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INTERVENÇÃO DA SANTA SÉ
NA XLVII SESSÃO DA CONFERÊNCIA
INTERNACIONAL DA EDUCAÇÃO

Sexta-feira, 8 de Outubro de 2004

 

 
Senhor Presidente, a Santa Sé agradece por tomar a Palavra.

Se a UNESCO deseja poder favorecer a universalidade e a efectividade das normas éticas segundo quanto é estabelecido pelo documento sobre a ética e a economia finalizada, à luz dos debates realizados em Friburgo em Novembro de 2003, é necessário que ela empreenda uma reflexão mais profunda sobre a exigência universal do respeito do ser humano. Visto que o ponto fraco da multiplicação das morais sectoriais que desenvolvemos actualmente, consiste em limitar os problemas morais a questões meramente ético-técnicas e esquecer a questão da universalidade das normas propostas. Unicamente uma ética filosófica fundamental deveria conduzir-nos a estabelecer aquilo que é efectivamente humanizante para toda a humanidade. Mas para alcançar este objectivo, é preciso aceitar que se confira de novo um papel à filosofia nos nossos programas éticos.

A primeira razão para introduzir a reflexão filosófica na ética é que a filosofia como discurso acerca do real e do sentido constitui o agente mediador do diálogo que pode desenvolver-se entre ciência e ética. Reflectimos suficientemente para que exista uma compreensão recíproca entre dois campos de reflexão heterogéneos como os da ciência e da ética? Seria necessário que existisse um lugar intermediário que fosse um âmbito de referências partilhadas. Ao estudar a inteligibilidade da estrutura do real em totalidade, descobrindo como a experiência está estruturada e como o campo geral do sentido é constituído, a filosofia representa o campo mediador entre ciência e ética e fornece-lhe os conceitos e os modelos para uma inteligibilidade do mundo.

A segunda razão para introduzir a reflexão filosófica em ética é poder debater a validade da norma e da sua universalidade. É a filosofia que consente esclarecer o que está em questão da validade dos modelos, teorias usadas pela ciência e pela ética. Ela ajuda ambas a reconhecer de modo mais adequado como os seus respectivos projectos se deparam com o problema da verdade. Contudo, a marca da verdade do humano, mesmo se deriva de uma tomada de consciência, não pode ser relativizada. A crise da normas éticas deve ser procurada nos pressupostos filosóficos e antropológicos raramente esclarecidos nos debates das éticas aplicadas. Se a ética não quer ser positivista, não pode por conseguinte passar de uma base de reflexão, da via de acesso ao sentido e à verdade que é a filosofia.

A terceira razão para introduzir a filosofia na ética é que esta reflexão de sabedoria sobre a totalidade do campo da experiência deveria ajudar a desenvolver a ética no património cultural e religioso das várias comunidades humanas. O conceito de sentido tão precioso para declarar a validade de uma prática humana é de importância estratégica em filosofia na análise da existência humana. O sentido designa este horizonte a partir do qual a linguagem, a acção, o pensamento, o querer e a afectividade se tornam compreensíveis. Então, a filosofia pode contribuir para especificar as contribuições relativas à existência do sentido que as ciências e as diversas formas de crença religiosa representam. Isto dá origem à importância de apresentar de novo a questão filosófica da formação concreta de um "nós" da humanidade, capaz de garantir o respeito de cada um.

Muito obrigado, Senhor Presidente.

 

 

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