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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
 AO SENHOR ENOCH KWAYEB
NOVO EMBAIXADOR DE CAMARÕES
JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO
 DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

17 de Junho de 1982

 

 Senhor Embaixador

Pelas amáveis palavras há pouco pronunciadas por Vossa Excelência no momento em que apresentou as Cartas do Excelentíssimo Presidente Ahmadou Ahidjo acreditando-o como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da República Unida dos Camarões junto da Santa Sé, indicou com felicidade um traço característico da acção do seu país: o apego que tem aos valores espirituais e à liberdade religiosa.

Esta nobre atitude traduz-se na tranquilidade de que beneficia a Igreja católica, como outras comunidades religiosas, para se entregar às diversas actividades inerentes à sua missão espiritual. É honroso para o seu país mostrar assim a estima devida a este direito fundamental de todo o cidadão, direito de se associar sem constrangimento aos seus concidadãos para prestar ao Criador o culto que a sua consciência lhe dita. Este direito — é acaso necessário recordá-lo? — encontra o seu fundamento na dignidade mesma da pessoa humana. Com viva satisfação felicito-me vendo os seus compatriotas livres em responder às aspirações que o Todo-Poderoso inscreveu no coração de todo o homem.

A atenção assim dedicada, a justo título, à liberdade religiosa inclui o respeito da autonomia da Igreja. Ela tem, com efeito, o direito de regular segundo as suas próprias normas o que diz respeito à vida religiosa dos fiéis. Porque existe íntima relação entre a liberdade religiosa dos cidadãos e a da Igreja em se organizar sem obstáculos. São os dois aspectos de uma realidade única.

Mas, por sua vez, a Igreja professa grandíssima consideração diante das autoridades públicas no exercício da sua pesada tarefa de velar pelo bem comum da nação inteira, fazendo progredir a justiça e a harmonia entre todos. Ela concorre, aliás, na medida dos seus meios e nos limites da sua competência, para a salvaguarda e o aumento do que faz a grandeza autêntica da nação.

Sabe, Senhor Embaixador, que a Igreja se esforça, há numerosos anos — já bem antes da aquisição da independência — por prestar à República dos Camarões preciosos serviços. Nisto ela não se inspirou em qualquer consideração de interesse, mas no amor para com todos os habitantes do seu pais. A sua vontade de servir encontrou formas variadas, adaptando-se às diversas necessidades sentidas, à medida que elas se foram manifestando. Assim dedica-se, graças à generosidade de homens e de mulheres, que suscitaram émulos, entre os seus compatriotas, a cuidar dos corpos, a educar os espíritos e a elevar as almas. Ainda hoje, ela não alimenta outro desígnio senão o de continuar a obra assim empreendida e já florescente.

Muitas vezes, foram os hospitais e os dispensários das missões que abriram o caminho à medicina moderna e fizeram recuar deste modo o espectro das epidemias e de numerosas doenças crónicas. A Igreja empregou-se igualmente, graças às suas obras sociais, em valer às necessidades momentâneas de pessoas necessitadas, e em colaborar na reinserção na sociedade das vítimas de calamidades diversas. Ela entrega-se ainda à tarefa engrandecedora da educação dos filhos e das filhas da República dos Camarões, apesar das dificuldades e dos obstáculos, a fim de lhes permitir contactar com as realidades do mundo contemporâneo para uma formação adequada, ao mesmo tempo respeitadora dos valores culturais existentes mas simultaneamente a uma confrontação benéfica com outras civilizações.

Propondo enfim, no escrupuloso respeito da liberdade, as riquezas do Evangelho, ela tem consciência de, mostrando-lhes os caminhos de um ideal exigente, ajudar os jovens a prepararem-se para tomar amanhã as responsabilidades que lhes competem. É testemunho disto, por exemplo, o número de responsáveis actuais do seu país saídos das escolas católicas.

Desejaria ainda assinalar outro aspecto das relações frutuosas que unem a Igreja e a República dos Camarões: trata-se das que se estabeleceram no plano diplomático entre a Santa Sé e o seu país desde 1966 e que tiveram o bom efeito de aprofundar o diálogo já existente. Teve a bondade de recordar a acção benéfica dos representantes da Santa Sé em Yaoundé. Felicito-me igualmente, pela minha parte, vendo progredir, graças à acção da sua Embaixada, estes esforços de compreensão mútua e de estima recíproca. Não se limitam, com efeito, Unicamente às relações bilaterais. Convergem no domínio, das relações internacionais, em particular nos organismos em que a Santa Sé e a República dos Camarões estão representadas. Esta vontade de entendimento íntimo tem por fim servir, em toda a parte em que isto se manifesta necessário, ao estabelecimento de condições favoráveis à paz e à harmonia. A existência de tal rede de solidariedade permite evitar as tensões nascidas da ignorância ou da incompreensão entre as nações. Por isso desejo vivamente que, graças à sua actividade, a Igreja e a República dos Camarões possam continuar juntas — na África como noutros continentes — a obra de paz a que estão uma e outra aplicadas.

Acrescento a isto os meus votos fervorosos de bom êxito da sua missão. Sabe poder sempre encontrar junto da Santa Sé toda a atenção e o acolhimento de que tiver necessidade. Permita-me ainda, Excelência, antes de nos separarmos, pedir-lhe a gentileza de transmitir a minha saudação cordial e deferente ao Senhor Presidente Ahmadou Ahidjo, com os votos que formulo pela prosperidade do País, votos de que peço o cumprimento à divina Providência.

 

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