (Lc. 10, 2).

No ano que vem, celebraremos os 1500 anos do nascimento de São Bento, que Paulo VI proclamou Padroeiro da Europa. Talvez pudesse ser este o momento idóneo para tal reflexão aprofundada sobre o problema do «ontem e do hoje» da evangelização do nosso continente ou antes para a reflexão sobre este desafio da Providência, que — no seu complexo histórico, rico e variado — constitui o «hoje» cristão da Europa quanto à sua responsabilidade pelo Evangelho; e também na perspectiva do futuro.

A nossa missão está sempre em toda a parte virada para o futuro. Tanto para o futuro, de que estamos certos na fé: o futuro escatológico; como para o futuro, de que podemos estar humanamente incertos. Pensamos naqueles que foram os primeiros a vir ao continente europeu como anunciadores da Boa Nova, como Pedro e Paulo. Pensamos naqueles que, através da história da Europa, aplanaram os caminhos para novos povos, como Agostinho ou Bonifácio ou os irmãos de Tessalónica: Cirilo e Metódio. Também eles não estavam certos do futuro humano da sua missão e mesmo da própria sorte. Mais poderosa contudo que esta humana incerteza foi a fé e a esperança. Mais poderoso foi o amor de Cristo que os «constrangia» (Cfr. 2 Cor. 5, 14). Em tal fé, esperança e caridade, manifestou-se o Espírito activo. É necessário que também nós nos tomemos instrumentos dóceis e eficazes da sua acção na nossa época.

6. O tema do vosso Simpósio é: «Os jovens e a fé».

Bom é que o seja. Julgo que ele está orgânica e profundamente inscrito no grande tema de reflexão de toda a Igreja pós-conciliar, que não poderá afastar-se muito tempo da nossa atenção, o tema da evangelização. Se pensamos na evangelização em função do futuro, é necessário virarmos os nossos espíritos para os jovens: devemos encontrar-nos com as inteligências, os corações e os caracteres dos jovens. Este é o problema escolhido, por meio do qual chegamos ao problema global.

A troca das vossas experiências e sugestões deve ser ampla, não pode ficar sendo só «particular». Todo o exercício de colegialidade serve a causa da universalidade da Igreja. Também vós, caros Irmãos, por meio deste exercício da colaboração colegial que forma o vosso Simpósio, deveis, por assim dizer, «ampliar os espaços do amor» (SANTO AGOSTINHO de Ep. Joan ad Parthos, X, 5; PL XXXV, 2060). Tal ampliação não afasta nunca da responsabilidade confiada directamente a cada um de nós, torna-a até mais aguda. É necessário que os Bispos e as Conferências Episcopais, de cada país e nação da Europa, vivam os interesses de todos os países e nações do nosso continente. E aqueles que entre vós estão ausentes, estejam — diria — presentes ainda com maior intensidade. É necessário elaborar métodos especiais, eficazes, para «tornar intensamente presentes» aqueles que estão «ausentes». A sua ausência não pode ser passada em silêncio ou ser justificada com lugares comuns.

Recordai-vos que, do mesmo modo que tomam parte neste Simpósio, por meio dos seus representantes, todas as Conferências Episcopais da Europa, assim também à roda deste altar estão — na eucaristia comunhão de amor, sacrifício e oração — todos os Episcopados, todos os Bispos. E em certo modo estão mais presentes aqueles que faltam, aqueles que não puderam estar aqui presentes.

Por meio de todos, a Igreja, como Povo de Deus de todo o nosso continente, «elabora» — na união com Cristo-Príncipe dos Pastores, com Cristo-Eterno Sacerdote —o seu futuro cristão.

Amen.

 

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