1. A Pontifícia Comissão para a América Latina dirige uma saudação cordial a todos os fiéis da Espanha para a celebração do Dia da Hispano-América e, de modo especial, neste Ano dedicado ao dom maravilhoso do ministério sacerdotal, a todos os que por meio do sacramento da Ordem foram configurados com Cristo, Bom Pastor, para dedicar a sua vida ao serviço da Igreja, tanto neste querido país como além das suas fronteiras.

Uma saudação com particular afecto e consideração dirige-se àqueles sacerdotes que, através da obra que realiza a OCSHA, dedicaram completamente a sua vida nos diversos países da América Latina. Que o Senhor, que os chamou com misericórdia infinita, hoje "faça crescer a sua alegria e aumente o seu gozo" (cf. Is 9, 2).

2. O lema escolhido para a celebração deste ano, "Sacerdotes, discípulos e missionários", faz eco ao realce pastoral e missionário que os Bispos da América Latina quiseram plasmar na última Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano celebrada em Aparecida (Brasil) e, ao mesmo tempo, coloca-se em consonância explícita com o Ano sacerdotal proclamado por Sua Santidade Bento XVI a 16 de Junho de 2009, na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, cuja finalidade é "contribuir para promover o compromisso de renovação interior de todos os sacerdotes, para que o seu testemunho evangélico no mundo de hoje seja mais intenso e incisivo" (Carta de Bento XVI para a proclamação do Ano sacerdotal por ocasião do 150º Aniversário do Dies natalis do Santo Cura d'Ars).

Este Ano sacerdotal constitui para todos os filhos da Igreja uma ocasião privilegiada para dar graças a Deus porque na sua misericórdia infinita quis chamar alguns para que se unam de modo mais profundo ao coração sacerdotal de Cristo e, ao mesmo tempo, ofereçam as suas vidas como sacrifício pelo bem espiritual de todos os membros do seu Corpo Místico. De facto, a vocação para o sacerdócio é um dom inestimável para toda a Igreja.

De igual modo esta celebração há-de servir para que todo o povo de Deus tome consciência da necessidade urgente que existe em todo o mundo de trabalhadores que decidam responder, com generosidade e vigor, ao convite do Senhor para trabalhar na sua vinha (cf. Mt 20, 1ss.). Trata-se, com efeito, de uma responsabilidade que diz respeito a todos os fiéis e, de modo especial, à instituição familiar, lugar no qual se deve ensinar e promover a atitude de disposição e liberdade interior para responder à chamada de Deus.

Na última Reunião Plenária da Pontifícia Comissão para a América Latina, celebrada em Roma em Fevereiro de 2009, durante a sessão conclusiva os Membros e Conselheiros expressaram a necessidade urgente de "empenhar todo o presbitério, os próprios seminaristas e a comunidade eclesial em geral neste campo da pastoral vocacional e rezar intensamente ao Senhor, dono da messe, para que suscite estas vocações ao serviço da Igreja" (Pontifícia Comissão para a América Latina, A Formação sacerdotal nos Seminários da América Latina, Cidade do Vaticano 2009, Libreria Editrice Vaticana, pág. 329).

Sem dúvida, os Bispos e os sacerdotes devem ser as primeiras "testemunhas próximas e alegres de Cristo Bom Pastor" (Aparecida, 187), e devem reflectir com a sua presença e a força atraente da pessoa de Cristo. Palavra e testemunho devem estar sempre presentes. O Papa Paulo VI dizia que o testemunho é insuficiente "se não é esclarecido, justificado e explicitado por um anúncio claro e inequívoco do Senhor Jesus" (Evangelii nuntiandi, 22).

3. Por outro lado, este Ano está profundamente vinculado à figura fascinante de São João Maria Vianney, o Santo Cura d'Ars, do qual se celebra o 150º aniversário do trânsito para a Casa paterna, o Dies natalis.

A fisionomia espiritual deste humilde pároco de uma zona rural da França convence-nos do que se pode beneficiar, mesmo contando com escassos recursos humanos e materiais, se tivermos consciência da força transformadora da graça: aquela clara convicção de que o Apóstolo São Paulo expressa com as suas palavras emblemáticas: "Tudo posso n'Aquele que me conforta" (Fl 4, 13). Graças à presença e à acção pastoral deste santo sacerdote, a humilde paróquia de Ars, uma aldeia insignificante perto de Lião, converteu-se em pouco tempo num lugar de peregrinação para o qual afluíam pessoas de outras paróquias vizinhas, e depois de toda a zona de Lião, da França inteira e, finalmente, de todas as partes do mundo.

Na vida de São João Maria Vianney transparece a fé inabalável de um autêntico discípulo de Cristo e um espírito missionário acrisolado no fervor da oração. Já o Papa João XXIII, na sua Encíclica Sacerdotii nostri primordia, promulgada por ocasião do I Centenário da morte de São João Maria Vianney, falava da "surpreendente eficácia sobrenatural do seu ministério", com o qual se confirma mais uma vez – acrescenta o Beato – "esta grande lei de todo o apostolado fundada na própria palavra de Jesus Cristo: "Sem Mim nada podeis fazer" (Jo 15, 5)", princípio fundamental que nenhum sacerdote jamais deve esquecer.

4. Compete recordar de igual modo que o caso exemplar de São João Maria Vianney é um paradigma evidente no meio de uma grande constelação de santos pastores que animaram a vida sacramental da Igreja através dos séculos, tornando presente o poder da graça no meio da debilidade humana (cf. 2 Cor 12, 9). Muitos deles, mediante a canonização, foram colocados pela Igreja como modelos para serem seguidos por todos os fiéis, e sobretudo pelos sacerdotes.

Mas como não mencionar também todos aqueles dos quais não se recorda a história, quantos no silêncio, ou na vida simples, desconhecida para a maioria, contribuíram para reflectir no seu tempo e contexto, talvez em lugares recônditos, a luz resplandecente de Cristo? Devemos perguntar se o seu anonimato não é até sinal da mais extraordinária qualidade e autenticidade da sua entrega.

No presente, quando a realidade do sacerdócio e a sua presença no mundo parece contrastar de maneira aguda e incisiva os critérios de uma cultura relativista, cada vez mais distante do Evangelho, deve elevar-se uma sentida acção de graças por quantos um dia decidiram deixar tudo para ir em busca do "cem por cento" evangélico (cf. Mt 19, 29) e que, com entusiasmo intrépido, se lançaram na aventura de agir e falar em nome de Cristo aos que estão nos recantos mais distantes, encontrando muitas vezes contradições e dificuldades, chegando até, com frequência, a subir com Cristo ao altar da Cruz mediante o martírio.

5. Ao celebrar o Dia da Hispano-América, o nosso olhar dirige-se de novo para a América Latina como terra de missão. Existe uma continuidade de mais de cinco séculos da presença da Espanha missionária nessas terras. A força que actualmente estimula muitos sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos a deixar os seus lugares de origem para dar as suas vidas através do serviço evangelizador no chamado "Continente da Esperança", tem algo do mesmo Espírito que animou muitos outros ao longo da história, a ir em busca, não do ouro nem da riqueza temporais, mas daquela pérola preciosa do Evangelho, que é o Reino dos Céus já presente neste mundo (cf. Mt 13, 45-46).

Renova-se hoje esta chamada premente para que, como verdadeiros discípulos de Jesus, muitos respondam com vigor à vocação de anunciar o Evangelho até aos extremos confins da terra (cf. Mt 28, 19), e para que mais sacerdotes e missionários estejam dispostos a entregar as suas vidas com generosidade à grande tarefa da Evangelização.

6. Por fim, algumas palavras do Santo Padre Bento XVI podem ajudar-nos a reafirmar sinteticamente o núcleo central desta mensagem, inclusive de todo o Ano sacerdotal: "A Igreja precisa de sacerdotes santos; ministros que ajudem os fiéis a experimentar o amor misericordioso do Senhor e sejam suas testemunhas convictas" (Bento XVI, Homilia nas Vésperas da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, Basílica de São Pedro, 19 de Junho de 2009).

Maria Santíssima, Mãe do Bom Pastor, interceda por todos os sacerdotes, seus filhos predilectos, e abranja com a sua protecção amorosa todos os fiéis da Igreja em Espanha e em todo o mundo.

Maria, Mãe de Jesus Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, rogai por nós!