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 Pontificio Conselho para os Migrantes e os Itinerantes

I Encontro Internacional para a Pastoral 

dos Meninos de Rua

Roma, 25-26 de outubro de 2004

Documento final

 O evento

Realizou-se na sede do Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, em Roma, o I Encontro Internacional para a pastoral dos meninos de rua. Participaram no mesmo, além dos Superiores do Pontifício Conselho e dos seus dois Oficiais do setor, dois Bispos e vários sacerdotes, religiosos/as e leigos representantes das Conferências Episcopais de 11 Nações Européias, quer dizer, Alemanha, Áustria, Espanha, Estônia, Federação Russa, Hungria, Irlanda, Itália, Polônia, Portugal, e República Checa além dos de 7 países de outros continentes, incluindo os expertos, isto é, de Bolívia, Brasil, Congo R.D., Filipinas, Índia, México e Peru. Estavam presentes também, além do Secretário Geral da Caritas internacional, delegados de “Kindermissionswerk” (Alemanha) e representantes da Congregação Salesiana, das Irmãs do Bom Pastor e dos Irmãos das Escolas Cristãs.

 Foi enviada pelo Santo Padre uma Mensagem de encorajamento aos participantes à reunião, a qual, com um telegrama do Em.mo Sr. Cardeal Angelo Sodano, Secretário de Estado, enviou uma saudação de boas vindas e formulou calorosos votos para o bom êxito do Congresso. O texto recorda a predileção do Divino Mestre para com os pequenos, em favor dos quais “o Santo Padre deseja que o providencial encontro contribua para formular propostas concretas de eficazes intervenções de acolhida e assistência à juventude em risco, para os sem casa e sem família, para a tutela dos direitos e da dignidade de cada menino e menina em dificuldade”. Para confirmar “tal necessidade da ação social e religiosa”, Sua Santidade assegurou a todos os participantes uma oração propiciadora para os que dedicam-se a evangelizar o mundo juvenil assim como para aqueles que são confiados aos seus cuidados.

 Iniciaram-se os trabalhos depois de uma calorosa saudação do Presidente do Pontifício Conselho, o Em.mo Sr. Cardeal Stephen Fumio Hamao e sua conferência sobre o tema: “Os meninos, inclusive os da rua, à luz dos recentes ensinamentos de João Paulo II”. Ele ressaltou a importância do fenômeno em questão, que solicita a atenção e a caridade pastoral da Igreja Universal e das Igrejas locais. Em particular – afirmou o Sr. Cardeal – “a rua torna-se lugar de planificação de uma pastoral específica para os meninos que vivem nela”.

 O Arcebispo Agostino Marchetto, Secretário do Dicastério, apresentou alguns critérios de avaliação a respeito do fenômeno dos meninos de rua, com a sua intervenção intitulada: ‘A Pastoral de acolhidaÂ’ a favor dos meninos de rua. O Arcebispo salientou um vasto e importante campo de apostolado que requer também novos objetos-sujeitos pastorais. Referia-se com preocupação sobretudo aos meninos e às meninas, muitos dos quais vivem também nas entranhas das grandes e frias cidades.

 As intervenções sucessivas dos participantes à reunião colocaram em evidência vários aspectos da atual “realidade” da rua. Para ela a Igreja olha com simpatia e convida a acolher os valores espirituais e teológicos subjacentes a um empenho pastoral que revela a benevolência de Deus em relação aos meninos de rua, conscientes, todos, de tragédias que estão submetidas a tal experiência. Por isso a especial preocupação para o dramático número crescente de meninos de rua e na rua, da qual deriva, com urgência, a necessidade de uma ação pastoral, além das laudáveis iniciativas de assistências que existem atualmente, e da dificuldade de incluir tal ação nas atuais estruturas eclesiais.

 A conferência do Prof. Mario Pollo, intitulada: “A Pastoral dos meninos de rua” (visão de conjunto), ofereceu um quadro geral da situação, tirado das respostas ao questionário a seu tempo enviado a todos os participantes. Desse resulta justamente uma certa carência do aspecto mais especificamente pastoral de quanto até agora tem sido feito.

Durante a Mesa redonda, com a participação de 6 expertos, procurou-se, “colocar as grandes linhas de uma pastoral específica”.

 No final deste Encontro Internacional, depois de trocas de notícias, opiniões e aprofundamento, se tomou nota, com gratidão, de interessantes iniciativas já existentes, contando com a diversidade de situações pastorais nos diferentes países. Reafirmando o propósito de prosseguir no trabalho empreendido nestes dois dias, os participantes examinaram “táticas” e “estratégias” para o futuro, metodologias e objetivos que foram resumidos neste documento final.

 Conclusões

 1. Sem dúvida, os meninos de rua constituem um dos desafios mais comprometidos e inquietantes do nosso século também para a Igreja, além de que para a sociedade civil e política. Se está diante de um fenômeno de insuspeitável amplitude inclusive para as instituições públicas: um povo de cerca de 100 milhões de meninos, segundo as estimativas de “Amnesty International” (150 milhões ao dizer da organização Internacional do Trabalho); além disso, um fenômeno em crescimento em quase toda parte: isto implica uma verdadeira e própria emergência social, além da pastoral.

 2. Constatou-se que, mesmo, quando as instituições públicas manifestam claro conhecimento da gravidade do fenômeno, não se mobilizam adequadamente para traduzi-lo em intervenções eficazes de prevenção e recuperação. freqüentemente, na sociedade civil, a atitude prevalente é aquela de alarme social, porquê, tem diante de si uma ameaça à ordem pública. Portanto, existe uma preocupação maior com a proteção pessoal perante o perigo constituído pelos meninos de rua, do que uma disposição de ajudá-los; é pois difícil fazer emergir o sentido humanitário e solidário do problema, e, mais ainda, o sentido cristão diante do mesmo.

 3. Durante o Encontro resultou claramente que os meninos de rua, em estreito sentido, são privados de vínculos com o seu próprio núcleo familiar de origem, isto é, os meninos que fizeram da rua a sua habitação, com freqüência são obrigados a dormir na mesma, e, entre eles notou-se uma vasta gama de situações. Dito sumariamente, no assunto existe quem sofreu a experiência traumatizante de uma família destruída e ficou sozinho, e quem foi expulso ou fugiu de casa por ser demasiado esquecido, descuidado ou maltratado. Existem também, aqueles que rejeitam a casa ou dela são rejeitados porque estão comprometidos com várias formas de “marginalização” (drogas, álcool, furto e outros expedientes para sobreviver). Por outro lado, muitos são induzidos com promessas, seduções ou violências, por parte de adultos ou de clãs de má vida, a permanecer na rua, coisa que freqüentemente acontece para jovens estrangeiras obrigadas a prostituir-se ou para menores estrangeiros não acompanhados e obrigados a mendigar. Estes meninos experimentam na sua vida a interferência das forças de ordem e o cárcere. Nos países em via de desenvolvimento é impressionante o número de meninos que entram nesta categoria.

 4. Diferente da categoria precedente é aquela dos “meninos na rua”, isto é, daqueles que transcorrem grande parte do seu tempo na estrada, mesmo não sendo privados de “casa” e de um vínculo com a família originária. Eles preferem viver o dia, com escassa ou nenhuma responsabilidade para a formação e para o futuro, em grupos pouco recomendáveis, geralmente fora da família, até mesmo se nela ainda possam encontrar um lugar para dormir. O número deles é preocupante inclusive nos países desenvolvidos.

 5. Numerosas são as causas à base deste fenômeno social de dimensões sempre mais alarmantes. Entre as principais foram indicadas as seguintes:

- a crescente desagregação das famílias, situações de tensões entre os pais, comportamentos agressivos, violentos e às vezes perversos em relação aos filhos;

- a emigração, com quanto comporta de desenraizamento do contexto habitual de vida e conseqüente desorientação;

- as condições de pobreza e de miséria que mortificam a dignidade e privam do indispensável para a vida;

- o aumento da tóxico-dependência e do alcoolismo;

- a prostituição e a indústria do sexo, que continua a fazer um número impressionante de vítimas, freqüentemente induzidas com violências alucinantes às escravidões mais ferozes;

- as guerras e as desordens que transtornam inclusive para os menores a normalidade da vida;

- o difundir-se, sobretudo na Europa, de uma “cultura da tóxico dependência e da transgressão”;

- a falta de valores de referência, a solidão e um sentido cada vez mais profundo de vazio existencial que caracterizam o mundo juvenil em geral.

 6. Quanto mais se apresenta alarmante a entidade do problema e carente de presença efetiva dos poderes públicos, tanto mais se reconhece apreciável e precioso, em matéria, a intervenção do social privado e do voluntariado. O associacionismo de área eclesial e de inspiração cristã resulta ativo e eficiente, todavia é absolutamente inadequado diante da amplitude das necessidades e, ainda mais, destacado de uma pastoral orgânica específica. Notou-se assim, que as Dioceses e as Conferências Episcopais nacionais não assumem suficientemente este problema, isto é tanto no que diz respeito à prevenção quanto à recuperação dos meninos. Existem todavia realizações positivas, que são de encorajamento e estímulo para quem considere que o terreno é muito ingrato para investir nele maiores energias.

 7. No decorrer do Encontro constatou-se que na maioria dos casos as atividades são planejadas e levadas adiante por agentes profundamente motivados e profissionalmente bem preparados, em relação aos responsáveis de tais iniciativas, bem como o corpo de voluntários.

 8. Contudo na variedade de planejamentos, parece que foi encontrado uma substancial concordância de objetivos, quer dizer:

- recuperar o menino de rua a uma vida normal, que comporte a sua re-inserção na sociedade, mas sobretudo num ambiente de família, de preferência na sua família de origem ou noutra, ou ainda, numa estrutura comunitária, mas sempre de tipo familiar;

- levar o menino a ter confiança em si mesmo, à auto-estima, ao sentido da sua dignidade e conseqüente responsabilidade pessoal;

- fazer nascer nele o autêntico desejo de retomar um currículo escolar e de preparar-se profissionalmente para uma inserção de trabalho na sociedade, de maneira que possa desenvolver, com suas próprias forças e não somente na dependência de outros, dignos e gratificantes projetos de vida.

 9. As tipologias de intervenções em favor dos meninos de rua resultaram diferentes e muito  variadas, como:

- o assim chamado compromisso na rua, que prevê o contato com os meninos nos lugares de   reunião, a fim de estabelecer uma relação empática e de confiança que consinta aos meninos em dificuldade e na “marginalização” uma abertura para o educador;

- os centros diurnos orientados à promoção de condições essências a fim de que os meninos possam viver com dignidade;

- as iniciativas de apoio para a satisfação das necessidades primárias: mesa, roupa e assistência sócio-sanitária;

- as estruturas educativas e formativas: educação infantil, escola, cursos de formação profissional;

- os centros de acolhida residencial, onde recebe-se também instrução e formação, mas sobretudo onde se faz o acompanhamento humano com o suporte inclusive das disciplinas psico-pedagógicas. Em certos casos realiza-se também um acompanhamento espiritual, baseado no Evangelho, com o compromisso de um caminho responsável de reconstrução interior e de cura do coração;

- a atividade orientada à re-inserção do menino no núcleo originário de pertença ou em novas comunidades de adoção;

- a atividade de maior dimensão que chegue até a sociedade civil e eclesial, não simplesmente para informar, mas para sensibilizar e envolver principalmente na obra de prevenção do fenômeno e do apoio os meninos restituídos ao seu ambiente natural;

- os cursos de formação e de atualização para agentes e voluntários, a fim de garantir em todos uma séria profissionalização.

10. Quanto ao método, as manifestações fundamentais que apareceram no decorrer do Encontro são  estas:

- trabalho em equipe de todos os agentes;

- compromisso paralelo de apoio aos pais, em caso de poder contatá-los e de serem disponíveis à colaboração;

- re-inserção na escola e na formação profissional;

- construção e aumento de redes de amizades, também fora das estruturas de acolhida;

- grande importância às atividades lúdicas, esportivas e todas aquelas que estimulam o menino a assumir papéis ativos de responsabilidade e criatividade.

11. O compromisso com os meninos de rua, certamente não é fácil, pelo contrário, às vezes parece frustrante e sem perspectiva, e em tal caso pode-se ter a tentação de “deixar as armas” e retirar-se. É o momento de recorrer às motivações de fundo que impulsionaram a dedicar-se a esta obra benemérita. Para o fiel trata-se em primeiro lugar de motivações de fé. De todo modo é útil olhar com atenção sobre quem faz uma experiência decididamente positiva, - e isto emergiu claramente durante o Encontro -, para quem sustenta justamente que o trabalho tem resultados satisfatórios para muitos, e, às vezes, para a maioria dos casos. Porém, é necessária a prudência para esperar a confirmação do tempo, verificando-se por exemplo, depois de cinco anos, o “resultado” da recuperação e da normalização do sujeito. De fato, poderia verificar-se uma recaída, um retorno à rua; porém, verifica-se também o contrário para quem, refratário num primeiro momento à obra dos educadores, abre-se mais tarde ao caminho de recuperação dos valores que lhe foram propostos.

12. Todavia foi geral a constatação da urgência de intervenção: o nome da infância é “hoje“,  amanhã é demasiado tarde. Além disso, a recuperação em tenra idade é relativamente fácil, e não é o mesmo quando inicia a adolescência.

13. Infelizmente a Convenção da ONU, de 1989, sobre os Direitos da criança, apesar de ser aprovada formalmente por tantos países, é ainda hoje muito desatenta na aplicação.

 Recomendações

1. Resulta com evidência que é necessária uma maior tomada de consciência sobre a gravidade do fenômeno e um maior empenho sistemático para enfrentá-lo, e isto vale também para o âmbito eclesial onde as intervenções de caráter humanitário em favor dos meninos de rua deveriam ser acompanhadas com a essencial obrigação de evangelização. Tem sido o desejo de todos a organização de uma pastoral específica para estes meninos, formulando novas estratégias e modalidades para colocá-los em contato com a força libertadora do Evangelho.

 2. Todavia, como resulta também da investigação em vista do Encontro, somente uma minoria das iniciativas, incluindo o âmbito eclesial, vai além das intervenções sócio-assistenciais e psico-pedagógicas, as quais não assumem, pelo menos num primeiro momento, uma clara e qualificada pastoral de primeira ou de nova evangelização, na tentativa de recuperar e valorizar a dimensão religiosa do menino.

 3. Constata-se, pois, uma dúplice via e modalidade de intervenção: 1) a que aponta diretamente sobre a proposta religiosa e especificamente evangélica, para recuperar o menino, uma vez que tenha entrado nesta área de fé, também aos valores humanos e à liberação dos condicionamentos e das situações que o levaram à rua; 2) ou melhor, aponta-se sobre a recuperação humana do menino até restituí-lhe o equilíbrio e normalização e a plena identidade humana. Acompanha-se esta paciente obra com propostas e referências religiosas, na medida em que isto seja compatível com a condição própria do menino e do país onde se encontra. Tais propostas – têm-se estimado – não devem ser colocadas em contraposição entre elas. Umas e outras podem constituir itinerários percorríveis; a escolha depende da situação pessoal do menino, do ambiente no qual se encontra e sobretudo da personalidade dos educadores.

 4. De todo modo o quadro de referência de quem faz “leva” sobre a proposta religiosa, - que permanece fundamental porque o problema que é comum ao povo da rua não é tanto a miséria, a tóxico-dependência, o alcoolismo, a marginalização, a violência, a criminalidade, a Aids, a prostituição, mas sim, o terrível mal da ‘morte da almaÂ’ (“a paga do pecado é a morte”: Rm 6,23); trata-se aqui com muita freqüência de criaturas que, na plena juventude estão ‘mortas por dentroÂ’- é o seguinte:

 a) É necessário acolher o urgente convite para uma nova evangelização que o Santo Padre há muitos anos repete. Somente o encontro com o Cristo Ressuscitado pode devolver a alegria da ressurreição a quem está na morte. Somente o encontro com Aquele que veio enfaixar as feridas dos corações despedaçados pode curar as profundas feridas dos corações traumatizados e empedernidos pelas muitas frustrações e violências sofridas.

b) É fundamental passar da pastoral de espera à pastoral do encontro, agindo com fantasia, criatividade e coragem a fim de encontrar os meninos nos seus novos lugares de reunião, nas ruas e nas praças, como também nos lugares freqüentados por eles, isto é, nas discotecas e nas zonas mais ‘quentesÂ’ das nossas metrópoles. É necessário ir ao encontro deles com amor para levar o feliz anúncio e testemunhar com a própria experiência de vida que Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida.

c) É indispensável dar testemunho da luz de Jesus Cristo que ilumina e abre novos caminhos a quem se sente torturado pelas trevas. É pois, urgente despertar na comunidade cristã a própria vocação ao serviço e à missão, num crescente e sentido conhecimento do poder salvífico da fé e dos sacramentos. De fato, muitos meninos continuam morrendo nas ruas diante da indiferença da maioria: não acolher com grande empenho o aflito convite do Santo Padre à nova evangelização é um verdadeiro e próprio pecado de omissão por falta de socorro aos irmãos ‘moribundosÂ’. Por isso é importante contemplar, nos projetos pastorais, as mais variadas intervenções que levem o primeiro anúncio aos ‘que estão longeÂ’, que dêem a possibilidade aos meninos de rua de serem acompanhados, a fim de estabelecer uma nova relação consigo mesmo, com os outros e com Deus, com a comunidade de pertença ou de adoção e de descobrir que existe alguém que os ama. 

d) Deseja-se porém: 

- A criação de comunidades e grupos (paroquiais ou não) onde os jovens tenham a possibilidade de conhecer e viver o Evangelho com radicalidade, experimentando em primeira pessoa o poder da cura.

- A instituição nas paróquias e nas várias realidades eclesiais, escolas de oração que dêem um novo impulso à dimensão contemplativa e de conseqüência missionária dos diferentes grupos.

- A formação de equipes de evangelização capazes de testemunhar com entusiasmo a maravilhosa Notícia que Cristo veio nos trazer, e meninos ‘missionáriosÂ’ que levem o abraço de Cristo Ressuscitado aos seus companheiros e aos ‘novos pobresÂ’ do nosso século.

- Além disso, a formação nas várias dioceses de jovens cada vez mais preparados profissionalmente que saibam fazer confluir os seus talentos artísticos e musicais na criação de novos espetáculos capazes de incidir significativamente na prevenção e reunir com mensagens evangélicas milhares de jovens.

- A criação de centros de formação à evangelização de rua, a constituição de lugares alternativos de encontro juvenil que ofereçam propostas densas de valores e significados e de centros de escuta e de iniciativas de prevenções e de evangelização nas escolas.

- O compromisso em utilizar os mass-mídia como preciosos instrumentos para “gritar sobre os tetos” o Evangelho.

- A constituição de novas comunidades e grupos de acolhida que acompanhem os meninos num longo e empenhado caminho de cura interior, baseada no Evangelho, com aquele amor que Cristo nos ensinou, um amor que não se contenta de fazer a caridade, mas sim, que se encarregue do grito, da angústia, das feridas, da morte dos pequenos e dos pobres, um amor pronto a dar a vida para os próprios amigos.

 5. Durante o Encontro constatou-se todavia, que, também o educador que não parte da explícita e forte proposta religiosa, pode viver - e é real para muitos - uma atitude interior inspirada na fé, bem expressada - e a desejamos inspiradora para todos - de uma tríplice imagem evangélica.

a) antes de tudo aquela de Jesus diante da adúltera: o Mestre é respeitoso e afetuoso, não julga, não  condena a pessoa, mas a encoraja com a sua própria atitude a mudar de vida.

b) A segunda imagem, do Bom Pastor que vai à procura da ovelha perdida (tanto mais se, trata-se de um cordeirinho) encoraja a não esperar, e muito menos pretender, que seja a ovelha a retomar o caminho do aprisco

Estas, pois, resultaram ser as etapas obrigadas e desejadas para uma pastoral dos meninos de rua:

- observar, escutar, compreender por dentro este mundo que é tão misterioso (o Bom pastor conhece as suas ovelhas);

- tomar a iniciativa do encontro, caminhando pela rua, de tal maneira que o menino perceba que o educador se encontra bem, ali também, onde ele escolheu de estar ou é obrigado a ficar (o Pastor deixa o aprisco e vai);

- formar com ele uma relação espontânea, calorosa de afeto e de interesse, de uma autêntica amizade que não é necessário proclamar com tantas palavras pois, transparece em cada gesto (O Pastor a leva sobre os ombros e faz festa com os amigos).

c) A terceira imagem é aquela dos discípulos de Emaús: eles finalmente abriram os olhos diante do Cristo Ressuscitado e à perspectiva da ressurreição depois de ter feito um certo percurso, durante o qual não foram os olhos, mas o coração que se sentiu impelido para abrir-se à Novidade evangélica.

6. É evidente que com esta atitude interior o segundo percurso educativo sopra enunciado (v. N. 3) tem muito em comum com o primeiro e, sobretudo, os dois têm uma única meta final. Partilham, pois, o objetivo e o método, particularmente nestes traços fundamentais que assim se propõem:

a) Suscitar confiança e auto-estima de tal maneira que o menino compreenda e sinta que ele é importante para o educador, assim como o educador é importante para ele: é o ponto de partida para fazer com convicção e decisão os primeiros passos para outra escolha de vida. Precisa acompanhá-lo na descoberta do Amor de Deus através da experiência concreta do sentir-se acolhido, aceito incondicionalmente e amado pessoalmente por aquilo que ele é. Este contato do tu a tu deve ser continuado também depois que o menino passou sob o cuidado de outros educadores, ou deixou a estrutura de acolhida.

b) Dar espaço ao menino para que tenha um papel ativo na comunidade, suscitar nele o sentido de responsabilidade e de liberdade fazendo com que, na comunidade, sinta-se em sua casa. Isto comporta que na “casa” continue a predominar o calor humano, a espontaneidade, o aproximar-se amigável, mais que a imposição ou a ordem, a disciplina, ou uma norma escrita.

c) Cultivar o relacionamento pessoal com cada menino. De fato, por mais que as metodologias e as regras gerais sejam úteis, cada menino é um caso particular, é um modo original, tem a sua história. Muitos, além disso, mostraram inteligência e energia em sobreviver à situações dificílimas, revelaram-se hábeis, criativos, astutos. Dever-se-á, pois, continuar procurando estes recursos mais ou menos manifestos da sua personalidade a fim de orientá-los a “mudar de caminho” para fazê-los sujeitos e não somente objetos de pastoral para a sua recuperação. Os programas pedagógico-educativos têm portanto, o importante dever de levar o menino a descobrir e valorizar o próprio potencial positivo, fazer frutificar os talentos e desenvolver o melhor possível as suas próprias capacidades.

d) Ter como objetivo (e não é ilusão utópica) que o menino faça próprio e interiorize profundamente o projeto educativo a tal ponto, oxalá, de tornar-se, depois de alguns anos, ajuda e estímulo para outros meninos de rua a fazer o mesmo percurso. Assim ele se coloca ao lado do educador, tornando-se ele mesmo educador, sujeito desta pastoral específica.

e) Reconhecer no empenho a favor dos meninos de rua um caminho privilegiado de serviços ao Senhor e de encontro com Ele: “Toda vez que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40).

7. É evidente dizer que o melhor dos recursos empregados neste campo deve ser orientado para preparar profissionalmente e espiritualmente os Agentes pastorais, que devem mostrar uma grande maturidade humana, serem capazes de renunciar ao sucesso imediato e alimentar a confiança que o fruto do seu empenho poderá revelar-se imediatamente, ou, também, depois de momentos em que parecia que tudo estava para acabar em nada. Além disso, eles devem ter grande capacidade de agirem em sintonia e colaboração com os outros educadores.

8. Prever um trabalho com a família de origem (quando possível), que incida positivamente sobre dinâmicas familiares não sadias e que seja orientado o apoio para a reconstrução da estrutura familiar e ao acompanhamento e re-inserção gradual do menino no núcleo de pertença. 

9. Deve continuar um trabalho de conjunto não somente ao interno das estruturas próprias, mas também com aqueles que estão comprometidos no mesmo território e trabalho ou todavia estão interessados nele. Deve pois, ser procurada e acolhida a colaboração com outras forças não de matriz eclesial mas de autêntica sensibilidade humana e com os entes públicos, também quando não se pode ou não se entende, pela própria decisão, contar nos financiamentos públicos.

10. Todavia deve-se ter muita atenção para que as intervenções de suplência do associacionismo e do voluntariado não criem em quem deveria intervir, a mentalidade e o pretexto para a irresponsabilidade. Também por parte da Igreja, quando é necessário, à função de proposta e de estímulo deve unir-se aquela da crítica construtiva e da denúncia profética.

11. Além disso, deve-se “colocar em rede” o que já existe neste campo, para um intercâmbio da boa práxis, e também para um eventual apoio por parte de quem já tem uma longa experiência nos confrontos de quantos ainda estão no início. 

12. Os meninos de rua acabam sendo uma “fotografia” da sociedade nas quais vivem e que não os têm ajudado, pelo contrário, de algum modo os têm provocado e empurrado à deriva. Os agentes devem ajudar a sociedade a dar-se conta da sua responsabilidade, e alimentar-lhe um certo sentido de inquietude sadia nos confrontos com estes meninos. A mesma atenção dever ter a Igreja local e em particular a comunidade cristã. 

13. Será de grande utilidade para esta mobilização a favor dos meninos de rua a criação junto as Conferências Episcopais e as mesmas Dioceses que têm maior interesse no problema, de uma oficina específica (ou de uma secção particular de um escritório já existente) aquele, por exemplo, da pastoral da mobilidade humana, em contato com aquele juvenil ou familiar. É outrossim igualmente desejável que sejam inseridos nos projetos pastorais gerais, propostas orgânicas, incisivas e contínuas que dêem uma atenção particular à “pastoral de rua” para a qual os agentes específicos devem abrir as comunidades eclesiais a um crescimento de sensibilidade e implicação a fim de encontrar respostas significativas à urgente problemática dos meninos de rua.

14. Deseja-se que o Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os itinerantes convoque periodicamente encontros parecidos com este apenas concluído, pelo menos a nível continental.

Roma, 25-26 de outubro de 2004   

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