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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO SENHOR THIERRY MUÛLS, EMBAIXADOR
 DA BÉLGICA JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO
DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS
 

6 de Julho de 1998 

 

Senhor Embaixador

É-me particularmente grato acolher Vossa Excelência no Vaticano, por ocasião da apresentação das Cartas com as quais Sua Majestade o Rei Alberto II o acredita junto da Santa Sé, como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino da Bélgica.

Sinto-me sensibilizado, Senhor Embaixador, pelas deferentes palavras que acaba de me dirigir, manifestando o seu desejo de dar continuidade às relações profundas que unem a Sé Apostólica e a Bélgica. Ao recordar-me da recente visita feita a Roma pelo seu Soberano, ficar-lhe-ia grato se exprimisse de novo a Sua Majestade a minha alegria por o ter recebido e Lhe apresentasse os meus ardentes votos pela Sua pessoa, a Família real, os membros do Governo e o inteiro povo da Bélgica. Peço ao Senhor que conceda aos seus compatriotas a graça de viverem numa sociedade em que reine um espírito de solidariedade e de fraternidade, graças aos esforços harmoniosos e conjugados de todos.

Vossa Excelência ressaltou a atenção das Autoridades do seu país ao respeito fundamental pela dignidade do homem e dos povos, nas questões por vezes delicadas em matéria de política interior ou estrangeira. Na sua doutrina social, a Igreja não cessa de recordar que a conduta dos assuntos públicos deve pôr o homem no centro das decisões daqueles que têm o encargo de governar; o progresso não se pode realizar em detrimento das pessoas e dos povos, nem do desenvolvimento humano autêntico; compreende-se hoje que uma sociedade, no plano nacional ou internacional, que está posta sobretudo sob o primado da política ou da economia, a saber, uma «pura acumulação de bens e de serviços, mesmo em favor do maior número, não é suficiente para realizar a felicidade humana» (Sollicitudo rei socialis, 28). A atenção a cada pessoa e a cada povo faz parte dos elementos fundamentais da vida pública.

É também neste espírito que o conjunto dos países europeus se deve empenhar, sempre mais e de maneira concorde, para resolver questões essenciais que dependem da cooperação internacional. Em particular, as diferentes nações do continente devem enfrentar a grave situação dos Balcãs; deverão colaborar de maneira estreita para a resolução deste conflito, a fim de que os refugiados e as pessoas desabrigadas possam retornar aos seus lugares de origem, a liberdade de movimento seja concedida a todos e se ajude a reconstrução das habitações e dos edifícios públicos. De maneira mais global, a Europa é chamada a encorajar e a sustentar com firmeza a reconcilia ção entre os povos da região, e a participar no desenvolvimento económico do país, que foi amplamente enfraquecido pelos conflitos. A paz depende duma acção comum e solidária de todas as nações amigas dum continente, o que não deixará de consolidar os laços entre os países, com o apoio da Comunidade internacional.

Vossa Excelência acabou de apresentar algumas características da sociedade belga, constituída por diferentes confissões religiosas e culturas, que são chamadas não só a coexistir, mas também a intensificar o seu diálogo e as suas colaborações, para edificarem juntas uma sociedade única de muitas feições. Para os responsáveis, o problema primordial consiste então em propor um modelo social, que permita fazer com que muitas comunidades vivam juntas, no respeito pelas especificidades, mas com a preocupação de que todas as pessoas concorram para a edificação da comunidade nacional, fundada sobre os valores humanos, espirituais e morais essenciais do seu património, acima dos interesses particulares. Numerosos belgas, afligidos de modo particular pelos eventos dolorosos, quiseram que as pessoas fossem mais bem protegidas, porque a vida humana é o valor primordial e inalienável. A fim de responder a esta exigência legítima, assim como adaptar as estruturas à situação do momento e cumprir a sua missão de maneira mais apropriada junto de todos os habitantes da Bélgica, as Autoridades do seu país desejaram dar nova confiança aos cidadãos, graças às reformas das instituições federais e locais; a confiança nas pessoas e nas instituições é, com efeito, um dos elementos essenciais da vida democrática. Neste sector, os eleitos e aqueles que exercem funções públicas desempenham um papel determinante. Eles são chamados a fazer triunfar os valores morais, como o cuidado do bem comum, a equidade, a justiça, a solidariedade e a probidade, e a prestar um serviço desinteressado a todos os seus compatriotas. Devo louvar aqui as decisões corajosas tomadas pelos dirigentes do país e o trabalho humilde e escondido dos homens e das mulheres que estão ao serviço de todos os seus irmãos.

Os Governantes são convidados a dedicar renovada atenção à juventude, a cuidar da sua inserção nas organizações sociais e económicas, para não aumentar a marginalização dum número crescente de jovens e para que não se desenvolvam, em particular nas cidades e nos subúrbios, formas exacerbadas de violência e de delinquência, que tornariam frágeis as relações sociais e os relacionamentos entre as gerações. De igual modo, a família, enquanto célula de base e estrutura essencial da sociedade, deve ser privilegiada nas decisões políticas e económicas. Os pais cumprem junto dos seus filhos uma missão social de primeiro plano. Têm o encargo da sua educação moral e cívica; para o desempenhar de maneira correcta, têm necessidade de ser apoiados e ajudados pelos dirigentes.

Nos sectores da educação, da família e da saúde, nos quais tem uma longa experiência, assim como em todos os outros sectores da vida social em que os fiéis estão empenhados ao lado dos seus irmãos, a Igreja católica na Bélgica quer participar plenamente na caminhada nacional, num espírito de diálogo e de colaboração com todos os homens de boa vontade e com o papel específico que lhe é próprio. Aproveito a sua presença no Vaticano para saudar com muito afecto, por seu intermédio, os Bispos e todos os católicos da Bélgica. Conheço a sua profunda afeição ao próprio país e encorajo-os na sua vida eclesial, a fim de que manifestem, por palavras e actos, os valores espirituais, morais e humanos essenciais.

No momento em que tem início a sua missão de Representante do Reino da Bélgica junto da Sé Apostólica, dado que Vossa Excelência exprimiu a satisfação de ter sido chamado a esta nova função, apresento-lhe os meus melhores votos. Posso assegurar-lhe que encontrar á sempre junto dos meus colaboradores um acolhimento caloroso e uma compreensão atenta. Sobre Sua Majestade o Rei Alberto II e a Família real, sobre o povo belga e todos os que têm a responsabilidade dos destinos do país no limiar do Terceiro Milénio, sobre Vossa Excelência, os seus familiares e o pessoal da Embaixada, invoco de todo o coração a abundância das Bênçãos divinas.

 

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