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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS PARTICIPANTES NO XXII CAPÍTULO GERAL
 DOS MISSIONÁRIOS DE ÁFRICA
(PADRES BRANCOS)

Segunda-feira, 15 de Dezembro de 1980

 

1. Profundamente satisfeito por vos acolher no fim do vigésimo segundo Capítulo Geral da vossa Sociedade, dirijo uma saudação do fundo da alma a cada um de vós e aos 3.500 Padres e Irmãos que representais. Permiti-me que saúde especialmente o caro Padre Jean-Marie Vaseur que acaba de terminar o seu mandato como Superior-Geral, e que apresente ao seu sucessor, o Padre Robert Gay, que terminastes de eleger, os meus votos ardentes de frutoso serviço à vossa família missionária.

Se o grande cardeal Lavigerie, que vos fundou em 1878, pudesse voltar ao meio de vós, parece-me que vos repetiria com o mesmo ardor evangélico: «Sede apóstolos, e nada mais...». Esta recomendação, breve e contundente, é sempre de actualidade. Em nome da Igreja e fazendo-me eco do vosso fundador, digo-vos muito alto: «Sede apóstolos, e nada mais...». Foi aliás nesta perspectiva que o vosso Capítulo trabalhou. Os vossos espíritos e os vossos corações dão maior entrada às convicções do Cardeal, que desejava apóstolos de coração ardente e profundamente enraizados na vida espiritual. Sei, a respeito deste último ponto, do esforço realizado nos últimos seis anos pelo Conselho Geral. Empenhou-se em favorecer os exercícios inacianos e as sessões bíblicas mesmo em Jerusalém, para onde Lavigerie enviara os Padres Brancos em serviço das Igrejas do Próximo Oriente, onde os vossos irmãos trabalham com perspectiva ecuménica. Estes esforços refontalizadores dão e darão mais ainda às vossas comunidades dinamismo e transparência evangélica. A Igreja tanto necessita de apóstolos infatigáveis e habitados por Jesus Cristo!

2. Desde a fundação, é a vossa Sociedade um Instituto missionário; contribui com outros para a grande obra da evangelização dos povos que é «a missão essencial da Igreja» (Evangelii Nuntiandi, 14). Podemos imaginar qual seria a felicidade do Cardeal Lavigerie, se tivesse conhecido os seus estudos e as experiências missionárias da nossa época, e também os documentos eclesiásticos que daí derivam, ao mesmo tempo como frutos saborosos e normas indispensáveis. Citemos apenas a Exortação Evangelii Nuntiandi que recorda precisamente que a evangelização é a vocação própria da Igreja (n. 14) e que «evangelizar, para a Igreja, é levar a Boa Nova a todos os meios da humanidade e, pelo seu influxo, transformar a partir de dentro, tornar nova a humanidade mesma...» (ib., 18). Oxalá esta Exortação continue a ser para vós carta e luz no vosso caminho. A vossa tarefa particular foi e permanece a evangelização do mundo Africano. Por este motivo, a vossa Sociedade sempre atribuiu atenção particular aos crentes do Islão. A Igreja alegra-se com isso e anima-vos a continuardes as tarefas que desempenhais com ciência ao serviço do mundo muçulmano; tarefas de diálogo e de testemunho, que serão tão importantes nos anos vindouros. Foi exactamente com este fim de todo pastoral que a Santa Sé vos confiou o «Pontíficio Instituto de Estudos Árabes», para permitir aos clérigos e aos leigos aperfeiçoarem-se na língua e na literatura árabe, assim como no conhecimento da religião islâmica e das suas instituições. A epopeia africana dos Padres Brancos é um facto. Importa relê-la, com grande compreensão das circunstâncias, que a viram nascer e desenvolver-se, e com respeito e reconhecimento para com os vossos predecessores. Eu mesmo, durante a minha viagem pastoral pela Africa, insisti em recolher-me ao lado do túmulo de antigos missionários em Kisangani no Zaire. As gerações de Padres Brancos que se deram de corpo e alma ao anúncio do Evangelho na África, estavam bem presentes nos meus passos e na minha oração. Permiti-me acrescentar ainda que, por todo este trabalho realizado durante mais de um século, a Igreja vos exprime publicamente as suas vivas felicitações e o seu reconhecimento.

3. Mas a vossa tarefa não está terminada. Precisamente, durante este vigésimo segundo Capítulo Geral, vós todos juntos dirigistes um olhar muito atento para as necessidades actuais e urgentes mesmo do continente africano, que afirma cada vez mais a sua identidade cultural e o seu desejo de crescimento no plano sócio-económico. Não podereis fazer o vosso trabalho de evangelizadores furtando-vos ao diálogo com os outros crentes, mas sim tomando em conta as necessidades, por vezes clamorosas, do desenvolvimento africano (cf. Evangelii Nuntiandi 21 ss.). Mas a vossa responsabilidade mantém-se, do mesmo modo, grande a respeito das Igrejas locais, que não têm ainda sacerdotes e animadores em número suficiente. Quantos Bispos dirigem A sé Apostólica de Roma apelos urgentes e comovedores. Mantende-vos ao lado destas jovens Igrejas e encontrai cada vez mais o vosso estilo de co-responsabilidade junto delas. Continuareis também a colaborar na acção exercida pelas dioceses da Europa — verifiquei isto durante as minhas visitas pastorais à. França e à Alemanha — em favor dos trabalhadores e dos estudantes africanos que vêm por algum tempo a este continente. Este olhar prolongado dirigido ao vosso campo de apostolado fez nascer, durante as semanas de estudo e oração do vosso Capítulo, um «projecto apostólico comum». Ides agora aplicá-lo com a seriedade e o dinamismo que vos caracterizam. Mas para preparar o futuro com realismo, esforçar-vos-eis evidentemente por formar evangelizadores. Desde sempre, se fixou a vossa Sociedade o objectivo de preparar as Igrejas locais da Africa a serem missionárias por sua vez. Vós ajudaste-las muito a tornarem-se autenticamente africanas, formando — pela vossa parte — um número impressionante dos seus sacerdotes e dos seus Bispos. Mas existem também africanos que desejam levar a Boa Nova a outros países diferentes dos próprios. Alguns até, hoje como ontem, desejam ser membros da vossa Sociedade Missionária. E uma boa sorte para o apostolado. Estes sacerdotes e estes irmãos africanos herdarão a vossa tradição missionária e poderão viver em comunidades que se tornarão cada vez mais inter-raciais ao mesmo tempo que internacionais.

4. Sois homens da Igreja, missionários e apóstolos. Nisto está a vossa identidade própria e a fonte da vossa alegria. Desejava ainda sublinhar que vós quisestes sempre, desde as origens da vossa Sociedade, viver a vossa vocação em comunidades que testemunham que os preconceitos de raça, de classe, de nação e de cultura podem ser ultrapassados em favor do Reino de Deus. E a partir disto que viveis a vossa consagração à Missão. É a partir disto que vós quereis continuar pelos caminhos de uma vida espiritual profunda em que os valores de pobreza, castidade e obediência reencontram todo o seu sentido, quer sejais padres quer irmãos. Manter e construir tais comunidades de Padres Brancos é objectivo prioritário da vossa Sociedade para os anos vindouros. Isto alegra profundamente o Papa, que vos anima de todo o coração. A Igreja e o mundo de hoje têm absolutamente necessidade destas comunidades em que a partilha e a comunhão não sejam só palavras, mas realidades vividas no dia-a-dia, com humildade e entusiasmo. E acaso necessário acrescentar que tais fraternidades serão, já só elas, apelos para os jovens e mesmo para adultos de todos os países, a fim de se inserirem nas vossas fileiras e virem a render as forças? Estou persuadido que o projecto, de colocarem a própria existência completa ao serviço exclusivo do Reino, é capaz de seduzir o coração dos jovens, hoje como ontem, e de os levar até à Africa para o trabalho de cooperação com as «Igrejas Irmãs», como gosto de lhes chamar. Libertemo-nos todos dos nossos estados de alma e das nossas reacções que tenham demasiado subjectivismo. Nenhuma Igreja poderia fechar-se sobre si mesma. É mais que nunca a hora da Missão. Para isto, não bastam as nossas mais belas resoluções. Temos grande necessidade, como nos primeiros dias da Igreja, das luzes e da força do Espírito Santo. Invocando estas graças para a vossa Sociedade, tenho o gosto de vos dar, a vós próprios e a todos os Padres Brancos que vivem e sofrem pelo Reino de Deus, em paciência e em esperança, na Africa e no mundo todo, a minha afectuosa Bênção Apostólica.

 

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