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INTERVENÇÃO DA DELEGAÇÃO DA SANTA SÉ
NA ONU SOBRE A CULTURA DA PAZ

DISCURSO DE D. CELESTINO MIGLIORE

27 de Outubro de 2004

Senhor Presidente

Durante muitas décadas, a necessidade de promover uma cultura de paz efectiva foi amplamente reconhecida e, a partir de 1967, até mesmo os Papas fizeram a sua parte, enviando uma Mensagem no primeiro dia do mês de Janeiro de cada ano, a todas as pessoas de boa vontade, propondo cada vez um novo tema relativo à paz e ao modo de a alcançar. Estas Mensagens já começaram a forjar um mosaico de temas e de experiências, em vista da realização de uma cultura da paz, no sentido em que hoje ela é abordada.

É evidente que o mundo precisa da paz, e hoje mais do que nunca. A minha delegação tem o prazer de aproveitar este ensejo para reiterar o seu voto de confiança na Organização das Nações Unidas, como uma das instituições-chave na disposição da humanidade para a difusão de uma cultura da paz.

Como o Secretário-Geral mencionou no seu recente relatório sobre o trabalho da Organização, temos o dever de reconhecer o progresso nas operações de manutenção da paz, levadas a cabo pelas Organização das Nações Unidas durante o ano passado. De modo análogo, no corrente ano testemunhou-se a criação de uma Administração Executiva de Antiterrorismo, na luta em vista de promover e salvaguardar os direitos humanos e a validade da lei. Com a necessária cooperação da parte de todos os seus membros, a Organização das Nações Unidas pode ser verdadeiramente um instrumento eficaz da vontade política das nações do mundo inteiro.
Não obstante os êxitos alcançados e apesar das iniciativas tomadas, como as finalidades da globalização no contexto da Década Internacional para uma Cultura da Paz e da Não-Violência para as Crianças do Mundo a cultura geralmente predominante às vezes parece desencadear reacções culturais contra a paz genuína e suscitar suspeitas acerca da mesma.

Analogamente, a globalização parece incapaz de prevenir as ameças que se apresentam à paz, porque a revitalização cultural tende a levantar muros que separam as pessoas umas das outras. O cinismo deriva dos mal-entendidos entre as pessoas, que constituem o resultado de barreiras desnecessárias. O conceito de segurança veio a criar uma tensão permanente entre os interesses pela segurança, tanto a nível nacional e internacional como global.

Para enfrentar as problemáticas da segurança a qualquer custo, todos os esforços em vista da paz autêntica devem ser alimentados incessantemente, equilibrando os interesses pela segurança que derivam das ameaças, com os interesses pela segurança cooperativa. A defesa da paz, que muitas vezes se revela como uma frágil entidade, deve ser revigorada. Isto só se pode alcançar, se for cultivado nas mentes de todas as pessoas de boa vontade o imperativo a tornar-se de certa forma agentes de paz. Elas são os seus arquitectos, os seus construtores e até mesmo as suas pontes. Só é possível fazer da paz uma realidade, através da educação das consciências, que pode ser alcançada mediante a abertura e o respeito pelo próximo.

Senhor Presidente

A LVIII Sessão Ordinária da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas abordou algumas resoluções sobre a Década Internacional para uma Cultura da Paz e da Não-Violência para as Crianças do Mundo, sobre a Universidade da Paz e sobre a Compreensão, a Harmonia e a Cooperação Religiosa e Cultural. Estes três elementos são fundamentais para a construção da paz no mundo, mas actualmente o último deles exige uma atenção deveras particular. Durante a resolução tomada no ano passado, concordámos que "os actos de violência, de intimidação e de coerção, motivados pela intolerância religiosa, estão a aumentar em numerosas regiões do mundo, e representam uma ameaça para a fruição dos direitos humanos e das liberdades fundamentais" (A/RES/58/128).

Não obstante, temos o dever de reconhecer que no campo da cooperação inter-religiosa já existe um fundamento, sobre o qual se pode edificar; por exemplo, os diversos encontros organizados pela UNESCO na Ásia Central, na Região do Mediterrâneo, na África Setentrional e Ocidental, e também na Região Asiática do Oceano Pacífico. Nestes debates têm sido abordados temas como: o terrorismo, a resolução dos conflitos, o hiv/sida e o papel dos líderes religiosos na moderação das tensões, na oposição à utilização dos valores religiosos como pretexto para justificar a violência e na assistência ao desarmamento e à não-proliferação das armas.

Geralmente, os efeitos devastadores dos conflitos perduram ao longo das gerações, tornando extremamente difícil ou até mesmo impossível qualquer aparência de vida normal. Embora se tenha prestado muita atenção às armas de destruição de massa, não podemos ignorar as numerosas outras formas de armamentos, a que se faz recurso no mundo inteiro. A este propósito, a Santa Sé faz esta consideração, para exortar a um compromisso mais enérgico em vista de sublinhar os profundos vínculos existentes entre a promoção da cultura da paz e o fortalecimento do processo de desarmamento e de não-proliferação.

Senhor Presidente

Embora seja verdade que o outro nome da paz é o desenvolvimento autêntico para todos os povos, a minha Delegação julga também que um mecanismo importante para esta paz é a vontade política. A sua promoção contribuirá em grande medida para ajudar esta Assembleia a passar da atribuída percepção de constituir um mero foro de análise, ou uma fábrica de resoluções, para uma arena concretamente destinada à promoção da transparência e da construção da confiança. Só através da vontade política é que os recursos morais íntegros de uma nação podem sobressair, para transformar as civilizações de maneira que, finalmente, possam aprender a valorizar a vida e promover a paz.

Obrigado, Senhor Presidente!

 

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