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INTERVENÇÃO DO REPRESENTANTE DA SANTA SÉ
JUNTO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO
NO CONGRESSO EM AUBAGNE-EN-PROVENCE
(MARSELHA, FRANÇA)

DISCURSO DE MONS. FRANCESCO BRUGNARO

Sexta-feira, 12 de Maio de 2006

 

Senhor Presidente

Em nome da Santa Sé, como Observador permanente junto da Organização Mundial do Turismo (O.M.T.), agradeço-vos profundamente o convite para participar no Congresso Mundial do Turismo Social (B.I.T.S.); estou encarregado de vos saudar, assim como aos Responsáveis, às Autoridades governamentais e locais e a todos os participantes.

1. "Para um turismo de desenvolvimento e de solidariedade", este tema, que será estudado e aprofundado durante estas jornadas, exprime de modo interessante a tomada de consciência progressiva do BITS e o seu compromisso para que, em nome da solidariedade, o acesso às férias seja associado com o desenvolvimento do território e com a luta contra a pobreza devida ao terrorismo, para fazer da solidariedade uma das orientações básicas entre o norte e o sul do mundo.

2. O desenvolvimento integral do homem e o progresso solidário da humanidade constituem um dos eixos para passar de condições de vida menos humanas para condições de vida mais humanas. E este crescimento não se limita às dimensões meramente económicas e técnicas, mas exige que cada pessoa adquira a cultura, o respeito da dignidade do próximo, a recusa de qualquer forma de terrorismo, o reconhecimento "dos valores supremos e de Deus que é a sua fonte e fim". O desenvolvimento do turismo em benefício de todos deve também responder à exigência de uma justiça em escala mundial, que garanta não só uma paz planetária mas também uma partilha justa dos bens da terra e da cultura humana, tornando possível a realização de um "humanismo integral" (cf. Paulo VI, Encíclica Populorum progressio, nn. 21, 42:  AAS (1997) pp. 267, 278).

3. O Código mundial de ética do turismo deve ser para cada país que se abre ao turismo devido às belezas da natureza ou à cultura uma referência de valor que funda o desenvolvimento turístico, que inclui e orienta o maior número possível de protagonistas:  governos, administrações nacionais, regionais e locais, empresas e associações profissionais, agências não-governamentais, organismos de todos os géneros relacionados com a indústria turística, as comunidades de acolhimento, os órgãos de imprensa e os próprios turistas. Nenhum sector relacionado com o turismo governos, sectores privados, trabalhadores e organizações associativas pode considerar o rendimento duradouro sem que a pessoa humana seja reconhecida como fonte de direitos e de deveres. Deve ser dada uma atenção particular à defesa e à garantia dos direitos dos mais débeis:  crianças, mulheres, pobres, pessoas idosas, trabalhadores não protegidos, imigrantes, etc, que podem ser as vítimas de um terrorismo sem regras, em benefício dos mais ricos, que por vezes podem considerar as pessoas como bens de consumo.

4. Neste contexto, é oportuno reconhecer o lugar da liberdade de movimento das pessoas, que é um direito da pessoa humana e da sua vocação natural na participação universal dos bens da terra e das culturas. Eis por que é exigida uma solicitude particular pelos pobres e por quantos vivem em situações de marginalização, aos quais, de qualquer forma, as condições de vida impedem um crescimento conveniente (cf. João Paulo II, Sollicitudo rei socialis, n. 42:  AAS 80 [1988], pp. 572-573). Devemos também vigiar por que a defesa das belezas naturais e dos bens culturais relacionados com as comunidades e as populações que, sob a pressão do turismo, obedecem a interesses incontrolados, são obrigados a renunciar ou a abandonar o que lhes pertence naturalmente, mesmo em troca de melhorias. Deve-se reconhecer também a figura particular do peregrino-turista, que segue itinerários relacionados com a história da fé que professa, as tradições religiosas ligadas a povos e a territórios (de todas as religiões e de todas as crenças). Por outro lado, as formas características de turismo religioso realizam-se em todo o planeta; o seu contributo económico e financeiro não é indiferente e o seu lugar cultural e relacional não é insignificante.

5. Senhor Presidente, penso que dar ao turismo uma alma humanizante e solidária corresponde não só à acção da Santa Sé, mas constitui um novo aperfeiçoamento da importante Declaração-programa de Montreal que, já há dez  anos,  propunha  "uma  visão  humanista  e  social  do  turismo".  Muito obrigado.

 

 

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