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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO SENHOR LEARIE EDGAR ROUSSEAU
NOVO EMBAIXADOR DE TRINDADE E TOBAGO
JUNTO DA SANTA SÉ

Excelência

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano, no momento em que Vossa Excelência apresenta as Cartas Credenciais com que é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Trindade e Tobago junto da Santa Sé. Embora a minha visita ao seu País tenha sido realizada há diversos anos, recordo-me bem do afecto e da hospitalidade que então me foram reservados. Peço-lhe a amabilidade de expressar os meus melhores votos a Sua Excelência o Senhor Presidente Richards, ao Primeiro-Ministro, ao governo e a toda a população do seu querido País. Peço-lhe ainda que lhes transmita a minha gratidão pelas suas saudações, assegurando-lhes as minhas preces pela paz e a prosperidade da Nação.

O compromisso constante da Santa Sé na promoção da dignidade da pessoa humana encontra-se no centro de toda a sua actividade diplomática. Sem o reconhecimento e a salvaguarda fundamentais do valor incomparável da pessoa humana, serão vãos os esforços em ordem a alcançar uma coexistência pacífica entre as pessoas de diferentes grupos étnicos e de diversas tradições religiosas. A este propósito, é com prazer que tomo conhecimento do facto de que o seu País valoriza a urgente necessidade de toda a família humana dos indivíduos aos países, das organizações regionais aos acordos internacionais dar uma expressão concreta àquilo que o meu Predecessor, o Beato Papa João XXIII, identificava como os quatro pilares da paz: verdade, justiça, amor e liberdade. A eficácia e, efectivamente, a necessidade destes pilares para a paz derivam de maneira directa do facto que são "quatro exigências específicas do espírito humano" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2003, n. 3). Desta forma, a construção da paz no nosso mundo contemporâneo encontra o seu fundamento seguro no respeito pela dignidade inviolável de cada pessoa.

Numa sociedade multicultural e plurirreligiosa como a do seu País, Senhor Embaixador, o imperativo do reconhecimento e da salvaguarda da dignidade e da distinção intrínsecas de cada ser humano é fortemente sentido. Além disso, se a procura da conquista da unidade nacional através da diversidade e da harmonia social mediante a tolerância, estiver bem fundamentada no desejo de defender os valores enraizados na própria natureza da pessoa humana, torna-se não apenas uma questão de aceitação passiva, mas um instrumento de enriquecimento cultural concreto para todos. Com efeito, quando as diferenças culturais e religiosas são valorizadas como dádivas, revelam a mão de Deus, que cria cada homem e cada mulher à sua imagem e é o Único que pode conceder a plenitude da unidade à família humana.

O desenvolvimento económico autêntico, que sempre contém um aspecto moral, é também de importância crucial para o bem-estar e o progresso pacífico de uma nação. É aqui que se satisfaz a exigência da justiça (cf. Sollicitudo rei socialis, 10). O direito a um trabalho digno e a um estilo de vida aceitável, a garantia de uma distribuição equitativa dos bens e das riquezas em geral, assim como o uso responsável dos recursos naturais, tudo isto depende de um conceito de desenvolvimento que não se limite unicamente a satisfazer as necessidades materiais. Pelo contrário, este conceito deve realçar também a dignidade da pessoa humana que é o próprio sujeito de todo o desenvolvimento e, por conseguinte, promover o bem comum de toda a humanidade. Embora esta finalidade certamente exija o apoio de toda a comunidade internacional, é também verdade que muito se pode realizar a nível do desenvolvimento regional. Isto requer que se ponha de lado o nacionalismo excessivo, de tal maneira que o profundo valor da solidariedade comunitária possa encontrar a sua expressão nos acordos locais que visam a cooperação regional nos sectores económico e social.

Como o Senhor Embaixador observou, embora os cidadãos de Trindade e Tobago, como numerosos outros povos no mundo inteiro, permaneçam confiantes na esperança do futuro, contudo estão a sofrer em virtude de alguns graves problemas sociais. Os ataques contra a vida familiar que, tragicamente, parecem constituir um sinal dos nossos tempos, estão a adquirir muitas formas. Uma das mais perniciosas é, sem dúvida, o tráfico e o uso das drogas, que representam uma grave ameaça contra o tecido social. Eles alimentam o crime e a violência, contribuem para a ruptura da vida familiar e para a destruição física e emotiva de muitos indivíduos e comunidades, de maneira especial entre os jovens (cf. Ecclesia in America, 24). A consequente degradação da pessoa vai contra a natureza da vida como dom e debilita o significado da plenitude de vida, que nos foi revelada por Jesus Cristo. Por estes motivos, em numerosas circunstâncias desejei realçar o facto de que "nos encontramos, aqui, diante de um dos desafios mais urgentes que muitas nações no mundo devem enfrentar" (Ibidem).

Por sua vez, proclamando o Evangelho da vida recebido do seu Senhor (cf. Evangelium vitae, 2), a Igreja católica deseja ardentemente promover no meio de todos os povos, e de maneira especial entre os jovens, a cultura da verdade e do amor, que leva à liberdade e à felicidade autênticas. Com vista a esta finalidade, tanto as instituições civis como as religiosas devem trabalhar em conjunto, em ordem a assegurar que a sagrada instituição do matrimónio, com a consequente vida familiar estável, seja profundamente fomentada e salvaguardada. Qualquer esperança de renovação da sociedade, que deixar de aderir ao plano de Deus para a vida matrimonial e familiar, está destinada a fracassar (cf. Familiaris consortio, 3), uma vez que a dignidade de cada pessoa, concedida por Deus, se realiza e é experimentada em primeiro lugar no seio da vida familiar. Contudo, quando esta dignidade é confirmada mediante princípios de igualdade e de respeito pelo bem comum, e salvaguardada através do exercício da lei e da ordem, bem como de uma forma de governo honesta, a sociedade não pode deixar de prosperar. Deste modo, motivada pela caridade, a Igreja católica que está em Trindade e Tobago continuará a defender a vida matrimonial e familiar, salvaguardando-a como "o instrumento mais eficaz para a humanização e a personalização da sociedade" (Familiaris consortio, 43). É desta visão da vida, divinamente inspirada, que as suas escolas, os seus organismos de assistência médica e as suas obras em geral dão testemunho.

Senhor Embaixador, estou convicto de que a sua missão, que hoje tem início, ajudará a fortalecer os vínculos de compreensão e de cooperação existentes entre Trindade e Tobago e a Santa Sé. No momento em que Vossa Excelência assume as suas novas responsabilidades, asseguro-lhe que os diversos Departamentos da Cúria Romana estão prontos para o ajudar no cumprimento dos seus deveres. Sobre o Senhor Embaixador e os seus compatriotas, invoco as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.


*L'Osservatore Romano n. 22 pp. 2, 3.


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