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INTERVENÇÃO DO CARDEAL CRESCENZIO SEPE
 NO CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE
 "JOÃO PAULO II TESTEMUNHA DA ESPERANÇA"

Varsóvia, 12 de Outubro de 2002

 

 


Saúdo cordialmente e apresento um respeitoso obséquio ao Cardeal Josef Glemp, Arcebispo de Varsóvia e Primaz da Polónia, ao Senhor Cardeal Franciszek Macharski, Arcebispo de Cracóvia, e a D. Jozef Kowalczyk, Núncio Apostólico, ao qual agradeço a cordialidade com que me recebeu.

Agradeço também a D. Tadeusz Goclowski, Arcebispo de Danzigue e Presidente da Fundação "A Obra do Novo Milénio", que juntamente com a Agência Católica de Informação KAI promoveu este Congresso Internacional para comemorar aqui e em toda a Polónia "O Dia do Papa".

Por fim, saúdo todos os Bispos, Sacerdotes, Religiosos, Religiosas, Leigos e os representantes dos meios de comunicação aqui presentes.

Parece-me significativa e providencial como nunca a celebração do "Dia do Papa" neste momento, porque daqui a poucos dias toda a Igreja recordará o início do ministério petrino de João Paulo II, que chegou ao 25° ano de Pontificado. Mas este acto, deseja ser uma acção  de  graças  a  Deus  por  ter  escolhido e dado à Igreja este grande Papa, filho da gloriosa e bendita Nação polaca.

Depois, considero muito oportuna e actual a escolha do tema "João Paulo II testemunha da esperança", que muito caracteriza não só a personalidade humana e espiritual de Karol Wojtyla, mas também o seu magistério e o seu serviço petrino a favor da Igreja e de toda a comunidade.
João Paulo II é testemunha da esperança para todos os Povos, culturas e Nações, para todos os homens e mulheres que vivem a labuta da existência humana mas, sobretudo, para todos aqueles que, sobrecarregados pelas antigas e novas pobrezas, procuram uma testemunha segura e credível, para dar sentido e valor à própria existência. "Não tenhais medo" foi o seu primeiro brado do pórtico da Basílica de São Pedro, no dia da sua eleição ao Pontificado, em Outubro de 1978 abri as portas a Cristo".

João Paulo II semeou, e continua a semear, esta semente da esperança a mãos cheias, abrindo a todos a porta que é Cristo e inclinando-se, como o bom samaritano, sobre a humanidade ferida para a curar e lhe restituir a dignidade de criatura de Deus, feita à sua imagem e semelhança.

Para difundir estas sementes de esperança, João Paulo II fez-se tudo para todos, a exemplo de São Paulo, indo, como missionário e testemunha do Evangelho de Jesus Cristo, a todas as Nações.

Estes 24 anos do seu Pontificado foram um contínuo ir a todas as nações para anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, em obediência ao mandamento do Senhor, como primeiro responsável da missão universal da Igreja. "Consciente desta responsabilidade escreve o Santo Padre na Redemptoris missio, nos encontros com os Bispos (e com todos os membros do Povo de Deus) sinto o dever de a partilhar em virtude tanto da nova evangelização como da missão universal.

Pus-me a caminho pelas veredas do mundo para anunciar o Evangelho, para "confirmar os irmãos" na fé, para confortar a Igreja, para encontrar o homem. São viagens de fé... são em grande medida ocasiões de catequese itinerante, de anúncio evangélico no prolongamento, em todas as latitudes, do Evangelho e do magistério apostólico, dilatado às esferas planetárias de hoje" (n. 63; cf. Discurso ao Sacro Colégio, 28 de Junho de 1980).

Na realidade, o Papa sente esta responsabilidade como um dever que envolve a todos e como uma necessidade que interpela também hoje toda a comunidade eclesial. De facto, se é verdade, como realça o próprio Papa na "Novo millennio ineunte", que a missão às Nações ainda está no começo e que a acção  missionária,  nos  últimos  tempos, foi diminuindo progressivamente, então não podemos deixar de compreender porque ele mesmo em primeiro lugar, se fez missionário, guia e mestre para  ensinar  um  novo  método  e  um novo  estilo  de  evangelização  e  para sensibilizar Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos e leigas no empenho para realizar uma nova época missionária.

O mandamento de Cristo, "ide", é, depois de dois mil anos, actual e urgente como nunca se pensarmos, por exemplo, que no continente asiático vive mais de 60% da população mundial e que destes quatro biliões de pessoas, os católicos são apenas 130 milhões (2,6%), concentrados na maior parte nas Filipinas e na Índia, enquanto nas outras Nações asiáticas não chegam nem sequer a 0,5%. É verdade que não se pode reduzir ou traduzir a fé a números mas, na actual época que nos vê testemunhas e actores da passagem do segundo para o terceiro milénio da era cristã, não podemos permanecer indiferentes a estes dados.

Isto explica por que o Santo Padre nos recorda continuamente o empenho da nova evangelização, fazendo dela um tema que caracteriza o seu Pontificado. Assim, penso muitas vezes neste dever colectivo da missionariedade, quando leio na mencionada Carta Apostólica "Novo millennio ineunte", escrita pelo Santo Padre no final do Grande Jubileu do ano 2000, como que para delinear uma carta constitucional da Igreja do terceiro milénio, o convite, que já se tornou justamente famoso, a fazer-se corajosamente ao largo rumo a horizontes inexplorados da nova evangelização do terceiro milénio. Aquele "duc in altum" do Papa resume perfeitamente não só o sentido do ano jubilar, mas o espírito autenticamente missionário de todo o pontificado de João Paulo II.

"Hoje escreve o Santo Padre no n. 40 da NMI devemos enfrentar com coragem uma situação que se torna cada vez mais variada e empenhativa, no contexto da globalização e do novo e mudado entrelaçamento de povos e culturas que a caracteriza. Repeti inúmeras vezes ao longo destes anos o apelo à nova evangelização. Recordo-o agora, sobretudo para indicar que é necessário acender de novo em nós o impulso das origens, deixando-nos invadir pelo fervor da pregação apostólica depois do Pentecostes. Devemos reviver em nós o sentimento fervoroso de Paulo, que exclamava:  "Ai de mim se não anunciar o Evangelho!" (1 Cor 9, 16)".

Verificamos com alegria e admiração, também nas actuais circunstâncias, que encontramos o melhor exemplo deste fervor apostólico precisamente na figura de João Paulo II. Um Pontífice cuja incansável e inexaurível actividade possui como denominador comum a ansiedade da missionariedade, o forte desejo de fazer chegar o anúncio cristão da salvação a todos os homens e povos cada vez que se apresente até a mínima ocasião, sem dar demasiada importância permitam-me que diga a qualquer motivação que possa sugerir uma acção mais lenta ou um adiamento no tempo. Para o Santo Padre tudo deve estar subordinado à evangelização:  eis por que ele nunca se eximiu, nem se exime agora, ao contacto com os fiéis nas audiências, nas celebrações e nas visitas. As numerosíssimas viagens apostólicas, que o levaram quase a todas as partes do globo, até várias vezes à mesma nação, são o sinal evidente do fervor apostólico do Sucessor de Pedro que, como o Pai misericordioso da parábola, não se contenta em esperar a vinda do filho que se tinha afastado da sua casa, mas corre ao seu encontro de longe, alcançando-o até nas localidades mais distantes. E se olharmos depois para as multidões mais diversificadas que em toda a parte acorreram para encontrar o Papa, às quais deveríamos juntar os que o ouvem através da rádio e da televisão, tudo faz pensar que o número dos "filhos pródigos" conduzidos à esperança da fé pelas palavras de João Paulo II é enorme.

Esta paixão pela pregação apostólica "não deixará de suscitar na Igreja uma nova missionariedade, que não poderá ser confiada a um pequeno grupo de "especialistas", mas deverá envolver a responsabilidade de todos os membros do Povo de Deus. Quem se encontrou verdadeiramente com Cristo não pode ficar com Ele só para si, deve anunciá-lo. É necessário um novo impulso apostólico que seja vivido como empenho quotidiano das comunidades e grupos cristãos.

Contudo, isto realizar-se-á no respeito devido ao caminho sempre diversificado no qual a mensagem cristã deve ser introduzida, de forma que os valores específicos de cada povo não sejam renegados, mas purificados e levados à sua plenitude".

Este trecho da Carta Apostólica introduz-nos num ponto importante da nossa reflexão. Até agora mencionei o carácter missionário do Santo Padre pondo em realce, por assim dizer, os aspectos práticos e concretos, isto é o seu ir ao encontro dos povos e o anúncio. Mas cometeríamos uma grave injustiça à profundidade de pensamento de João Paulo II se nos limitássemos a isto. De facto, ele é um Papa missionário não só porque realiza em primeira pessoa o anúncio do Evangelho, mas também porque dedicou aos temas da missão, com profundidade de pensamento e conhecimento da matéria, páginas significativas do seu magistério e, sobretudo, aquela que, segundo o parecer de muitos, é a sua Encíclica mais bonita, a "Redemptoris missio", de 1990.

Gostaria de discorrer sobre algumas passagens deste documento, que depois de onze anos da sua publicação continua a ser actual e válido e constitui uma verdadeira "charta magna" para qualquer pessoa que se interesse pela missão, recordando, em primeiro lugar, algumas páginas da NMI onde, precisamente com base nas numerosas orientações delineadas na "Redemptoris missio", o Santo Padre evidencia uma série de aspectos importantes da sua e da nossa missão, começando pela exigência de inculturar o Evangelho nas várias culturas do mundo. A este respeito, ele escreve:  "O cristianismo do terceiro milénio deverá responder cada vez melhor a esta exigência de inculturação. Permanecendo plenamente ele próprio, na total fidelidade ao anúncio evangélico e à tradição eclesial, ele assumirá também o rosto das numerosas culturas e dos inúmeros povos onde é recebido e onde se radica". Imediatamente após esta afirmação, o Santo Padre recorda a beleza do rosto pluriforme da Igreja como se manifestou durante o ano jubilar,  ainda  hoje  profundamente  impressa também no meu espírito:  "Talvez seja apenas um início, um ícone esboçado do futuro que o Espírito de Deus nos prepara. A proposta de Cristo deve ser feita a todos com confiança. Dirigir-nos-emos aos adultos, às famílias, aos jovens e às crianças, sem jamais esconder as exigências mais radicais da mensagem evangélica, mas indo  ao  encontro  das  exigências  de  todos no que se refere à sensibilidade e à linguagem, segundo o exemplo de Paulo, que afirmava:  "Fiz-me tudo para todos, para salvar a todo o custo alguns" (1 Cor 9, 22).

Também neste fazer-se tudo para todos, o exemplo do Santo Padre nos orienta de modo firme:  quantas vezes o vimos fazer-se compreender pelas mais diversas categorias de pessoas, conseguindo estabelecer com os povos do norte e do sul do mundo, com homens e mulheres, com jovens e com idosos, aquela capacidade de ouvir e aquela profunda comunhão que estão na base da comunicação autêntica.

A comunicação no íntimo. Eis outro ponto decisivo. Ela, explica-nos ainda o Santo Padre, baseia-se num diálogo honesto e sincero entre partes diferentes. Mas não termina unicamente com o intercâmbio de opiniões, no pronunciamento de lindas palavras de circunstância. Aliás, um diálogo profundo pode surgir também de poucas e simples palavras, quando elas se tornam veículo de um testemunho de vida absolutamente coerente com aquilo que se diz. Esta, mais uma vez, é a nota característica da personalidade do Santo Padre, cujas palavras captam a atenção dos ouvintes, precisamente porque eles as sentem verdadeiras, quer no sentido de serem fiéis ao que foi dito pela Palavra de Deus quer porque se demonstram conformes com as acções de quem as anuncia. Penso que merece ser observado, num mundo como o nosso, no qual predomina o relativismo ético, o facto de que ninguém, entre todos os que afirmam não serem crentes ou então contestam em tudo ou em parte a mensagem cristã anunciada por João Paulo II, jamais pôde fazer-lhe uma mínima crítica de incoerência pessoal. Podemos transcrever, reconhecendo-nos muito menos dignos dele, o que o Santo Padre afirma no n. 54 da NMI:  "Esta, é uma tarefa que nos faz estremecer, se olharmos para a fraqueza que, com muitas frequência, nos torna obscuros e cheios de sombras. Mas não é tarefa impossível, se expondo-nos à luz de Cristo, soubermos abrir-nos à graça que nos torna homens livres".

Tudo isto nos deve estimular a não ter receio, a confiar com um coração de filhos na ajuda e no perdão de Deus-Pai. Devemos fazê-lo em todas as ocasiões, e de maneira particular, quando somos chamados a oferecer o testemunho pleno da nossa esperança.

"Não devemos recear admoesta ainda o Santo Padre no n. 56 que possa constituir uma ofensa à identidade do próximo aquilo que, ao contrário, é anúncio jubiloso de um dom que é de todos, e que deve ser proposto com o maior respeito da liberdade de cada um:  o dom da revelação do Deus-Amor que "amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único" (Jo 3, 16). Tudo isto, como foi também recentemente realçado pela Declaração Dominus Iesus, não pode ser objecto de uma espécie de tentativa dialógica, como se para nós se tratasse de uma simples opinião:  é para nós, ao contrário, uma graça que nos enche de alegria, é boa nova que temos o dever de anunciar.

"Por conseguinte, a Igreja não pode eximir-se da actividade missionária junto dos povos, e permanece tarefa prioritária da "missio ad gentes" o anúncio de que só em Cristo, "Caminho, Verdade e Vida" (Jo 14, 6), os homens encontram a salvação...".

Sobre esta última citação poderíamos reflectir longamente, mas aqui gostaria de me deter apenas sobre outra bonita definição da missão, proveniente da caneta e da experiência de João Paulo II, isto é, o anúncio jubiloso de um dom que é de todos.

Anúncio jubiloso:  eis um elemento importante para compreender porque é que João Paulo II é a testemunha da esperança. Quantas vezes, demasiadas vezes, devido à fadiga, ao cansaço, à repetitividade de um trabalho quotidiano, das inevitáveis dificuldades que encontramos no nosso dia-a-dia, o anúncio evangélico corre o risco de se tornar maçador, obsoleto, triste e, por iso, ineficiente. Contudo, explica bem o Papa, ele é anúncio de um dom gratuito de salvação, oferecido a todos, sem excluir ninguém, e por isso é uma alegria que deve ser comunicada com júbilo. Sob este ponto de vista, quem quer que assista, mesmo uma só vez, a uma das aparições em público do Santo Padre, não pode deixar de se sentir intimamente tocado pela atmosfera de alegria autêntica, até de festa, que circunda sempre João Paulo II. Esta alegria é o sinal daquele verdadeiro e próprio intercâmbio de amor que se gera entre o Sucessor de Pedro e os fiéis:  ele, anuncia com amor uma mensagem de amor, e por isso o seu anúncio é jubiloso; quem ouve, ouve com amor, e por conseguinte com alegria, aquele mesmo anúncio. Como escrevi há tempos:  "Na pregação de Pedro a comunidade cristã local não é importante quanto é grande ou pequena, porque o que é importanto é a grandeza dos corações vai buscar alimento para a sua esperança, cresce no testemunho a própria fé e multiplica as obras de caridade. É como um diálogo de amor:  ao sentirem-se amados pelo Papa, e através do Santo Padre, por todos os cristãos que se reconhecem nele, os fiéis não podem deixar de retribuir, por sua vez, este amor ao Papa e aos irmãos de todo o mundo". Por isso, é lógico que tudo isto se realize na alegria e que esta alegria nunca falte, nem sequer nos momentos de mais fadiga ou de maior sofrimento do Santo Padre.

O sentido da evangelização que, no ensinamento de João Paulo II gera esperança e dá alegria, encontramo-lo descrito de maneira clara na Encíclica "Redemptoris missio". A partir de um facto evidente que, mesmo escondendo as dificuldades existentes, se abre com realismo à missionariedade:  "O nosso tempo oferece novas ocasiões à Igreja; o desmoronamento de ideologias e de sistemas políticos opressivos; a abertura das fronteiras e a formação de um mundo mais unido, graças ao incremento das comunicações, a afirmação entre os povos daqueles valores evangélicos que Jesus encarnou na sua vida (paz, justiça, fraternidade, dedicação aos mais pequeninos); um tipo de desenvolvimento económico e técnico sem alma, que, apesar de tudo, convida a procurar a verdade sobre Deus, sobre o homem, sobre o significado da vida".

Aqui a esperança gera o optimismo evangélico do "Eu venci o mundo". É outra qualidade missionária que podemos aprender do Santo Padre. Um optimismo realisticamente consciente das numerosas dificuldades que se apresentam no caminho da Igreja, mas também das numerosas oportunidades que os novos areópagos do mundo moderno oferecem à evangelização, na confiança de que o anúncio evangélico é obra do Senhor, antes de ser obra humana, e de que o que provém de Deus não pode ser impedido por nada e por ninguém. Até o martírio, como sabem muito bem os missionários de hoje, longe de impedir a evangelização, torna-se ao contrário a semente de novas gerações de cristãos e todas as coisas, tanto as do céu como as da terra, serão um dia, segundo o desígnio de Deus, recapituladas em Cristo, como garante o Apóstolo Paulo.

Ao lado da tentação do desencorajamento, o magistério e o exemplo do Santo Padre ensinam-nos a recusar as lisonjas  daquela  determinada  forma de  pensar  que  tende  a  reduzir  o cristianismo a uma sabedoria meramente humana, quase a uma "ciência do bom viver".

Escreve o Papa no n. 11 da RM:  "Num mundo fortemente secularizado verificou-se uma "gradual secularização da salvação", na qual nos batemos por um homem diminuído, reduzido unicamente à dimensão horizontal. Nós, ao contrário, sabemos que Jesus veio trazer a salvação integral, que engloba o homem todo e todos os homens, abrindo-os aos horizontes admiráveis da filiação divina".

Consiste nisto a ciência da missão, em ser mestres de humanidade. O Santo Padre é-o no maior grau e, como ele, também milhares de missionários e missionárias. Deles aprendemos todos os dias como o evangelho de Cristo vivifica todas as culturas, nada tirando à condição humana de cada povo e elevando-a, ao contrário, às suas máximas potencialidades.

O tema da inculturação recorda imediatamente o da relação com os fiéis de outras religiões:  "O diálogo inter-religioso escreve o Santo Padre no n. 55 faz parte da missão evangelizadora da Igreja. Compreendido como método e meio para um conhecimento e enriquecimento recíprocos, ele não está em contraposição com a missão ad gentes, aliás, tem vínculos especiais com ela e é uma sua expressão... à luz da economia da salvação, a Igreja não vê um contraste entre o anúncio de Cristo e o diálogo inter-religioso; mas sente a necessidade de os compôr no âmbito da sua missão ad gentes". A forma de realizar este delicado encontro é, mais uma vez, a que o Santo Padre nos indicou nos seus repetidos encontros com os representantes das outras religiões.

Nenhuma forma de sincretismo, respeito recíproco, fraternidade, empenho sobre pontos muito concretos, como a acção em defesa da paz, e para a redução da fome e da pobreza. Estes são factos que estão em sintonia com a evangelização.

A este propósito, não posso deixar de mencionar os parágrafos 59 e 60 da RM, onde o Santo Padre define a caridade como a fonte e o critério da missão:  "...é preciso voltar a uma vida mais austera que favoreça um novo modelo de desenvolvimento, atento aos valores éticos e religiosos. A actividade missionária leva aos pobres a luz e o estímulo para o verdadeiro desenvolvimento, enquanto que a nova evangelização deve, entre outras coisas, gerar nos ricos a consciência de que chegou o momento de se tornarem realmente irmãos dos pobres na conversão comum ao desenvolvimento integral aberto ao Absoluto".

A Igreja em todo o mundo disse o Papa durante a sua primeira visita no Brasil deseja ser a Igreja dos pobres. Ela quer tirar toda a verdade contida nas bem-aventuranças e sobretudo na primeira:  "Felizes os pobres em espírito". Ela deseja ensinar esta verdade e pô-la em prática como Jesus que veio para agir e ensinar".

Agir e ensinar. Eis o caminho da evangelização  indicada  por  João  Paulo II nestes longos anos de pontificado. E não poderia ser de outra maneira, porque  não  existem  outros  caminhos, é o caminho que a Igreja deve percorrer no terceiro milénio para ser verdadeiramente uma Igreja em missão no mundo.

Poderia dizer ainda muito sobre as acções e os ensinamentos do Santo Padre a respeito da evangelização e da missionariedade do Santo Padre. Mas permiti que eu termine estas breves palavras com a profecia de esperança que, no n. 86 da RM, o Papa colocou quase no final da sua Encíclica missionária:  "... Deus está a preparar uma grande primavera cristã, da qual já se entrevê o início. Com efeito, tanto no mundo não cristão, como no de antiga cristandade, verifica-se uma progressiva aproximação dos povos aos ideais e aos valores evangélicos, que a Igreja se esforça por favorecer. De facto, hoje manifesta-se uma nova convergência por parte dos povos para estes valores. A recusa da violência e da guerra, o respeito da pessoa humana e dos seus direitos, o desejo de liberdade, de justiça e de fraternidade, a tendência a superar as formas de racismo e de nacionalismos, a afirmação da dignidade e a valorização da mulher.

"A esperança cristã nos ampare no nosso empenho profundo pela nova evangelização e na missão universal, fazendo com que rezemos como Jesus nos ensinou:  "Venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade, na terra como no Céu" (Mt 6, 10)".

É esta a oração do Papa, é esta a oração  de  todos  nós  para  que  a Igreja, a exemplo de João Paulo II, continue, com alegria e firme esperança, a anunciar a salvação de Cristo a todos os povos.

Maria, Mãe da Igreja e estrela da evangelização, nos  assista e  nos  proteja.

 

 

 

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