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SECRETARIA DE ESTADO

CARTA DO CARDEAL ANGELO SODANO
AO ARCEBISPO D. STANISLAW RYLKO
PRESIDENTE DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA OS LEIGOS
POR OCASIÃO DO CONGRESSO DOS MOVIMENTOS ECLESIAIS
E DAS NOVAS COMUNIDADES NA AMÉRICA LATINA

 

Senhor Arcebispo!

Com o aproximar-se da celebração em Bogotá do Congresso dos Movimentos Eclesiais e das Novas Comunidades na América Latina, organizado pelo Pontifício Conselho para os Leigos e pelo Conselho Episcopal Latino-Americano, apraz-me transmitir a saudação cordial de Sua Santidade Bento XVI aos Bispos, aos responsáveis dos diversos movimentos e demais participantes no mencionado encontro.

Ao mesmo tempo, o Santo Padre estimula-vos a partilhar fraternalmente a riqueza da sua própria espiritualidade e experiência, com a finalidade de contribuir para dar cada vez mais vigor à vida cristã nessa parte do mundo na qual a Igreja tem tantas esperanças.

De facto, o esforço por revigorar a consciência do compromisso baptismal e o anseio por viver intensamente a vocação à santidade a que ele dá origem, é sempre um contributo fundamental para a vida da Igreja. Além disso, os seus carismas, métodos pedagógicos, estilos de apostolado e projecção missionária, unem uma tradição evangelizadora tão abundante de iniciativas e testemunhos exemplares.

O lema escolhido para o Congresso "Discípulos e missionários de Jesus Cristo hoje" indica dois aspectos fundamentais e correlacionados nesse contínuo caminhar da Igreja "entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, anunciando a Cruz e a morte do Senhor, até que Ele venha" (Lumen gentium, 8). Na realidade, ser discípulo de Cristo não é uma situação transitória que termina num determinado momento, mas requer que estejamos sempre à escuta, aprendendo e seguindo o único Mestre (cf. Mt 23, 8), sem pretender um dia sermos nós mesmos mestres. Por isso, os discípulos devem considerar-se como irmãos (cf. ibid.). Por outro lado, o discípulo de Cristo não se limita a receber os seus ensinamentos como se viessem de fora. Começa a sê-lo devido a um encontro pessoal fascinante e perenemente actual com Ele, que provoca uma inefável relação de comunhão e leva a seguir os seus passos, a imitar a sua maneira de viver (cf. Deus caritas est, 1). E isto com a entrega e convicção de ter encontrado o verdadeiro tesouro da própria vida (cf. Mt 13, 44), diante do qual nenhuma outra alternativa ou insinuação tem maior interesse.

O cristão de hoje deve ser sempre discípulo de Cristo, do qual se pode aproximar de muitas formas, porque ele nos espera sempre nos caminhos da nossa existência para nos ensinar qual é o dom de Deus e para nos dar de beber a verdadeira água viva (cf. Jo 4, 10). Encontrá-lo-á sobretudo na Eucaristia e nos outros sacramentos, que constituem momentos privilegiados dessa companhia até ao fim dos tempos que Cristo prometeu aos seus discípulos (cf. Mt 28, 20). E deve continuar a aprender os ensinamentos do Mestre mediante o amor, o estudo e a meditação da Escritura, sob a guia de quantos receberam o cargo específico de preservar ciosamente e explicar com fidelidade a Palavra de Deus (cf. Dei Verbum, 10).

Como bons discípulos, os Movimentos e Comunidades estão chamados a ser também testemunhas e missionários da mensagem recebida, oferecendo uma mão amiga a outras pessoas, para que também elas descubram Cristo; a quantos ainda não o conhecem e aos que vivem o seu cristianismo de maneira superficial, aos quais devemos proporcionar também o apoio necessário para robustecer cada vez mais a sua fé e formá-la rectamente, face às armadilhas de uma mentalidade secularizada que promove a indiferença religiosa em muitos ambientes latino-americanos.

Nesta tarefa, o missionário não deseja ser discípulo, não dá mais do que ele mesmo recebeu, sem antepor as suas próprias ideias ou pretender a vantagem própria. O discípulo e o missionário sabem que são apenas "pobres servos" (Lc 17, 10), cuja felicidade maior é servir o Senhor e colaborar orgânica e fielmente com a missão que Cristo recomendou à sua Igreja (cf. Ad gentes divinitus, 6). Em relação a isto, é bom recordar as palavras do Santo Padre Bento XVI em Colónia: "A espontaneidade das novas comunidades é importante, mas é também importante conservar a comunhão com o Papa e com os Bispos. São eles que garantem que não se anda à procura de caminhos privados, mas que se está a viver, ao contrário, naquela grande família de Deus que o Senhor fundou com os doze Apóstolos" (Homilia, 21 de Agosto de 2005).

Neste contexto, manifesta-se também a importância da comunhão eclesial, da qual tanto depende a autenticidade de toda a experiência de vida cristã e a eficácia das iniciativas pastorais. Por isso é tão recordado que o Papa João Paulo II insistia para que todos se integrassem com humildade na vida das Igrejas locais, nas estruturas diocesanas e paroquiais, nas quais manifestam os diversos modos de se associar e de se expressar (cf. Redemptoris missio, 72).

À gratidão pelos numerosos esforços realizados com generosidade e competência, junta-se também a esperança da Igreja por que os Movimentos e Novas Comunidades contribuam para dar um renovado impulso à evangelização de todos os sectores da sociedade, do mundo do trabalho e da família, da cultura e da educação, assim como a todos os campos nos quais se desenvolve a vida dos homens de hoje, em circunstâncias muitas vezes pouco favoráveis para uma existência cristã integral e profunda.

Ao confiar à Santíssima Virgem Maria o desenvolvimento deste Congresso, a fim de que se obtenham abundantes frutos para a vida da Igreja nos povos latino-americanos, o Santo Padre concede de bom grado a todos os congressistas a implorada Bênção Apostólica.

Vaticano, 24 de Fevereiro de 2006.

 

Cardeal ANGELO SODANO
Secretário de Estado

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