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SANTA MISSA COM ORDENAÇÃO SACERDOTAL

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Basílica de São Pedro
Domingo, 12 de Junho de 1983

 

"Cantarei, eternamente, as graças do Senhor!" (Sl. 88/89, 2).

1. Dirijo-me, de modo totalmente especial a vós, caríssimos Irmãos, que daqui a alguns momentos Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, mediante a imposição das mãos, tornará participantes do seu Sacerdócio ministerial, para a eternidade! Brota portanto espontânea do meu e do vosso coração a alegre aclamação do Salmista: "Cantarei, eternamente, as graças do Senhor!". Eu, Bispo de Roma, sucessor de Pedro e Pastor da Igreja Universal, elevo o meu canto de júbilo porque tenho a graça de ser o mediador de um dom admirável, que Deus faz à sua Igreja; vós exultais porque estais para receber o carisma do "presbiterado", para o qual vos preparastes a longo depois de terdes generosamente acolhido o chamamento de Jesus a segui-lo, confirmado pelos vossos Bispos!

É um dia, este, de graça e de alegria para mim, para vós, para as Igrejas particulares espalhadas em todo o mundo, das quais provindes; para toda a Igreja, que vê em vós garantida, na "história da salvação", a obra misteriosa e fecunda da sua Cabeça e Esposo.

"Os Sacerdotes, pela sagrada ordenação e pela missão que receberam das mãos do Bispo, são promovidos a servir a Cristo, Mestre, Sacerdote e Rei, de cujo ministério participam, e pelo qual a Igreja, neste mundo, se constitui continuamente em Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do Espírito Santo" (Presbyterorum Ordinis, 1) — assim sintetizou o Concílio Vaticano II a identidade espiritual dos sacerdotes.

2. Analogamente ao carisma que Deus deu aos seus profetas, o presbiterado é uma "missão". É uma opção gratuita da parte de Deus, de que o homem não pode ser nunca adequadamente digno. O profeta Jeremias, chamado pelo Senhor, declara a própria incapacidade, a própria imaturidade — "Não sei falar, porque sou ainda uma criança" — e apesar disso o Senhor responde-lhe: "Não digas: Sou ainda uma criança — porquanto irás aonde Eu te enviar, e dirás o que Eu te mandar" (Jer. 1, 6s.).

É Deus que vos manda, é a Igreja que vos manda! Por isto devereis ser — no lugar, no cargo, na função que vos serão dispostos pela Providência divina mediante os legítimos Superiores — anunciadores, isto é, proclamadores do Evangelho "o qual é poder de Deus para salvação de todo o crente" (Rom. 1,16). Será portanto uma grave responsabilidade anunciar e proclamar, com as palavras e com a vida, não vós mesmos, mas Cristo, e Cristo crucificado e ressuscitado (cf. 1 Cor. 1, 23; 2, 2; 2 Tim. 2, 8).

O homem contemporâneo, não obstante os desvios filosóficos e ideológicos deste tempo, conserva uma devoradora exigência de verdade, de justiça, de bondade, de paz. De vós espera-se que pregueis a Cristo, "caminho, verdade e vida" (cf. Jo. 14, 6).

E isto exige empenho continuo, vigilância constante, delicado sentido do dever, fidelidade alegre ao compromisso do celibato "por amor do Reino", serena disponibilidade a estar "com Cristo" através do sacrifício, do sofrimento, do renegamento, da cruz.

3. Neste contexto adquirem pleno significado as afirmações da Epistola aos Hebreus que escutámos. O sacerdote "escolhido de entre os homens é constituído a favor dos homens, nas coisas concernentes a Deus..." (Heb. 5, 1). O Autor inspirado salienta a comunhão de natureza do sacerdote com os outros homens; acentua a finalização comunitária da sua função e da sua missão: ele é um "ser-para-os-outros"; deve, por conseguinte, dar-se completamente pelos irmãos; mas tudo isto numa essencial e fundamental perspectiva espiritual e sobrenatural: isto deve realizar-se no âmbito do "religioso". A vossa será portanto uma vida não de recusa ou de evasão do "mundo" dos homens, mas de sincera e serena encarnação na história deles, para os fazer viver na e da dimensão religiosa, que é insuprimível da existência humana.

O Sacerdócio configura-vos com Cristo, "sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedec"; Ele "apesar de filho de Deus, aprendeu a obedecer, sofrendo, e, uma vez atingida a perfeição, tornou-Se para todos os que Lhe obedecem fonte de salvação eterna" (Heb. 5, 8 s.). Participando-vos o seu eterno Sacerdócio, Cristo constituir-vos-á Ministros dos Sacramentos, em particular da Eucaristia e da Reconciliação: confiar-vos-á totalmente o Seu Corpo e o Seu Sangue nos sinais sacramentais, para que mediante o vosso ministério, a sua Carne seja oferecida pela vida do mundo (cf. Jo. 6, 52); além disso confiar-vos-á o seu divino poder de perdão, para que façais ouvir a palavra da Reconciliação aos irmãos e às irmãs necessitados de misericórdia e de paz interior.

"Cantarei, eternamente, as graças do Senhor!"

Sim, meus irmãos, a vossa vida sacerdotal — realizada cada dia na oração, no zelo, na dedicação às almas, aos pobres, aos pequeninos, aos enfermos, aos pecadores — seja sempre um hino de agradecimento a Deus pela sua infinita liberalidade! A graça do Sacerdócio transformar-vos-á em "amigos" de Jesus: "Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; chamei-vos amigos, porque tudo quanto ouvi de Meu Pai vo-lo dei a conhecer. Não fostes vós que Me escolhestes, fui Eu que vos escolhi e vos nomeei para irdes e dardes fruto" (Jo. 15, 15 s.).

Exactamente no Cenáculo — escrevi na minha Carta aos Sacerdotes por ocasião da Quinta-Feira Santa deste Ano Jubilar da Redenção — "foram proferidas estas palavras, no contexto imediato da instituição da Eucaristia e do Sacerdócio ministerial. Cristo deu a conhecer aos Apóstolos, e a todos aqueles que viriam a herdar o Sacerdócio ordenado, que nesta vocação e por este ministério devem tornar-se seus amigos — devem tornar-se amigos daquele mistério que Ele veio realizar" (n. 2).

Caríssimos! Durante os anos do meu serviço episcopal, um dos momentos de alegria mais intensa e de não menos trepidação era aquele em que, mediante a imposição das mãos, ordenava novos Presbíteros para a Comunidade eclesial! Igual alegria e igual trepidação experimento hoje, nesta solene Ordenação, que se realiza sobre o sepulcro de Pedro, durante o Jubileu da Redenção. Vós sereis os sacerdotes do 1950° aniversário da Redenção! Se para todos os crentes tal acontecimento significa um premente convite a meditarem sobre a própria vida e sobre a própria vocação cristã à luz do mistério da Redenção, tal convite é dirigido de maneira totalmente especial a quantos são ou serão — como vós daqui a alguns instantes — "ministros de Cristo e administradores dos mistérios de Deus" (cf. 1 Cor. 4, 1).

No início do meu ministério de Pastor Supremo da Igreja universal confiei todos os Sacerdotes à Mãe de Cristo, a qual de modo particular é a nossa Mãe: a Mãe dos Sacerdotes. A Ela confio hoje, dia solene da vossa Ordenação sacerdotal, o vosso Sacerdócio, cada um de vós, a vossa juventude, o vosso entusiasmo, a vossa generosidade e os vossos propósitos!

Seja Maria Santíssima a estrela radiosa do vosso caminho sacerdotal!

Assim seja!

 

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