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CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II
POR OCASIÃO DO ENCERRAMENTO
DO I CONGRESSO EUCARÍSTICO
DA DIOCESE DE SETÚBAL (PORTUGAL)

 

Ao Venerado Irmão D. Gilberto Délio GONÇALVES CANAVARRO DOS REIS
Bispo de Setúbal

Com grande alegria tomei conhecimento da realização do I Congresso Eucarístico Diocesano, dedicado a "Jesus Cristo, Pão vivo descido do Céu", com o seu ponto culminante na Solenidade do Corpo de Deus, dia 19 de Junho de 2003. Nesta significativa circunstância, uno-me de bom grado à assembleia eucarística congregada em Setúbal e a todos envio a minha saudação cordial, recordando a cada um estas palavras de Jesus: "Preciso de ficar em tua casa".

Um dia passava Ele por Jericó e pediu hospedagem a um homem que muito queria vê-lo, não hesitando este em subir a uma árvore para o conseguir: "Zaqueu disse-lhe o Senhor desce depressa, pois hoje preciso de ficar em tua casa". Narra a Sagrada Escritura que "ele desceu imediatamente e recebeu-O cheio de alegria" (cf. Lc 19, 1-6). A quantos, irmanados no mesmo desejo de Zaqueu, estão congregados aí, em Setúbal, encorajo a "reconhecê-Lo onde quer que Ele se manifeste, com as suas diversas presenças, mas sobretudo no sacramento vivo do seu Corpo e do seu Sangue", que é "o rosto eucarístico de Jesus" (Carta Enc. Ecclesia de Eucharistia, 6-7). Os sentidos não O alcançam, somente os olhos da fé. Fixai-O bem! É o Filho de Deus, "o Pão vivo que desceu do Céu" (Jo 6, 51)! Tendes diante de vós o maior dos prodígios: Deus, que sob as espécies do Pão e do Vinho Se torna alimento para saciar o mundo inteiro.

Foi "por nós, homens, e para nossa salvação" que "desceu dos Céus" (Credo). Não te admires, pois, se Jesus não tem onde reclinar a cabeça: desceu dos céus! Nem penses que é impossível Ele parar junto de ti, pedindo "preciso de ficar em tua casa": foi por ti e para a tua salvação que Ele desceu dos Céus! Para Ele, tu és único; consegue identificar-te no meio duma multidão. E, se és único para Jesus, por que hás-de esconder-te atrás da multidão? Quando falhas ao encontro com Ele deixando de rezar, ou quando não sais a recebê-Lo na Missa do domingo... nunca te desculpes: "Os outros também não vão!" É uma ofensa ao amor, porque Ele veio para ti. O amor não tolera as distâncias e suporta mal as ausências: por isso Jesus inventou a Eucaristia, onde a sua proximidade a cada um de nós excede toda a imaginação possível.

"Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo" (Ap 3, 20). Abre o coração a Cristo! Não faltes ao banquete eucarístico! É obrigação dos fiéis cristãos "participar na divina Liturgia nos domingos e dias de festa e de receber a Eucaristia ao menos uma vez em cada ano, se possível no tempo pascal, preparados pelo sacramento da Reconciliação. Mas [a Igreja] recomenda-lhes vivamente que recebam a santa Eucaristia aos domingos e dias de festa, ou ainda mais vezes, mesmo todos os dias" (Catecismo da Igreja Católica, 1389). Imita Zaqueu, que "O recebeu cheio de alegria"!

Para participar digna e plenamente no banquete eucarístico recebendo a sagrada comunhão, é indispensável vestir o "traje de festa" (Mt 22, 11). Este adquire-se no sacramento da Reconciliação, que é o abraço misericordioso do Pai celeste que nos perdoa e reveste com a graça, "a mais bela túnica" (cf. Lc 15, 20-22). Isto é fonte de verdadeira paz e de alegria interior, que permite sentarmo-nos como filhos e irmãos reconciliados em redor da mesa da Eucaristia.

Se "participar na Missa é uma obrigação dos fiéis, a não ser que tenham um impedimento grave", ao Bispo com os seus sacerdotes "impõe-se o correlativo dever de oferecerem a todos a possibilidade efectiva de cumprirem o preceito" (Carta Enc. Ecclesia de Eucharistia, 41).

Desculpas e impedimentos não podem fazer esquecer nem cancelar a dolorosa situação duma comunidade cristã ou mesmo dum simples fiel que definha e morre à míngua do Pão da vida. "Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós" (Jo 6, 53). Igreja bem-amada de Setúbal, provê com confiança ao Pão dos teus filhos!

O Congresso Eucarístico constitui um válido estímulo para descobrir a Eucaristia como dom que plasma a vida dos crentes e das comunidades eclesiais, orientando cada um para aquele espírito de solidariedade e partilha indispensável para a edificação da civilização do amor. Sob a acção do Espírito Santo, a Mesa sagrada torna-se escola de caridade, de justiça e de paz. Os crentes que nela participam, sabem que não podem ser felizes sozinhos, pois os dons recebidos do Alto são para o bem de todos; e assim brotam iniciativas que aliviam a fome de quem não tem alimento, oferecem acolhimento respeitoso e cordial a imigrantes e estrangeiros que, por necessidade, tiveram de deixar o próprio país, dão conforto a quem vive na solidão ou atingido por doença, sustentam a obra dos missionários empenhados nas fronteiras da evangelização e da promoção humana.

Esperando em Deus que este acontecimento eclesial constitua um momento privilegiado de evangelização e traga a essa diocese abundantes frutos de renovação espiritual e social, confio este momento alto da vida diocesana à intercessão de Maria Santíssima e de todos os Santos protectores da vossa terra. Com estes sentimentos, envio aos participantes no Congresso Eucarístico com o Senhor D. Gilberto, sacerdotes e diáconos, consagrados e consagradas, leigos empenhados em actividades pastorais e sociais e todos os que fazem parte da amada Igreja de Setúbal, uma propiciadora Bênção Apostólica.

Vaticano, 31 de Maio de 2003.

PAPA JOÃO PAULO II

 

 

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