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SECRETARIA DE ESTADO

HOMILIA DO CARDEAL ANGELO SODANO
POR OCASIÃO DA FESTA ANUAL
DE SANTA FRANCISCA ROMANA
NA BASÍLICA DE SANTA MARIA NOVA

Roma, 5 de Março de 2005

Queridos Concelebrantes
Irmãos e irmãs no Senhor!

A festa de santa Francisca Romana celebra-se na Quaresma e a liturgia deste tempo recorda-nos a necessidade da purificação interior, através da oração, do jejum e das obras de misericórdia. Mas isto pode ser, sem dúvida, também a Mensagem que a Santa nos transmite, toda dedicada a uma vida de oração e de caridade, que suscitava admiração entre os romanos do seu tempo.

1. Cinco séculos e meio nos separam daquele longínquo 9 de Março de 1440, dia em que Francisca expirava na sua casa de Tor de' Specchi, com 56 anos. Mas a sua fome de santidade permanece intacta até aos nossos dias.

Lendo a sua vida, parece que nos deparamos com uma daquelas mulheres fortes, das quais os Livros Sagrados e as páginas da história da Igreja estão repletos. Exemplo de mulher forte, primeiro na vida familiar e depois na monástica. Exemplo de mulher generosa, totalmente dedicada às obras de caridade, numa Roma que no início de 1400, estava provada por carestias e pestes.
Devota frequentadora desta nossa igreja de Santa Maria Nova, quantas vezes a nossa santa terá ouvido nela as palavras de Jesus que hoje o Evangelho nos repropôs: "Convertei-vos e acreditai no Evangelho" (Mc 1, 15). Sob a orientação sábia dos Padres Olivetanos que havia mais de um século estavam presentes nesta igreja, Francisca formou-se na vida da perfeição evangélica. Tendo ficado viúva, consagrou-se a uma vida religiosa mais intensa na família das Oblatas Beneditinas. Era a festa da Assunção, a 15 de Agosto de 1425, quando, com 41 anos, ela pronunciou nesta mesma igreja a sua solene fórmula de oferta ao Senhor nas mãos do Delegado do Abade de Monte Oliveto Maior, comprometendo-se a servir ainda com maior generosidade o Senhor e os irmãos, numa vida intensa de caridade.

2. Roma, no final de 1300 e início de 1400, encontrava-se deveras num estado miserável. A cidade dentro dos Muros Aurelianos estava reduzida a 25.000 habitantes, segundo alguns historiadores, dizimada pelas guerras, carestias e pestes.

Mesmo pertencendo à antiga família aristocrática dos Ponziani, a nobre mulher Francisca não desdenhou inclinar-se ao serviço dos mais humildes nos bairros de Trastevere, Campo Marzio, na periferia de Parione ou do Palatino. Desta forma, Francisca podia realizar aquele apostolado social, que também hoje permanece insubstituível, em qualquer tipo de sociedade. O fervor interior que a animava era a admoestação de Cristo: "É por isto que todos saberão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jo 13, 35). E a caridade fraterna tornou-se a regra inspiradora da sua vida.

3. Mulher de acção, Francisca hauria contudo de uma intensa vida de oração a força necessária para o seu apostolado social. O Senhor concedeu-lhe também graças extraordinárias, assim como fizera com duas outras grandes místicas daquele tempo, santa Catarina de Sena e santa Brígida da Suécia.

Permanece também típica a sua familiaridade com o Anjo da Guarda, do qual era devotíssima. Ele aparecia-lhe no seu caminho, defendendo-a dos perigos e iluminando-lhe a estrada durante a noite. Foi precisamente por isto que o Papa Pio XI em 1925 quis proclamar santa Francisca Romana Padroeira dos motoristas, para que do céu, juntamente com os Anjos da Guarda, obtivesse protecção para quem percorre as estradas da nossa cidade.

Eis a razão pela qual cada ano, na festa de santa Francisca, o Automóvel Clube de Roma convida os seus sócios a confiarem-se à protecção da Santa. E também eu, depois desta Santa Missa, irei às bancadas da "Via dei Fori Imperiali" para invocar a intercessão da nossa Santa para os motoristas de Roma.

4. Meus irmãos, antes de terminar esta recordação de santa Francisca Romana, gostaria ainda de vos convidar a receber a sua mensagem de amor pelos pobres. É uma mensagem que nos dirigem os santos de todos os tempos, de são Lourenço, o diácono de Roma que faleceu servindo os sofredores do seu tempo, até à madre Teresa de Calcutá, célebre em todo o mundo pelas suas obras de caridade. Eu mesmo tive a graça de representar o Santo Padre João Paulo II no seu funeral de 13 de Setembro de 1997 em Calcutá.

Naquela ocasião admirei uma imensa multidão de deserdados que a aclamava como a Santa da caridade. Num grande estádio daquela cidade celebrei a Santa Missa e, na homilia, recordei o seu programa de vida, que mais não era do que o programa de vida que Jesus nos ensinou: "Sempre que fizestes isto a um destes Meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes" (Mt 25, 40). Citei depois na mesma homilia uma frase típica daquela grande Santa: "Enquanto vós continuais a debater sobre as causas e os motivos da pobreza, eu ajoelhar-me-ei ao lado dos mais pobres e preocupar-me-ei pelas suas necessidades".

A este compromisso de caridade também nos chamou recentemente o Papa Bento XVI com a sua Encíclica Deus caritas est, comentando precisamente as palavras inspiradas de são João na sua primeira carta: "Deus é amor; quem está no amor habita em Deus e Deus nele" (1 Jo 4, 16).

Neste programa de vida se inspirou s. Francisca numa Roma transtornada por calamidades profundas. A Urbe era verdadeiramente aquela cidade "de outros músculos e com os fortes arruinados", descrita por Manzoni. Os muros e os arcos estavam "sem glória e sem louro", como escreveu Leopardi. Mas o programa desta mulher excepcional, como foi s. Francisca Romana, foi o de todos os gigantes da santidade: "Não lamentações, mas acção". Eis a mensagem que a nossa Santa nos deixa em herança também a nós, seis séculos após a sua partida para a casa do Pai.

A caridade fraterna se torne também para nós uma regra de vida!

 

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