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PONTIFICIUM OPUS A SANCTA INFANTIA

 

O ROSÁRIO AJUDA-NOS
A SER COMO CRIANÇAS
 

Em outubro de 1973, por ocasião do IV centenário da festa do Rosário, o futuro Papa João Paulo I, Albino Luciani, então Patriarca de Veneza (Itália), pregou uma homilia própria para essa circunstância.

Nas suas palavras vislumbra-se a espiritualidade do «
ser como crianças», e de que modo a recitação do Rosário nos ajuda neste empreendimento. Em seguida, apresentamos alguns parágrafos da sua homilia, hoje de grande utilidade para os animadores e para as crianças.

«Se, em um encontro de católicos, eu convidasse as senhoras e os senhores a mostrarem o conteúdo das suas bolsas e dos seus bolsos? Sem dúvida, veria uma grande quantidade de pentes, de pequenos espelhos, de batons, de porta-moedas, de isqueiros e de outras coisinhas mais ou menos úteis. Mas quantos terços do rosário encontraria? Há alguns anos, o seu número teria sido superior. Na casa do escritor Manzoni, em Milão, pendurado na cabeceira da sua cama, ainda hoje se vê o seu terço: ele recitava-o habitualmente e, na sua obra "Os Noivos”, a sua Lúcia pega o rosário e recita-o nos momentos mais dramáticos. Certa vez Windthorst, homem de Estado alemão, foi convidado por alguns amigos não praticantes a mostrar-lhes o seu terço.

Tratava-se de uma brincadeira: antes, eles tiraram-lhe o terço do bolso esquerdo. Não o encontrando no bolso esquerdo, Windthorst pôs a mão no bolso direito e fez uma bonita figura, pois tinha sempre um terço a mais! Durante as recepções na corte de Viena, o grande músico Cristóvão Gluck afastava-se por alguns minutos para recitar o rosário. Quando o Beato Contardo Ferrini, professor universitário em Pavia, se hospedava na casa dos seus amigos, convidava-os a recitar o terço juntamente com ele. Por sua vez, Santa Bernadete assegurava que, quando Nossa Senhora lhe aparecia, tinha o terço nas mãos e perguntava-lhe se também ela o tinha, convidando-a então a recitá-lo; e a Virgem recomendou a recitação do rosário também aos três pastorinhos. Por que motivo comecei com esta série de exemplos? Porque certas pessoas contestam o rosário, dizendo: é uma oração infantil e supersticiosa, indigna de cristãos adultos. Ou então: é uma oração que cai no automatismo, reduzindo-se a uma repetição apressada, monótona e maçante de Ave-Marias. Ou ainda: é uma coisa de outros tempos, dado que hoje há práticas melhores: por exemplo, a leitura da Bíblia, que é muito melhor do que a recitação do rosário!

Permiti-me enumerar, a este propósito, algumas impressões de pastor de almas.

Primeira impressão. A crise do rosário vem em segundo lugar. Hoje existe sobretudo uma crise da oração em geral. As pessoas estão totalmente tomadas pelos seus interesses materiais e pensam muito pouco na sua própria alma. Depois, a confusão invadiu a nossa existência. Macbeth poderia repetir: matei o sono, matei o silêncio! Para a vida íntima e a “dulcis sermocinatio”, ou dócil colóquio com Deus, é difícil encontrar um pouco de tempo. É um prejuízo. Donoso Cortés costumava dizer: “Hoje o mundo vai mal porque existem mais batalhas do que orações”. Desenvolvem-se as liturgias comunitárias, que sem dúvida são um grande bem; contudo, elas não são suficientes: é necessário também o colóquio pessoal com Deus.

Segunda impressão. Quando se fala de “cristãos adultos” na oração, às vezes as pessoas exageram. Pessoalmente, quando falo a sós com Deus e com Nossa Senhora, mais do que adulto, prefiro sentir-me como uma criança. A mitra, o barrete e o anel desaparecem: mando o adulto e inclusive o bispo de férias, com a devida dignidade, refletida e ponderada, abandonando-me então à ternura espontânea que um filho tem diante do paizinho e da mãezinha. Ser – pelo menos durante meia hora – diante de Deus aquilo que na realidade sou, unicamente com a minha miséria e com o melhor de mim mesmo: sentir brotar do fundo do meu ser a criança de outrora, que quer sorrir, falar, amar o Senhor, e que às vezes sente a necessidade de chorar, para que lhe seja concedida a misericórdia, tudo isto me ajuda a rezar. O rosário por sua vez, como oração simples e fácil, ajuda-me a ser criança e disto não me envergonho de modo algum.

O rosário é uma oração repetitiva? O Padre de Foucauld costumava dizer: “O amor exprime-se com poucas palavras, sempre as mesmas, que se repetem sempre”».

 

 
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