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 Pontifical Council for the Pastoral Care of Migrants and Itinerant People

People on the Move

N° 110 (Suppl.), August 2009

 

 

DOCUMENTO FINAL 

I. O evento

Nos dias 1 - 4 de setembro de 2008, no Bildungszentrum Kardinal-Döpfner-Haus em Freising (Alemanha) realizou-se o VI Congresso Mundial da Pastoral para os Ciganos, promovido pelo Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, em parceria com a Conferência Episcopal Alemã. Os 150 delegados (Arcebispos, Bispos, Sacerdotes, Diáconos, Religiosos/as, Agentes pastorais leigos e representantes dos Ciganos), provenientes de 26 países europeus, da América Latina e da Ásia, aprofundaram o tema: “Os jovens ciganos na Igreja e na sociedade”.

Com isto, o Congresso quis dar destaque ao papel que a jovem geração cigana pode desempenhar na promoção humana e cristã do seu próprio povo. Durante os quatro dias de estudo, os participantes consideraram as necessidades espirituais e materiais dos jovens ciganos, inclusive para denunciar as situações desvantajosas que objetivamente pesam sobre eles, e para favorecer uma integração autêntica e uma maior participação deles nos projetos e nas decisões e atividades que se lhes concernem. Procurou-se, ainda, identificar modos mais adequados com  os quais apoiar a sua formação humana, profissional e religiosa.

A abertura do Congresso, no dia 1º de setembro, foi precedida de uma Coletiva de Imprensa de apresentação do tema da reunião por parte do Arcebispo Agostino Marchetto, Secretário do Pontifício Conselho, e do Bispo Norbert Trelle, Promotor Episcopal da Pastoral para os Ciganos na Alemanha.

A sessão de abertura, durante a qual foram apresentadas calorosas saudações das Autoridades eclesiásticas e civis, foi presidida por Dom Norbert Trelle. O Arcebispo Marchetto leu antes a Mensagem-Telegrama, inviada pelo Santo Padre para a ocasião, na qual o Pontífice fazia votos de que o encontro “suscite renovado compromisso ao apoio integração na Igreja e na sociedade dos jovens ciganos”. Falou, a seguir, o Representante Pontifício na Alemanna, Sua Excelência Dom Jean-Claude Périsset, o qual lembrou aos Congressistas em primeiro lugar que o trabalho que estavam prestes a desenvolver deve ter como fundamento o reconhecimento da dignidade do homem. Ele lembrou, a seguir, o lugar preminente de Cristo na vida de todo fiel e na pastoral da Igreja.

As palavras de boas-vindas aos Congressistas da parte do Arcebispo Robert Zollitsch, Presidente da Conferência Episcopal Alemã, impossibilidado de estar presente, foram lidas pelo Bispo Norbert Trelle. Seguiu-se a saudação do Dr. Wolfgang Schäuble, MdB, Ministro do Interior da República Federal da Alemanha, lida pelo seu representante.  Em seguida, o Sr. Bernd Sibler, Secretário de Estado do Ministério da Educação e do Culto na Baviera, saudou os participantes. Por fim, o Sr. Dieter Thalhammer, Prefeito de Freising, fez votos que a particularidade do lugar escolhido como sede do Congresso possa contribuir para o bom êxito dos trabalhos.

A seguir, Dom Marchetto leu as palavras de boas-vindas dirigidas aos participantes de Sua Eminência o Cardeal Renato Raffaele Martino, Presidente do Dicastério Pontifício responsável pela assistência pastoral aos ciganos. Após o agradecimento sincero às Autoridades e aos Congressistas pela sua ponderosa presença, o Purpurado dirigiu aos jovens uma mensagem de encorajamento, lembrando-lhes que são uma riqueza para a Igreja e para a sociedade. Ao mesmo tempo, ressaltou que devido às precárias condições de vida e às escassas oportunidades de instrução e de trabalho, eles experimentam sentimentos de desenraizamento e desigualdade, perda de confiança em si mesmos, no núcleo familiar, nas instituições políticas, jurídicas e educativas, quer sociais quer eclesiais. Portanto, prosseguiu o Cardeal, a Igreja chama todos os homens, especialmente os cristãos, a assumirem as suas responsabilidades, quer no serviço à sociedade quer no compromisso político, a fim de garantir o pleno respeito à dignidade e aos direitos de todo ser humano, com amor, na paz, na justiça e na solidariedade. No que concerne aos Estados – ressaltou o Cardeal – eles são chamados a fornecer o apoio necessário às entidades educacionais e de agregação cigana, às várias famílias (clãs), às escolas e associações nas quais, no respeito às normas e aos regulamentos de convivência civil, se desenvolve uma personalidade equilibrada e responsável e nascem sujeitos idôneos a participar plenamente na vida da comunidade. Por fim, o Cardeal Martino lembrou que nos Congressos precedentes foi apontada a exigência de um serviço central da Igreja, que promuova cooperação e diálogo com os Organismos internacionais e nacionais e com as várias denominações cristãs, para eliminar toda forma de discriminação e violência contra os Ciganos.

Concluída a leitura da saudação do Eminentíssimo Presidente, impossibilitado de participar pessoalmente, o Arcebispo Agostino Marchetto pronunciou o seu discurso de abertura sobre “Os jovens ciganos, uma riqueza para a Igreja e para a sociedade”. Antes de entrar no núcleo do assunto, o Prelado explicou brevemente o uso do termo “Cigano” que, no contexto mundial, consta ser mais apropriado do que o vocábulo “Rom-Sinti” usado geralmente, ao menos numa parte da Europa, para descrever estas populações. Após um breve preâmbulo sobre o Magistério da Igreja concernente aos jovens, o Arcebispo apresentou cinco elementos-chaves do seu discurso: o background formativo, os desafios que se colocam ante os jovens ciganos, hoje, os fatores/as normas para uma inclusão social efetiva, as medidas de organizações e instituições em favor dos Ciganos e, por fim, a relação entre Igreja e jovens ciganos. Com particular insistência, Dom Marchetto ressaltou as dificuldades que os jovens ciganos devem enfrentar no âmbito da instrução e do trabalho, devido não raramente à falta de normas ou regulamentações antidiscriminatórias. A seguir, ele denunciou as discriminações nas questões do habitat e do acesso à assistência médica, campos nos quais, infelizmente, os ciganos continuam sendo ainda vítimas. Entre os desafios que a jovem geração deve enfrentar, o Arcebispo indicou também a falta de objetividade, à qual lançou um apelo a oferecer um serviço de sensibilização para combater preconceitos e estereótipos negativos radicados na sociedade. Ao abordar a relação “Igreja-jovens ciganos”, Dom Marchetto indicou uma série de iniciativas já em andamento e não deixou de lançar propostas para favorecer a maior inserção dos jovens na vida da Igreja e da sociedade. Em conclusão, ele lembrou aos Congressistas o dever de cuidar pastoralmente da nova geração de cristãos entre os Ciganos.

Ao final da sessão de abertura, os 14 Arcebispos e Bispos, os mais de 70 Sacerdotes e numerosos Participantes do Congresso dirigiram-se em procissão à Catedral de Freising, onde houve a solene Concelebração Eucarística, presidida por Sua Excelência Dom Reinhardt Marx, Arcebispo de Munique-Freising.

O primeiro dia concluiu-se com uma “noite de amizade’, verdadeira partilha cultural e social, em clima de fraternidade e de muita cordialidade.

Os trabalhos de terça e quarta-feira, 2 e 3 de setembro, foram articulados em torno de dois momentos principais. A parte da manhã foi dedicada à exposição dos Relatores, com sucessivo debate em assembléia, ao passo que à tarde houve duas mesas-redondas, uma dos Diretores nacionais e a outra de jovens ciganos, coordenadas respectivamente por dois peritos em temáticas juvenis: Sua Excelência Dom Josef Clemens, Secretário do Pontifício Conselho para os Leigos, e Sua Excelência Dom Domenico Sigalini, Assistente Eclesiástico Geral da Ação Católica Italiana.

Na manhã do dia 2 de setembro, foram ilustradas a realidade religiosa e a situação sociopolítica dos jovens ciganos. O Reverendo Padre Denis Membrey, ex-Diretor nacional da Pastoral para os Ciganos na França, ao abordar “A realidade religiosa dos jovens ciganos e os desafios que comporta para a Igreja”, destacou que a juventude cigana é uma realidade de multíplices aspectos. São, ainda, numerosas as perguntas que os jovens colocam aos Agentes pastorais acerca da fé, da religião e da Igreja, e observa-se neles - ressaltou o Padre Membrey – desejo e sede de fé. A resposta pastoral requer, portanto, um conhecimento do ambiente cigano no seu conjunto, da sua história, das várias características da cultura e mentalidade. O Relator convidou, por fim, os Congressistas a refletirem sobre a necessidade e os modos de construírem juntos uma Igreja-comunhão.

A Doutora Eva Rizzin, jovem Sinti e Membro da Federação Rom e Sinti Juntos e do Centro de pesquisa ação contra a discriminação dos Rom e Sinti - Observação, referiu sobre a “Situação sociopolítica da juventude cigana, com particular atenção à Europa, e perspectivas para o futuro”. A Relatora começou a sua explanação com uma denúncia de atos de violência, instigação ao ódio racial e outras formas de abuso contra os Rom e Sinti. Por outro lado, fazendo-se porta-voz da maioria dos jovens ciganos, afirmou com firmeza que a consciência, a formação escolar e a vontade de participação política fazem parte hoje da sua experiência existencial. Todavia, segundo a Doutora, faz-se necessária a formação de ativistas/mediadores entre os mesmos Rom e Sinti. A Relatora assinalou, ainda, a instrução como elemento de suma importância para os jovens e a escolarização como um instrumento de melhor auto-representação deles e maior emancipação. Chamou também a atenção para o reconhecimento do status de minoria à população cigana, enquanto, falando das estratégias a favor das suas populações, destacou que estas deveriam ser integradas, participadas e culturais.    

À tarde realizou-se a Mesa-redonda dos Diretores Nacionais, coordenada por Sua Excelência Dom Josef Clemens, Secretário do Pontifício Conselho para os Leigos. Seis Diretores nacionais, representantes de três Continentes, intervieram sobre o tema “Evangelização e promoção humana dos jovens ciganos diante dos desafios do pluralismo religioso, cultural e ético”. O Reverendo Padre Wallace do Carmo Zanon ilustrou, pela América Latina, a situação do Brasil, ao passo que a Doutora Jaya Peter se deteve na apresentação da realidade indiana, no contexto asiático. Os outros quatro Diretores nacionais, a Reverenda Irmã Karolina Miljak (Croácia) e os Reverendos Padres Jozef Lančarič, SDB (Alemanha), Federico Schiavon, SDB (Itália), Francisco Sales Diniz, OFM (Portugal), referiram sobre os problemas e perspectivas inerentes ao tema, no que concerne à Europa, do ponto de vista dos seus países.

À noite os Congressistas foram recebidos pelo Vice-prefeito de Freising, no histórico Asamtheater. Na moldura sugestiva da “Asam-Saal”, o Doutor Rudolf Schwaiger ilustrou brevemente aos participantes a história da cidade, que tem o título de “Coração da velha Baviera”, como também as suas riquezas culturais, sociais e espirituais.

Na manhã do dia 3 de setembro, o Senhor Nicolae Gheorghe, ex-Consultor da OSCE-ODIHR nas questões dos Rom e Sinti, e a Reverenda Irmã Mª Belén Carreras Maya, Missionária espanhola, falaram das “Oportunidades de agregação cigana nos seus aspectos educativos, profissionais e políticos, aprofundando também o tema de cooperação entre instituições eclesiais e civis”. O Sr. Gheorghe ilustrou estas oportunidades do ponto de vista político, enquanto a Irmã Carreras Maya destacou o valor da instrução e a necessidade de qualificação profissional como condições indispensáveis para alcançar uma qualidade de vida digna. A Irmã indicou, a seguir, a Igreja como perita em humanidade e valorosa defensora da dignidade da pessoa humana, capaz, portanto, de um diálogo aberto e construtivo com os Ciganos, realizado necessariamente com a mesma linguagem.

A tarde transcorreu sob o signo dos jovens ciganos aos quais foi dedicada a Mesa-redonda, moderada por Sua Excelência Dom Domenico Sigalini, Bispo de Palestrina e Assistente Eclesiástico Geral da Ação Católica Italiana. Sobre Protagonismo juvenil: motivações e finalidades, expectativas e necessidades pronunciaram-se Ange Garcy  (França), Gyözö Balogh (Hungria), Savic Branislav (Itália), Remo Allgäuer (Alemanha) e Mădălina Burtea (Romênia). Dos seus testemunhos, particularmente tocantes, enquanto revelam dores e experiências do passado, certezas do presente e experiências futuras, brotaram numerosas perguntas e expectativas relativas à Igreja e à sociedade. Entre outras coisas, emergiu o “sonho de um mundo sem barreiras entre as pessoas, sem discriminações entre as raças”, o auspício de “poder entrar na igreja pela porta principal”, de “ter as mesmas oportunidades de instrução e de trabalho dos gadjé” e de já não ser considerados “diversos”. Além disto, as esperanças dos jovens fundamentam-se na possibilidade de alcançar uma formação adequada, na mudança da percepção dos ciganos por parte das comunidades majoritárias, no desejo dos próprios jovens ciganos de saber superar a desconfiança e o medo nas relações com os gadjé. No que concerne à Igreja, os jovens optam por uma maior consciência religiosa que permita, em nível associativo, a defesa dos seus direitos e a participação ativa na vida eclesial.  

 Os trabalhos do Congresso foram amparados pela oração e, de modo particular, pela Santa Missa concelebrada cada dia na Capela da Bildungszentrum, no início da manhã. O Celebrante principal de terça-feira, 2 de setembro, foi o Arcebispo Dom Agostino Marchetto; no dia seguinte, presidiu a Concelebração eucarística Sua Excelência Dom José Edson Santana Oliveira, Promotor Episcopal do Brasil. Quinta-feira, 4 de setembro, a Santa Missa foi presidida por Sua Excelência Dom Leo Cornelio, Arcebispo de Bhopal e Presidente da Pastoral Care of Nomads in India (PACNI). Cada Prelado pronunciou também a Homilia.

O Congresso ofereceu aos participantes ampla possibilidade para discutir a problemática dos jovens ciganos, nos seus vários aspectos, por ocasião dos grupos de estudo, nos debates e nas discussões cujos resultados foram recolhidos numa série de conclusões e recomendações. A quinta-feira, 4 de setembro, dia de encerramento do Congresso, foi dedicada à leitura e aprovação geral destas, às quais, a seguir, se apresentam.  

II - Conclusões

Uma evidência : os jovens são o futuro. Quem quer que sejam, Ciganos ou Gadjé, devemos considerá-los na sua dignidade e dar-lhes uma ocasião de serem um recurso para a Igreja e a Sociedade. Os jovens Ciganos, mesmo em plena mutação, continuam sendo portadores de valores que devemos descobrir para nos enriquecermos. 

A Igreja

1.         Falando dos jovens Ciganos, recorre-se facilmente a generalizações que, na realidade, são abusivas. Por um lado, a imagem que se faz deles depende muitas vezes das nossas próprias representações; raramente os jovens são considerados em si mesmos, na sua originalidade e na sua riqueza. Por outro lado, as realidades são muito diferentes: há nômades e sedentários, os níveis de marginalização são diversos, os grupos sociológicos e culturais são muito diferentes, como também as situações familiares (alguns jovens já são casados e pais e mães de família).

Os jovens confrontam-se com um dúplice conflito:

-          conflitos de gerações, que são resolvidos segundo os costumes (por exemplo, abreviação do período de adolescência pelos casamentos precoces);

-          conflitos de cultura, acentuados pela modernidade.

 

Como os jovens Gadjé, também eles são objeto de solicitações da sociedade ante as quais são vulneráveis e pouco preparados.

2.         Nesta ótica, destacam-se «duas regras de ouro» sugeridas pelos próprios jovens:

- saber ouvir: dedicar tempo para compreendê-los a fim de conhecê-los melhor;

- agir "para eles, mas principalmente com eles".

3.         Deus tem para cada um dos jovens Ciganos, como para os jovens Gadjé, um projeto que é necessário descobrir e ao qual é necessário responder, não obstante as situações de precariedade e de eventual marginalização.

Os jovens representam "a esperança da Igreja", a esperança do mundo. Eles são "profetas de esperança", "artífices de renovação". "Agir para eles, mas principalmente com eles" significa para a Igreja encorajá-los a desenvolver a realização de programas-piloto, de iniciativas e de projetos visando reforçar a sua participação na evangelização e na promoção humana de seus irmãos e irmãs.

4.         A secularização, para além do juízo que se faça sobre ela, é uma realidade comum a muitos países; a atual mobilidade transnacional dos Ciganos ocasiona encontros inéditos entre jovens de religiões e culturas diferentes; além disto, os comportamentos familiares estão em mutação. Estas circunstâncias colocam aos jovens novos questionamentos, novos desafios que os seus pais não conheceram. Deus era uma evidência para eles, o que já não é sempre para os jovens. Há necessidade impelente, portanto, de um acompanhamento novo, de uma pastoral mais em contacto direto com as realidades, a atualidade, a diversidade.

5.         A pastoral específica dos Ciganos que deve ser considerada como normal e não episódica na Igreja supõe a formação de agentes pastorais, Ciganos e Gadjé. Eles deverão explorar as possibilidades já previstas de adaptação da Liturgia à cultura cigana: não se pode padronizar o que é vivo! A Igreja reflete, aliás, sobre como fazer evoluir as estruturas pastorais para torná-las mais próximas e mais pessoais.

6.         As comunidades paroquiais também devem ter uma preocupação muito forte com as situações locais dos Ciganos. Devem ter a audácia evangélica profética de uma acolhida fraterna dos jovens Ciganos como filhos de Deus. Estes encontros devem abater barreiras, preconceitos, atitudes racistas e permitir aos Ciganos e aos Gadjé que se reconheçam como irmãos e irmãs, que se tornem juntos artífices de paz e de reconciliação, no encontro das culturas e esconjurar, assim, os comportamentos inadequados que geram violência. 

A Sociedade

7.         A questão cigana é cada vez mais institucionalizada, particularmente em nível das instâncias européias. Esta institucionalização concerne também os problemas do ensino e do trabalho, e igualmente os jovens. Por isto, tem a vantagem de comportar uma maior conscientização e responsabilidade dos Estados e de suscitar o desenvolvimento de projetos globais. Mas contém o risco de tornar-se meramente administrativa, ignorando o calor das relações humanas, de provocar decisões inadequadas às situações concretas, de tender a uma assimilação dos Ciganos, sem levar em conta a sua especificidade.

8.         Deve iniciar-se um processo de inclusão na sociedade para que os jovens possam exercer um papel decisório e de responsabilidade, alcançar um bom nível de educação e engajar-se em atividades políticas e sociais em co-responsabilidade e solidariedade ativa.

9.         Os jovens Ciganos passam sem transição da tradição familiar a um mundo dominado pela tecnologia. Eles também não estão isentos de certas derivas de fenômenos sociais, como a droga, o álcool, etc.

10.       Hoje ainda os Ciganos, entre eles os jovens, são vítimas de preconceitos e de estereótipos negativos; pertencem ao grupo social com o mais baixo índice de oportunidades que deve fazer frente aos problemas de discriminação e de desigualdade no sistema educacional, do trabalho, habitacional e da saúde. Segundo estudos recentes, na Europa eles constituiriam o grupo «menos desejado como vizinho». Eles sofrem de segregação, principalmente territorial. A discriminação, a xenofobia e mesmo o racismo degeneram por vezes em atos de violência que atingem particularmente os mais fracos, as crianças, os jovens e as mulheres, e repercutem nas estruturas sociais.  

III. Recomendações

1.         A situação dos jovens Ciganos é diferente de acordo com os países em que vivem; é necessário, portanto, certa flexibilidade para abordá-la de modo a favorecer um processo de integração autêntica. Neste processo devem ser levados em consideração alguns princípios.

2.         Em primeiro lugar, a responsabilização de cada um é crucial para a integração dos jovens Ciganos segundo as normas e regulamentações antidiscriminatórias, a fim de assegurar a igualdade de oportunidades. Os Governos deveriam garantir os direitos de plena participação na sociedade, facilitar, para os estrangeiros e os apátridas, o acesso à nacionalidade e criar as ocasiões de aprender e dominar a língua nacional. Deve-se encarar, ainda, a questão de um status claro das minorias.

3.         Além disto, é necessário que sejam garantidos aos jovens apoio, recursos e oportunidades que lhes permitam uma vida independente e autônoma, e de terem a possibilidade de uma plena participação social e política. A falta de acesso a serviços de base, como a proteção social, a assistência médica, um ambiente de vida sadio e seguro, é um fator que pode privar os jovens da sua necessária autonomia e, portanto, também de uma responsabilidade efetiva.

4.         A instrução é o processo fundamental para a realização do potencial pessoal e é necessária para a integração na sociedade. Por isto, deve ser vedada a inserção dos Ciganos em «escolas especiais» geradoras de humilhação, ao passo que se devem encorajar projetos particulares em favor deles. Dever-se-ia dar importância particular às intervenções de caráter propedêutico.

A instrução é condição da participação na vida política, social e econômica, em posição de igualdade em relação aos outros. Ela deve, ainda, encorajar o pensamento justamente crítico e a responsabilidade que, por sua vez, são necessárias para edificar uma sociedade cada vez mais humana, baseada nos princípios de justiça, igualdade e fraternidade.

5.         O trabalho é uma das chaves da plena integração na sociedade; consequentemente, é necessário garantir aos jovens a possibilidade de um trabalho digno. A sua formação é uma preocupação maior na medida em que os jovens devem superar as barreiras criadas também pelas fraquezas do sistema educativo, que entravam a entrada deles no mundo do trabalho.

6.         O acesso aos diversos direitos fundamentais (alojamento decente, trabalho, ensino, assistência médica) pode ser favorecido pela formação e pelo emprego de mediadores socioculturais ciganos.

7.         Os meios de comunicação têm uma grande responsabilidade na informação da opinião pública, sem fazer seus os estereótipos e as generalizações em relação aos ciganos. Devem exercer um papel de sensibilização e formação para combater os preconceitos contra os Ciganos. No final, em seguida, para promover a liberdade de expressão, é preciso também investir na formação de jornalistas ciganos. Recomenda-se, por conseguinte, a organização de conversações e mesas-redondas entre representantes da mídia e Ciganos.

8.         Quanto às mulheres, devem-se condenar as esterilizações forçadas e as campanhas que tendem a desestabilizar a concepção que os Ciganos têm da família. Deve ser garantida a educação das mulheres aos direitos fundamentais, como também o diálogo intercultural, a participação das jovens na cidadania democrática, a coesão social e o desenvolvimento das políticas juvenis.  

9.         A Igreja tem muito a dizer aos jovens e os jovens têm também muitas coisas a dizer à Igreja. Este diálogo recíproco, que se deve conduzir com grande cordialidade, na clareza, com coragem, favorecerá o encontro das gerações e os intercâmbios, e será fonte de riqueza e de juventude para a Igreja e para a sociedade civil.

10.       Em consideração da mentalidade dos jovens Ciganos, a ação pastoral será mais incisiva quando é exercida no quadro de grupos restritos. Nos pequenos grupos é mais fácil personalizar e compartilhar as experiências de fé e os encontros feitos individualmente com o Senhor. Nesses grupos os jovens Ciganos se encontram entre eles e com a sua cultura. Todavia, não se pode esquecer a importância e o valor especial das peregrinações, como ocasiões de encontro para os diversos grupos.

11.       Nesta pastoral específica podem exercer papel especial os movimentos eclesiais e as novas comunidades que o Espírito Santo suscita na Igreja. Com o sentido profundo da dimensão comunitária, com a abertura, a disponibilidade e a cordialidade, também eles podem constituir um lugar concreto no qual poderá expressar-se a religiosidade “emotiva” dos jovens Ciganos.

Do mesmo modo, seria útil que as Congregações religiosas, as Associações católicas e as Comunidades Eclesiais de Base se envolvam na pastoral específica dos jovens Ciganos.

12.       Excluídos, relegados às margens da humanidade, humilhados na sua dignidade, os Ciganos têm necessidade de uma Igreja viva, de uma Igreja-comunhão (cf. Orientações para uma Pastoral dos Ciganos, nos 96-98), capaz de formar e de ajudar a superar as dificuldades que a grande política não consegue suplantar. Todavia, o fato de apresentar-se com amor e com o desejo de proclamar a Boa Nova não basta para criar uma relação de confiança entre os Ciganos e os gadjé, depois de todas as injustiças que eles sofreram, pois a história tem seu peso próprio. A população cigana permanece, portanto, desconfiada diante das inicitivas de todos os que tentam penetrar no seu mundo. É possível superar esta atitude inicial somente a partir de gestos concretos de solidariedade, também mediante uma compartilha de vida e o desenvolvimento de projetos de dimensão humana que favoreçam a participação e a adesão dos jovens Ciganos.

13.       A Igreja, tal como a quis Cristo, com sua opção preferencial pelos pobres, deve saber oferecer aos jovens a Palavra de Verdade e de Vida sobre a qual construir a sua fé. «Assume uma importância especial, principalmente para os jovens – lemos no nº 65 das Orientações – uma pastoral da confirmação, sacramento que as comunidades ciganas praticamente não conhecem. A preparação para a confirmação permite educar os membros da população cigana a uma adesão livre e consciente à Igreja. Enquanto introduz o batizado na participação plena na vida do Espírito, na experiência de Deus e no testemunho da fé, a confirmação leva-o a descobrir, ao mesmo tempo, o significado de sua pertença eclesial e de sua responsabilidade missionária. Afigura-se também importante dar destaque ao outro “sujeito” do sacramento, a saber, a comunidade, que deve ser envolvida na catequese sob a forma de relação entre as gerações, a fim de que, por ocasião da celebração de “seus confirmados”, também ela possa viver a graça de um novo Pentecostes, sendo ela mesma confirmada pelo sopro do Espírito na sua vocação cristã e na sua missão evangelizadora».

14.       «A Palavra de Deus anunciada aos Ciganos nos diversos âmbitos da ação pastoral será mais facilmente recebida se for proclamada por alguém que provou concretamente que é solidário com eles nos curso dos acontecimentos da vida. No quadro concreto da catequese, é importante incluir sempre um diálogo que permita aos Ciganos expressar a maneira como percebem e vivem a sua relação com Deus» (Orientações n° 60). Para os jovens, em particular, são muito importantes algumas pessoas significativas, as que pela confiança conquistada eles assumem como modelo.

15.       Os jovens possuem todas as qualidades para enfrentar, na vanguarda, os desafios que uma nova evangelização – ligada à promoção humana  Â– coloca ao mundo cigano. Os jovens são capazes de inovação e conseguem muito freqüentemente associar soluções novas aos esquemas tradicionais, tirando proveito e benefício da experiência e da sabedoria de sua cultura que, embora não esteja «escrita em nenhum livro», nem por isto é menos eloquente. Aproveitemos portanto das suas virtudes!

16.       Seria necessário conseguir criar um maior número de centros, principalmente eclesiais, que proporcionem possibilidades de lazer, de estudo e de preparação profissional. Outra sugestão concerne a promoção de atividades de intercâmbio cultural entre os jovens Ciganos, para fazê-los descobrir os valores do seu ambiente. Para isto, seria necessário favorecer breves visitas de estudo (quando possível) e encontros de jovens provenientes de diversas regiões e países, a fim de estimulá-los a adquirir maior consciência das outras culturas e a considerar, a partir de nova perspectiva, temas comuns (história, informações, percepção de identidade, etc…). Seria necessário estimular «ações jovens»: encontros por ocasião das peregrinações, escolas da fé para os jovens, como também a sua integração em projetos mais amplos de solidariedade humanitária.

17.       Será necessário, por fim, propor atividades de prevenção (voluntariado, associações, grupos esportivos) para «arrancar» os jovens da inércia, da falta de interesse, da droga, do álcool... É muito importante identificar e formar responsáveis (líderes) nas suas comunidades.

18.       Será últil igualmente pedir às organizações humanitárias, à Caritas, de instituir, controlando-os a seguir, microcréditos para as famílias e as comunidades que manifestem mais capacidade de saber utilizá-los em benefício da sua etnia. 

Palavras de um jovem Cigano: 

 

DEVEMOS COMBATER O RACISMO

NÃO COM AS ARMAS,

MAS COM O AMOR, O TRABALHO E A HUMILDADE

PROVANDO QUE, PARA ALÉM DOS NOSSOS DEFEITOS,

TEMOS TAMBÉM OS NOSSOS VALORES.

 

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