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XVI DIA MUNDIAL DAS VOCAÇÕES

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II

6 de Janeiro de 1979

ORAR, CHAMAR, RESPONDER:
AS TRÊS PALAVRAS DE ORDEM DA VOCAÇÃO

 

Caríssimos Irmãos no Episcopado,
caríssimos Filhos e Filhas de todo o mundo:

É a primeira vez que o novo Papa a vós se dirige, por ocasião da celebração do Dia Mundial de Oração pelas Vocações.

Antes de mais nada a minha e a vossa recordação afectuosa, cheia de reconhecimento, vá para o saudoso Papa Paulo VI. Reconhecimento, porque foi ele que durante o Concílio instituiu este Dia de Oração por todas as vocações de especial consagração a Deus e à Igreja. Reconhecimento, porque cada ano, durante quinze anos, ele iluminou este Dia com a sua palavra de Mestre e nos encorajou com o seu coração de Pastor.

Seguindo o seu exemplo, a vós me dirijo hoje, neste décimo sexto Dia Mundial, para vos transmitir e confiar algumas coisas que me estão muito a peito, como que três palavras de ordem: orarchamarresponder.

1. Primeiro do que tudo, orar. É certamente grande a finalidade pela qual devemos orar, uma vez que o próprio Cristo nos mandou fazê-lo: Rogai, pois, ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe (Mt. 9, 38). Que este Dia seja um testemunho público de fé e de obediência à ordem do Senhor. Celebrai-o, pois, nas vossas Catedrais: o Bispo juntamente o clero, os religiosos, as religiosas, os missionários, os aspirantes ao sacerdócio e à vida consagrada, o povo e os jovens, muitos jovens. Celebrai-o nas paróquias, nas comunidades, nos santuários, nos colégios e nos locais onde se encontram pessoas que sofrem. Que se eleve de todas as partes do mundo esta instância ao céu, para pedir ao Pai aquilo que Cristo quis que nós impetrássemos.

Que este Dia seja, depois, um dia cheio de esperança. Que ele nos leve a encontrar-nos reunidos, como num cenáculo universal, assíduos e concordes na oração ... com Maria, a Mãe de Jesus (Act. 1, 14), na expectativa confiante dos dons do Espírito Santo. Com efeito, sobre o altar do sacrifício eucarístico em torno do qual nos congregamos a orar, está o mesmo Cristo que ora connosco e por nós e nos garante que obteremos aquilo que pedimos: Se dois de vós sobre a terra concordarem acerca de qualquer coisa que tiverem a pedir, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus. Porque onde estão dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles (Mt. 18, 19-20). E nós somos muitos, reunidos em seu nome, e pedimos somente aquilo que Ele quer. Perante a sua solene promessa, como é possível orar senão com a alma inundada de esperança?

E que este Dia, enfim, seja um momento forte de irradiação espiritual. Que a nossa oração se difunda e seja continuada nas igrejas, nas comunidades, nas famílias, nos corações crentes, como num mosteiro invisível, do qual suba ao Senhor uma invocação perene.

2. Chamar. Quereria dirigir-me agora a vós, Irmãos no Episcopado, aos vossos cooperadores no Sacerdócio, para vos confortar e encorajar no ministério que já estais louvavelmente a realizar. Sejamos fiéis ao Concílio que exortou os Bispos a «promoverem o mais possível as vocações sacerdotais e religiosas, e de modo particular as missionárias» (Decr. Christus Dominus, 15).

Cristo, que mandou orar pelos trabalhadores da messe, também os chamou, Ele pessoalmente. As suas palavras de chamamento estão conservadas no tesouro do Evangelho: Segui-me, e far-vos-ei pescadores de homens (Mt. 4, 19). Vem e segue-me (Mt. 19, 21). Quem quiser pôr-se ao meu serviço, que me siga (Jo. 12, 26). Estas palavras de chamamento estão confiadas ao nosso ministério apostólico e nós deve-mos empenhar-nos em fazer ouvi-las, como às demais palavras do Evangelho, até às extremidades da terra (Act. 1, 8). E vontade de Cristo que as façamos ouvir. O Povo de Deus tem o direito de as ouvir de nós.

Os admiráveis programas pastorais de cada uma das Igrejas, as Obras das vocações que, segundo o Concílio, devem dispor e promover toda a actividade pastoral em prol das vocações (Cfr. Decr. Optatam totius, 2), abrem o caminho e preparam o bom terreno para a graça do Senhor. Deus é sempre livre para chamar quem quer e quando quer, segundo a extraordinária riqueza da sua graça, mediante a bondade que teve pára connosco em Cristo Jesus (Ef. 2, 7). Mas ordinariamente Ele chama por meio das nossas pessoas e das nossas palavras. Por conseguinte, não tenhais receio de chamar. Descei para o meio dos vossos jovens. Ide pessoalmente ao encontro deles e chamai. Os corações de muitos jovens, e de menos jovens também, estão predispostos para vos ouvir. Muitos deles buscam um objectivo pelo qual possam viver; encontram-se na expectativa de descobrir uma missão que tenha valor, para a ela consagrar a vida. E Cristo sintonizou-os com o seu e com o vosso apelo. Nós devemos chamar. O resto fá-lo-á o Senhor, que oferece a cada um o seu dom particular, consoante a graça que lhe foi concedida (Cfr. 1 Cor. 7, 7; Rom. 12, 6).

Realizemos este ministério com largueza de coração. Saiba-mos abrir os nossos ânimos, como é desejo do Concílio, para «além dos limites de cada diocese, nação, família religiosa ou rito, e, olhando para as necessidades da Igreja universal, preste-mos ajuda principalmente àquelas regiões que reclamam com mais instância obreiros para a vinha do Senhor» (Decr. Optatam totius, 2). Isto mesmo que acabamos de dizer aos Bispos e aos seus cooperadores na ordem sacerdotal, quereríamos dizê-lo também às Superioras e aos Superiores Religiosos, aos Directores de Institutos Seculares, aos responsáveis pela vida missionária, a fim de que cada um desempenhe a sua parte, conforme as próprias responsabilidades, em ordem ao bem geral da Igreja.

3. Responder. Aqui dirijo-me de modo particular a vós, jovens. Melhor dito, desejaria falar convosco, com cada um de vós. Sois para Mim muito queridos e eu tenho grande confiança em vós. Chamei-vos esperança da Igreja e minha esperança.

Recordemos juntos algumas coisas. No tesouro do Evangelho estão conservadas as belas respostas dadas ao Senhor que chamava. Está a resposta de Pedro e de André seu irmão: E eles imediatamente, deixadas as redes, seguiram-n'O (Mt. 4, 20); a do publicano Levi: E ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu-O (Lc. 5, 28); a dos Apóstolos em conjunto: Para quem iremos nós, Senhor? Tu tens as palavras de vida eterna (Jo. 6, 68); e, ainda, a de Saulo: Que hei-de fazer, Senhor? (Act. 22, 10). Desde os tempos do primeiro anúncio do Evangelho até aos nossos dias um grandíssimo número de homens e mulheres deram a sua resposta pessoal, a sua livre e consciente resposta a Cristo que os chamava. E escolheram o sacerdócio, a vida religiosa, a vida missionária, como escolha e ideal da existência. Serviram e servem o Povo de Deus e a humanidade, com fé, com inteligência, com coragem e com amor. Agora, é a vossa hora. Toca a vós responder. Tendes talvez medo?

Então raciocinemos ainda juntos, à luz da fé. A nossa vida é dom de Deus. Devemos fazer com ela alguma coisa de bom. Há muitas maneiras para empregar bem a vida, aplicando-a ao serviço de ideais humanos e cristãos. Se eu hoje vos falo de consagração total a Deus no sacerdócio, na vida religiosa e na vida missionária, é porque Cristo chama muitos de entre vós a esta extraordinária aventura. Ele tem necessidade, quer ter necessidade, das vossas pessoas, da vossa inteligência, das vossas energias, da vossa fé, do vosso amor e da vossa santidade, Se é para o sacerdócio que Cristo vos chama, é porque ele quer exercer o seu sacerdócio através da vossa consagração e missão sacerdotal; quer falar aos homens de hoje com a vossa voz; quer consagrar a Eucaristia e perdoar os pecados por meio de vós. Ele quer amar com o vosso coração; quer ajudar com as vossas mãos; e quer salvar com os vossos esforços. Pensai bem nisto. A resposta que muitos de vós podem dar é dirigida pessoalmente a Cristo, que vos chama para estas coisas grandes.

Encontrareis dificuldades. Pensais porventura que eu as não conheço? Digo-vos que o amor vence todas as dificuldades. A verdadeira resposta a toda a vocação é obra do amor. A resposta à vocação sacerdotal, religiosa ou missionária poderá brotar somente de um profundo amor a Cristo. E esta força de amor Ele mesmo vo-la oferece, como dom que se vem ajuntar ao dom do seu chamamento e torna possível a vossa resposta. Tende confiança n'Aquele que, pelo poder, já tão eficaz em nós, é capaz de fazer, acima de todas as coisas, imensamente mais do que possamos pedir ou imaginar  (Ef. 3, 20). E, se podeis, dai com alegria, sem medo, a vossa vida Àquele que, primeiro, deu a vida por vós.

Para tanto, exorto-vos a rezardes assim:

«Senhor Jesus, que chamaste quem Tu quiseste, chama muitos de nós para trabalhar para Ti, para trabalhar contigo.
Tu, que iluminaste com a Tua palavra aqueles que chamaste, ilumina-nos com o dom da fé em Ti.
Tu, que os amparaste nas dificuldades, ajuda-nos a vencer as nossas dificuldades de jovens de hoje.
E se chamas algum de nós, para o consagrar totalmente a Ti, que o Teu amor anime essa vocação desde o seu germinar e a faça crescer e perseverar até ao fim. Assim seja!».

Ao mesmo tempo que confio estes votos e esta oração à poderosa intercessão de Maria Santíssima, Rainha dos Apóstolos, com a esperança de que os chamados saibam discernir e seguir generosamente a voz do divino Mestre, invoco sobre vós, caríssimos Irmãos no Episcopado, e sobre vós dilectíssimos Filhos e Filhas da Igreja inteira, os dons de paz e de serenidade do Redentor e dou-vos de todo o coração a propiciadora Bênção Apostólica.

Vaticano, aos seis dias de Janeiro, Solenidade da Epifania do Senhor, do ano de 1979, primeiro de Pontificado.

 

JOÃO PAULO II

 



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