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HOMILIA DO CARDEAL ANGELO SODANO
NO 25° ANIVERSÁRIO DE ORDENAÇÃO EPISCOPAL 

 


Desde há dois mil anos ressoa nas nossas igrejas o alegre cântico do Magnificat. Agindo assim, os cristãos apropriam-se das palavras inspiradas de Maria, para elevar a Deus um hino de acção de graças por todos os benefícios recebidos.

Irmãos e Irmãs no Senhor, impelidos por estes mesmos sentimentos também vós quisestes vir em grande número a esta Basílica romana, para me acompanhar nesta acção de graças Àquele que olhou para a humildade do seu servo e desejou fazê-lo seu ministro.

1. O dom da vocação

No passado, muitos de vós já quiseram agradecer comigo ao Senhor o grande dom do presbiterado e, com esta finalidade, participaram na Santa Missa que, no dia 23 de Setembro de 2000, celebrei na solene Basílica de São Pedro, para recordar o 50º aniversário da minha Ordenação sacerdotal.

No dia de hoje, renovamos em conjunto este hino de acção de graças ao Senhor, na lembrança do 25º aniversário da minha Ordenação episcopal. Com efeito, no dia 15 de Janeiro de 1978, o Senhor concedeu-me uma nova graça, ligada a este grau mais alto do Sacramento da Ordem.
Na realidade, eu poderia recordar sozinho este feliz aniversário. Mas, depois, pensei que cada presbítero e cada Bispo não o é para si mesmo, mas para para os outros. É o Espírito Santo que, na Carta aos Hebreus, nos recorda:  "Todo o Sumo Sacerdote escolhido de entre os homens é constituído a favor dos homens..."; "ex hominibus assumptus, pro hominibus constituitur" (5, 1).

Foi para esta visão social do sacerdócio que me preparei nos longos anos de formação no Seminário diocesano de Asti. Aliás, recordo a insistência com que o meu saudoso Bispo, D. Humberto Rossi, de veneranda memória, nos lembrava aquilo que Manzoni escreveu na sua obra-prima Os Noivos, quando nos descrevia a personalidade do Pe. Cristóvão, com o pensamento pungente que o afligia:  "Cristóvão, recorda-te de que não estás aqui para ti... não estás aqui para ti".

2. A finalidade do sacerdócio

Recordando a natureza social de cada ministério na Igreja, também eu procurei, primeiro nos anos do meu sacerdócio e depois do meu Episcopado, pôr-me ao serviço da comunidade cristã. Na realidade, cada sucessor dos Apóstolos ouve a voz do Senhor que lhe diz, como um dia disse aos Onze no Cenáculo:  "Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós" (Jo 20, 21). O sacerdócio é uma missão. É um serviço apostólico. É um serviço missionário.

Assim, também eu procurei viver estes anos que o Senhor me concedeu, dedicando-os à comunidade cristã, em que sempre me inseri profundamente, onde quer que o Senhor me tenha chamado a servir.

Com efeito, o sacerdócio é único, em qualquer forma do seu exercício. Vários são os campos de acção, mas a finalidade é a mesma. Na Exortação Pastores dabo vobis, o Papa João Paulo II escreveu que além da vocação ao sacerdócio, poder-se-ia falar também de uma vocação no sacerdócio. Literalmente, ele diz:  "Pode falar-se de uma vocação no sacerdócio. Na realidade, Deus continua a chamar e a enviar, revelando o seu desígnio salvífico no desenvlvimento histórico da vida do sacerdote e nas vicissitudes da Igreja e da sociedade" (n. 70).

3. A vocação ao Episcopado

Através da voz do Papa Paulo VI, de veneranda memória, há vinte e cinco anos, o Senhor chamou-me para o Episcopado, designando-me um campo específico de trabalho como Núncio Apostólico no Chile. Através da voz do Papa João Paulo II, o Senhor chamou-me, depois, para desempenhar o meu ministério na Secretaria de Estado.

Por minha vez, sempre considerei o meu trabalho quotidiano como uma contribuição para a difusão do Reino de Deus no mundo contemporâneo. Efectivamente, onde quer que um ministro de Deus esteja a trabalhar, ele sente que ressoa em si o mandato missionário que Cristo nos deixou: "Ide, pois, e transmiti o Evangelho a todas as nações" (cf. Mt 28, 19).

A este propósito, na Bula Incarnationis mysterium, publicada por ocasião do Grande Jubileu do Ano 2000, o Santo Padre recordou que, em nenhuma outra época histórica, a Igreja teve tantas possibilidades como hoje de anunciar o Evangelho de Cristo, graças a também ao desenvolvimento dos meios de comunicação social. E também cada um de nós que trabalha na Cúria Romana enfrenta este desafio missionário e é feliz por gastar as suas energias em favor de uma causa nobre e santa, como é a do anúncio do Evangelho ao mundo contemporâneo.

4. A colaboração com o Papa

Esta é a certeza que, neste meu jubileu episcopal, gostaria de dar ao Santo Padre João Paulo II, que me concedeu a imerecida honra de participar no seu ministério de Pastor universal. Dirijo-lhe a minha mais profunda gratidão pela confiança que desejou depositar na minha humilde pessoa, juntamente com a promessa de que, como Cardeal da Santa Igreja Romana e como seu Secretário de Estado, continuarei a dedicar todas as minhas energias ao serviço da Cátedra de Pedro e para o bem da Santa Igreja.

Esta é a certeza que quero transmitir também a todos vós, queridos amigos de Roma, de Albano e de Asti, aqui reunidos em grande número, nesta feliz circunstância. Dado que não vos posso cumprimentar individualmente, saúdo-vos a todos, em conjunto, aqui ao pé do altar do Senhor, pedindo-lhe que vos recompense pela vossa especial solidariedade.

Num primeiro momento, pensei em transmitir a cada um de vós a minha cordial saudação, durante uma recepção que os meus colaboradores queriam organizar para esta circunstância. Mas depois pensei que era melhor destinar à Cáritas a quantia recolhida para esta ocasião, em ordem a aliviar os sofrimentos dos pobres de Roma. Assim, hoje à noite, sentiremos que também eles estão presentes ao nosso lado, como irmãos e irmãs em Cristo.

5. Um Cenáculo apostólico

Aos Senhores Cardeais, aos Bispos, aos Colaboradores da Secretaria de Estado, aos membros da Cúria Romana e do Governatorato, transmito o meu "obrigado" mais vivo, pela proximidade que me manifestam neste momento importante da minha vida. Juntos, continuemos a percorrer o caminho que o Papa nos traçou na Constituição Apostólica Pastor bonus, sobre a Cúria Romana, fazendo com que ela seja verdadeiramente um "Cenáculo apostólico", vivificado pelos dons do Espírito Santo, para podermos contribuir com o Sucessor de Pedro para a grandiosa obra da evangelização do mundo contemporâneo.

Além disso, vejo aqui reunidos também religiosos, religiosas, seminaristas, noviços e membros de associações juvenis e de movimentos laicais:  peço a todos que dêem continuidade ao seu compromisso de consagração ao Senhor e de serviço à Igreja. O mundo de hoje espera muito de vós, para a animação cristã da nossa sociedade.

Aos Senhores Embaixadores, às Autoridades aqui presentes e, de modo particular, às pessoas que vieram da minha querida terra de Asti, também dirijo o meu "obrigado" mais sincero.

6. Com o elmo da esperança

Depois, olhando para o futuro, convido-vos todos a caminhar para a frente com confiança, a fim de anunciardes ao mundo o Evangelho da esperança. Entre as dificuldades do momento presente, todos deveríamos recorrer às armas espirituais que o Apóstolo Paulo propunha aos cristãos do seu tempo. Com efeito, ele escrevia aos Efésios:  "Fortalecei-vos no Senhor... Revesti-vos da armadura de Deus... Ficai firmes, tendo os vossos rins cingidos com a verdade, revestidos com a couraça da justiça e os pés calçados, prontos para ir anunciar o Evangelho da paz" (Ef 6, 10-15). E escrevendo, depois, aos Tessalonicenses, o Apóstolo falará da esperança como do elmo típico que nos caracteriza (cf. 1 Ts 5, 8), quase como elemento de identidade do cristão. Com este elmo, também nós avançamos ao longo do nosso caminho, unidos com o profundo vínculo da caridade. Este é o convite que o Apóstolo nos dirigiu na segunda Leitura desta Missa:  "Revesti-vos de benignidade, mansidão e longanimidade... Mas, acima de tudo, revesti-vos da caridade que é o vínculo da perfeição" (cf. Cl 3, 12-15).

7. Uma oração a Maria

Irmãos e Irmãs no Senhor, neste nosso compromisso cristão, sentimos que a Virgem Maria está perto de nós. Confiando na sua intercessão maternal, cada fiel, e ainda mais cada Pastor, pode olhar com confiança para o futuro. Por isso, também eu lhe confio o meu serviço episcopal, para que o ofereça ao seu Filho Jesus e faça com que ele seja vivido sempre para a maior glória de Deus e para a difusão do seu Reino no mundo. A Virgem Maria, que é o auxílio dos cristãos, Auxilium Christianorum, seja também o auxílio dos Bispos, Auxilium Episcoporum, e nos ajude a ser fiéis à nossa missão, com as mãos no arado, enquanto o Senhor o quiser.
Assim seja!

 

 

 

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