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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II
 AO ZIMBÁBUE, BOTSUANA, LESOTO,
SUAZILÂNDIA E MOÇAMBIQUE

10-19 DE SETEMBRO DE 1988

DISCURSO DO SANTO PADRE
DURANTE O ENCONTRO ECUMÉNICO
 EM MAPUTO

Domingo, 18 de Setembro de 1988

 

Caros irmãos e irmãs,
Representantes das Igrejas
e Comunidades cristãs de Moçambique

1. “Graça e Paz a vós, da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo!” (Ef 1, 2). São os votos e a prece que me vêm espontaneamente, ao encontrar-me aqui convosco, em nome do Senhor e com amor pelo homem moçambicano. É também saudação, a vós, aqui presentes, e às vossas Igrejas e Comunidades espalhadas por Moçambique.

I offer cordial greetings to the delegation from the South African Council of Churches, led by the President. While I am grateful for your fraternal presence here today, I also wish to express my appreciation of this gesture of solidarity with the Christian communities and the people of this country.

Como cristãos, estamos unidos pelo baptismo comum. E aprendemos do Apóstolo Paulo esta verdade importante: “Todos os que fostes baptizados com Cristo, revestistes-vos de Cristo... Todos sois um só em Cristo Jesus (Gl 3, 27-28). Em virtude deste único baptismo, nós apresentamo-nos ao mundo como portadores também de uma responsabilidade comum: esta advém-nos da obediência a Cristo, que pediu ardentemente ao Pai: “Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, também eles sejam um em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17 21.4).

2. Esta responsabilidade comum é tão verdadeira e tão importante, que nos deve impelir a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance – e com toda a urgência – para que se desvaneçam as divisões que ainda existem entre nós; e deste modo, possamos pôr em prática o desejo de Cristo, quanto à perfeita unidade dos seus discípulos.

Existe, na verdade, uma relação essencial entre a unidade dos cristãos e a proclamação do Evangelho. No fundo, é uma questão de fidelidade à comum vocação cristã e de sentido da fé, dom gratuito de Deus, que requer uma correspondência da parte do homem, em comportamento coerente; requer que o homem tome consciência da tarefa de “reordenar” o mundo, segundo o projecto divino da criação. E assim, a credibilidade da mensagem do Evangelho anda ligada à unidade dos cristãos (Cfr. Unitatis Redintegratio, 1).

3. As divisões que subsistem entre nós, portanto, prejudicam a vitalidade e incidência da proclamação que fazemos; e chegam mesmo a constituir escândalo para o mundo, mormente para as Igrejas jovens na África. Entretanto, apesar das divisões, graças àquilo que temos em comum, é possível darmos um testemunho sincero, se bem que limitado, diante do mundo, que anela por ouvir a mensagem de amor e de esperança, que é a Boa Nova da salvação, alcançada por Jesus Cristo para todos os homens.

A vossa presença aqui, neste dia, é indício do vosso desejo e busca de darmos juntos esse testemunho comum ao dilecto povo de Moçambique: um povo que tem fome e sede de Deus. E esta sua expectativa somente em Cristo poderá encontrar uma satisfação plena.

4. Há muitas formas de darmos, como cristãos, um testemunho comum. Por exemplo: o trabalho realizado em conjunto no campo bíblico, a prestação de serviços de caridade, a promoção dos direitos humanos, o diálogo ecuménico, a oração comunitária, quando se proporcione a ocasião para isso, e, enfim, o anúncio de Jesus Cristo aos que ainda o não conhecem. “A cooperação de todos os cristãos exprime ao vivo a unidade que já existe entre eles e põe o rosto de Cristo Servo numa luz mais radiosa” (Unitatis Redintegratio, 12).

Ao mesmo tempo, os sinceros esforços ecuménicos que se fizerem em plano social, podem ajudar a aliviar os sofrimentos daqueles que carecem dos bens de primeira necessidade, podem contribuir para a defesa e promoção dos homens e mulheres, especialmente dos mais desprotegidos, que a sociedade contemporânea, em muitas partes, tende não raro a abandonar a si próprios e a marginalizar, como se não existissem ou como se a sua vida não contasse. Para uma cooperação que torne mais eficazes as iniciativas, “todos os cristãos devem descobrir aquilo que já os une, mesmo antes de ser alcançada plenamente a comunhão entre eles” (Redemptor Hominis, 12).

O nosso testemunho comum manifesta ao mundo que aqueles que acreditam em Cristo e vivem segundo o seu Espírito, tendo-se tornado assim filhos do Pai Comum, podem empenhar-se para que sejam superadas divergências humanas e, gradualmente, as divisões existentes entre os cristãos. Pela cooperação, os que crêem em Cristo podem mais facilmente aprender a entender-se e a estimar-se uns aos outros e ver como aplanar o caminho que leva à unidade dos cristãos (Unitatis Redintegratio, 12).

5. É pena que enquanto se envidam, por um lado, sérios esforços por dar um testemunho comum, por outro, se vão tornando mais complicadas as nossas divisões, devido ao aparecimento de novas igrejas e ao aumento das seitas, fenómeno que, infelizmente, também se verifica no vosso País. Daí transparece às vezes um espírito contrário ao Evangelho, que, para vós “guias” cristãos, não pode deixar de constituir motivo de reflexão, diligência e oração.

6. Caros irmãos e irmãs em Cristo,

Espero que estas minhas palavras sejam bem acolhidas por vós, pois estou ao corrente do vosso interesse e dos passos já dados, no sentido do testemunho comum de Cristo e da sua mensagem em Moçambique. Existem já, graças ao Senhor, algumas formas de encontro e cooperação, que se tornaram habituais. Que Deus abençoe tais iniciativas!

Resta, todavia, um longo caminho a percorrer. Que se continue a procurar a verdade na caridade, para que seja cada vez mais eficaz também o comum empenho em contribuir para a unidade do Povo moçambicano no edificar a Nação.

Nutro a esperança e peço a Deus que o vosso desejo de unidade e os esforços para trabalhar em conjunto continuem a crescer, em conformidade com o desejo de Cristo. Por isso: “Aquele que, pelo seu poder... é capaz de fazer imensamente mais do que possamos pedir ou imaginar, a Ele seja dada glória, na Igreja e em Jesus Cristo, em todas as gerações, pelos séculos dos séculos. Ámen” (Ef 3, 20-21).

 



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