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 DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO SENHOR ANDERSON KASEBA CHIBWA
NOVO EMBAIXADOR DA ZÂMBIA JUNTO DA SANTA SÉ
 POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS*

27 de Maio de 2004

 

Senhor Embaixador

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Zâmbia junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as saudações que me transmite da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Mwanawasa, e peço que tenha a amabilidade de lhe comunicar, bem como ao seu governo, a certeza das minhas preces pela paz e pelo bem-estar da nação. No corrente ano, o seu país está a celebrar o quadragésimo aniversário de independência e, nesta feliz circunstância, reitero os sinceros bons votos que pude manifestar há quinze anos, em Lusaca:  que todos os zambianos possam trabalhar em conjunto, a fim de que a vossa terra venha a ser "um lugar de autêntica liberdade, fraternidade e solidariedade  mútua uma  nação  em  que  as crianças  possam  crescer  e  viver  na dignidade e na liberdade dignas dos filhos de Deus" (Discurso na cerimónia de chegada a Lusaca, 2 de Maio de 1989, n. 2).

Como Vossa Excelência observou, hoje em dia o continente africano continua a enfrentar muitos desafios, especialmente nos campos do desenvolvimento, da dívida externa, da pobreza, dos direitos humanos e da crise do hiv/sida. Com efeito, "as tensões e os conflitos... a violência, o depauperamento e a deterioração do tecido institucional estão a mergulhar povos inteiros no desespero" (Discurso ao Corpo Diplomático, 12 de Janeiro de 2004, n. 1). Sem dúvida, o espírito da solidariedade recíproca, a que antes desejei fazer alusão, e sobre o qual também Vossa Excelência quis falar, constitui um elemento essencial para corresponder a tais desafios. Trata-se de um espírito aberto ao diálogo, radicado na profunda verdade de que todas as pessoas pertencem à única família humana:  "Pelo simples facto de termos nascido neste mundo, nós participamos de uma herança e temos em comum a mesma origem, com todos os demais seres humanos" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1987, n. 1). Longe de constituir uma uniformidade rígida, esta unicidade encontra expressão na maravilhosa diversidade da família humana, uma diversidade em que as diferenças de raça, de cultura, de língua e de história não são causas de separação ou de divisão, mas de enriquecimento e de crescimento mútuos.

A solidariedade autêntica representa o caminho seguro para ultrapassar as animosidades étnicas, a intolerância religiosa, a divisão de classes e outros preconceitos que atingem precisamente o núcleo da dignidade humana, geralmente provocando divisões, inimizades, opressão e violência. Uma vez que esta solidariedade se fundamenta necessariamente na igualdade radical de todos os homens e mulheres, deve-se rejeitar qualquer política que entre em contradição com a dignidade essencial e os direitos humanos de cada pessoa ou grupo. Por outro lado, há que encorajar e promover as iniciativas que edificam relações abertas e honestas, que forjam alianças justas e que unem as pessoas numa cooperação que redunde no bem de todos. Esta solidariedade não significa ignorar as diferenças linguísticas, raciais, religiosas, sociais e culturais concretas, nem nega as dificuldades, às vezes enormes, que se encontram para ultrapassar antigas divisões e injustiças; o que ela comporta é a valorização das coisas que se têm em comum, daquilo que une os povos na busca conjunta de paz e de progresso.

Portanto, aqui estamos a falar de uma solidariedade que proteja e salvaguarde a liberdade legítima de cada pessoa e a justa segurança de cada nação. Sem esta liberdade e segurança, estão a faltar as próprias condições para o desenvolvimento, estão ausentes os elementos necessários para o progresso. Em síntese, a liberdade de que os Estados devem gozar, em ordem a assegurar o seu crescimento e desenvolvimento, como parceiros igualitários na família mais vasta das nações, depende do respeito mútuo que existir entre elas. Os indivíduos e os povos têm o direito a uma voz activa nas decisões que influenciam as suas pessoas e o seu futuro, e devem ser livres de exercer este direito. É por este motivo que "procurar a superioridade económica, militar ou política à custa dos direitos de outras nações é algo que faz periclitar qualquer perspectiva de verdadeiro desenvolvimento e de verdadeira paz" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1987, n. 6).

Por conseguinte, é esta solidariedade que deve orientar sempre a assistência económica, a cooperação política e até mesmo as operações militares que visam a manutenção da paz. A este propósito, é-me grato observar que a Zâmbia um dos países do continente africano que goza de maiores estabilidade e paz desde a sua independência está activamente comprometida nos esforços em vista da pacificação e da reconciliação na África, especialmente na região dos Grandes Lagos, mas também noutras partes. Exorto também a comunidade internacional, a fim de que assegure que os programas de ajuda oferecidos ao seu país e às demais áreas da África e do mundo inteiro se fundamentem firmemente numa solidariedade alicerçada no respeito pela liberdade individual e pela dignidade do ser humano.

Efectivamente, impelida pela fidelidade ao seu Mestre divino e seguindo o seu exemplo, cheia de misericórdia e de caridade, a própria Igreja vai ao encontro de todos os homens e mulheres com gestos de solidariedade. Na Zâmbia, ela está comprometida no aperfeiçoamento da sociedade através do trabalho que leva a cabo nos campos da educação, da assistência à saúde e da actividade caritativa, enquanto procura defender os direitos humanos, promover os valores morais e fomentar o desenvolvimento integral de todos os homens e do homem todo. Agradeço a Vossa Excelência as suas amáveis palavras de apreço por esta tarefa permanente e pela sua promessa de cooperação nestes mesmos sectores.

Senhor Embaixador, estou persuadido de que o período do seu mandato contribuirá em grande medida para revigorar os vínculos de amizade entre o seu Governo e a Santa Sé. Formulo-lhe os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão, enquanto lhe asseguro que os vários Departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a assisti-lo no cumprimento dos seus excelsos deveres. Sobre Vossa Excelência e o querido povo  da  Zâmbia,  invoco  cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.


*L'Osservatore Romano n. 24 pp. 4, 9

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