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 DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
 AO SENHOR EDWARD JOHN STEVENS
NOVO EMBAIXADOR DA AUSTRÁLIA JUNTO
DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
 DAS CARTAS CREDENCIAIS

11 de Janeiro de 1997

 

Senhor Embaixador

É com grande prazer que o acolho no Vaticano e recebo as Cartas Credenciais, mediante as quais Vossa Excelência é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Austrália junto da Santa Sé. Estou-lhe grato pelos bons votos que me transmitiu da parte do Governo e do Povo australianos. Estas saudações cordiais fazem-me recordar o caloroso acolhimento que me foi reservado, por ocasião da minha segunda Visita ao seu País, no início de 1995, quando tive a felicidade de beatificar aquela distinta mulher australiana, Madre Maria MacKillop. Naquela ocasião pude sentir de novo a abertura e a hospitalidade aos estrangeiros, pelas quais os seus compatriotas são justamente estimados.

A sua presença aqui oferece-me a oportunidade de reconhecer o papel activo que a Austrália desempenha na oferta de auxílio às nações em vias de desenvolvimento e de assistência às pessoas que sofrem devido aos efeitos da guerra e das agitações políticas. Nos últimos anos deste século, situações calamitosas, em particular a ingente tragédia que se está a verificar na região africana dos Grandes Lagos, desafiam todas as pessoas, empenhadas na justiça e na paz, a multiplicarem os próprios esforços no sentido de aliviar tanta dor e sofrimento. A destituição de inúmeros milhões de pessoas constitui uma ofensa para a dignidade humana e uma ameaça contínua à paz mundial.

Vossa Excelência observou que entre os problemas urgentes que se apresentam à Comunidade internacional está a tragédia constante da fome e da subnutrição. O recente Encontro Mundial sobre a Alimentação, realizado em Roma, chamou a atenção para a grave situação dos mais de oitocentos milhões de pessoas que, nos países em vias de desenvolvimento, são atingidas pela subalimentação ou pelas consequências da insegurança alimentar. Infelizmente, o espectro da fome persiste, apesar dos progressos científicos e tecnológicos capazes de aumentar a produção agrícola e de oferecer alimentos suficientes a todos. Dado que os motivos desta situação são demasiados e complexos, não podemos ignorar o facto de que qualquer resposta efectiva deve estar vinculada às problemáticas mais vastas do desenvolvimento, inclusive à necessidade de assegurar que os países em vias de desenvolvimento tenham o acesso justo aos recursos, à tecnologia e à educação que podem tornar possível o progresso. O desenvolvimento autêntico requer não só medidas económicas prudentes, mas também um empenhamento na solidariedade, para a promoção do bem integral dos indivíduos e dos povos, com o devido respeito pelos imperativos éticos, que são os únicos a garantir relacionamentos recíprocos justos e equitativos. A este propósito, as nações desenvolvidas devem examinar seriamente a sua gestão dos recursos mundiais e fazer cada vez mais esforços para tutelar o direito universal à nutrição.

Sem dúvida, um dos sinais mais prometedores dos nossos tempos tem sido o desejo crescente da Comunidade internacional de cooperar para encontrar modos de erradicar a pobreza da família humana. Contudo, soluções para este problema não poderão ser encontradas em políticas e programas que, promovendo e até mesmo impondo um modelo de vida que não está em harmonia com a cultura e as tradições das pessoas, debilitam os direitos humanos fundamentais (cf. Sollicitudo rei socialis, 25). O facto de a terra ser uma casa para todos exige um espírito de colaboração e partilha, que respeite as diferenças legítimas dos indivíduos e dos povos. O progresso da dignidade humana requer também um claro sentido das verdades morais transcendentais, que oriente as opções políticas e integre os interesses particulares no contexto de uma visão coerente do bem comum (cf. Centesimus annus, 47).

No cumprimento da sua missão, a Igreja esforça-se por elevar a consciência da dignidade inalienável e da inviolabilidade de cada ser humano, inclusive dos nascituros, dos portadores de deficiências, dos idosos e dos doentes terminais. Absolutamente essencial para qualquer sistema digno do homem é o direito fundamental à própria vida. Qualquer acção ou omissão, que causa directa e deliberadamente a morte de uma pessoa inocente, constitui uma grave violação da lei inscrita no coração humano. A Igreja católica na Austrália procura defender esta verdade fundamental, quando fala de maneira directa contra as tentativas de tornar legítimos os pedidos de eutanásia ou de os autorizar (cf. Evangelium vitae, 72). Rezo para que, na proximidade do ano 2000, a Austrália fortaleça cada vez mais a sua herança cristã, defendendo a vida humana e agindo generosa e corajosamente ao serviço dos pobres, dos estrangeiros e dos indefesos.

Ao apresentar-lhe os meus melhores votos, aproveito a oportunidade para assegurar que os vários departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a oferecer-lhe a própria assistência no cumprimento da sua missão. Sobre Vossa Excelência e sobre todos os australianos, invoco do íntimo do coração as abundantes bênçãos divinas.

 

© Copyright 1997 - Libreria Editrice Vaticana  

 



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