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PONTIFÍCIO CONSELHO PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

MENSAGEM AOS BUDISTAS PARA A FESTA DO  VESAKH 2017

«Cristãos e budistas: percorramos juntos o caminho da não-violência»

 

Prezados amigos budistas!

Em nome do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, transmitimos-vos as nossas mais amáveis saudações, bons votos e orações por ocasião do Vesakh. Que esta festa infunda alegria e paz em todos vós, nas vossas famílias, comunidades e nações.

Este ano queremos refletir convosco sobre a urgente necessidade de promover uma cultura de paz e de não-violência. A religião está na primeira página no nosso mundo, embora às vezes de maneiras opostas. Enquanto muitos crentes se comprometem a fomentar a paz, outros exploram a religião para justificar os seus gestos de violência e ódio. Vemos que às vítimas da violência oferecem cura e reconciliação, mas também tentativas de apagar qualquer vestígio e memória do «outro». Abre-se o caminho para a cooperação religiosa global, mas também se assiste à politização da religião; há uma consciência da pobreza endémica e da fome no mundo, e no entanto continua a deplorável corrida aos armamentos. Esta situação exige um apelo à não-violência, uma rejeição da violência em todas as suas formas.

Jesus Cristo e Buda promoveram a não-violência e foram construtores de paz. Como escreve o Papa Francisco: «O próprio Jesus viveu em tempos de violência. Ensinou que o verdadeiro campo de batalha, onde se defrontam a violência e a paz, é o coração humano: “Porque é do interior do coração dos homens que saem os maus pensamentos” (Mc 7, 21)» (Mensagem para o Dia mundial da paz de 2017 «Não-violência: estilo de uma política para a paz», n. 3). O Pontífice ressalta também que «Jesus traçou o caminho da não-violência que Ele percorreu até ao fim, até à cruz, através da qual estabeleceu a paz e destruiu a inimizade (cf. Ef 2, 14-16)» (ibidem). Por conseguinte, «hoje, ser verdadeiro discípulo de Jesus, significa aderir também à sua proposta de não-violência» (ibidem).

Caros amigos, o vosso fundador Buda anunciou inclusive uma mensagem de não-violência e paz, encorajando todos a «conquistar aquele que está irado sem se irar, o malvado com a bondade, o miserável com a generosidade, o mentiroso com a verdade» (Dhammapada, n. XVII, 3). Ele ensinou também que «a vitória gera inimizade, deixando os vencidos no sofrimento. Os pacíficos vivem em paz, transtornando tanto a vitória como a derrota» (ibid., XV, 5). Por isso, ele observou que a conquista de si mesmo vale mais do que a conquista do outro: «Não obstante possamos conquistar mil vezes mil homens em batalha, o vencedor mais nobre é, em última análise, aquele que se conquista a si mesmo» (ibid., VIII, 4).

Não obstante estes nobres ensinamentos, muitas das nossas sociedades devem fazer as contas com o impacto das feridas passadas e presentes, causadas pela violência e pelos conflitos. Isto inclui a violência doméstica, assim como a violência financeira, social, cultural, psicológica e contra o meio ambiente, que é a nossa casa comum. É triste que a violência gere outros males sociais; por isso, «a escolha da não-violência como estilo de vida torna-se cada vez mais uma exigência de responsabilidade a todos os níveis» (Discurso do Santo Padre Francisco por ocasião da apresentação das Cartas Credenciais de alguns embaixadores, 15 de dezembro de 2016).

Embora reconheçamos a unicidade das nossas duas religiões, em relação às quais permanecemos comprometidos, contudo concordamos que a violência brota do coração do homem, e que os males da pessoa causam males estruturais. Por isso, somos chamados a um empreendimento comum: estudar as causas da violência; ensinar os nossos respetivos seguidores a combater o mal nos seus corações; libertar do mal tanto as vítimas como aqueles que praticam a violência; formar os corações e as mentes de todos, especialmente das crianças; amar e viver em paz com todos e com o meio ambiente; ensinar que não existe paz sem justiça, nem verdadeira justiça sem perdão; convidar todos a colaborar para a prevenção dos conflitos na reconstrução das sociedades fragmentadas; encorajar os meios de comunicação social a evitar e combater discursos de ódio e relatórios de parte e provocatórios; fomentar as reformas no campo da educação, para prevenir a deturpação e a má interpretação da história e dos textos das Escrituras; e por fim rezar pela paz no mundo, percorrendo juntos o caminho da não-violência.

Estimados amigos, podemos dedicar-nos ativamente à promoção no seio das nossas famílias, assim como nas instituições sociais, políticas, civis e religiosas, um novo estilo de vida em que se rejeite a violência e se respeite a pessoa humana. É com este espírito que vos reiteramos os nossos votos de uma pacífica e alegre festa do Vesakh!

 

Cardeal Jean-Louis Tauran
 Presidente

D. Miguel Ángel Ayuso Guixot, MCCJ
 Secretário