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INTERVENÇÃO DO OBSERVADOR PERMANENTE DA SANTA SÉ
NA 175ª SESSÃO DO CONSELHO EXECUTIVO DA UNESCO

DISCURSO DE MONS. FRANCESCO FOLLO

Segunda-feira, 9 de Outubro de 2006

 

Senhor Presidente

Qualquer empreendimento que tem por finalidade o desenvolvimento das mulheres no mundo merece ser apoiado, porque se trata de um problema de igualdade e de dignidade eminente da mulher. A criação de um observatório da UNESCO "As Mulheres, o desporto e a educação física" proposto pelo Governo grego deve poder ser encorajado e aprovado.

É evidente que este observatório não pode resumir o que seria necessário poder observar da vida das mulheres quando se quer contribuir para o seu desenvolvimento humano, físico, intelectual e espiritual. De facto, poderia ser criado um observatório para cada direito humano... Mas o desporto, que se refere particularmente à imagem do corpo, à capacidade de autonomia, ao poder de escolha e de socialização reveste um carácter cultural muito forte que pode eliminar as aspirações femininas a um certo desenvolvimento. As grandes competições não permitem garantir que haja uma promoção efectiva da igualdade entre homens e mulheres.

Por conseguinte, devemos contentar-nos, no âmbito da UNESCO, de nos limitarmos a um observatório que desempenharia o papel de centro de informações a partir da recolha das experiências? Se a UNESCO deseja favorecer a universalidade e a efectividade de normas éticas relativas ao desenvolvimento das mulheres, é necessário, como noutros debates, que ela tenha a audácia de fazer uma reflexão mais fundamental sobre a exigência universal do respeito do ser humano e de modo especial das mulheres. Porque o ponto frágil da multiplicação das observações que actualmente são desenvolvidas, é limitar o problema filosófico e ético do desenvolvimento humano, e neste caso feminino, a questões meramente técnicas e esquecer a questão da universalidade das normas propostas. Só uma ética filosófica fundamental nos deveria conduzir a designar o que é efectivamente humanizante para toda a humanidade e para as mulheres. Mas por este motivo é preciso aceitar de novo atribuir um papel à filosofia no conjunto dos nossos programas.

Pretender criar um Observatório sobre as mulheres, o desporto e o desenvolvimento humano é preciso não esquecer o papel da cultura, dos costumes, da sociedade e das religiões que formam praticamente uma imagem da mulher capaz de viver num mundo com as suas esferas privadas e públicas. Para criar um tal Observatório é preciso pôr-se de acordo com o conceito-chave que o legitimará: isto é, o desenvolvimento humano. É a filosofia que permite esclarecer o que está em jogo na questão do desenvolvimento humano e da validade dos modelos e das teorias utilizadas na descrição do papel das mulheres na sociedade. Os filósofos já se ocupam destas questões, como Martha C. Nussbaum nos Estados Unidos, em diálogo com as mulheres da Índia, a qual se preocupa com o desenvolvimento humano e com a formação concreta de um "nós" da humanidade capaz de garantir o respeito de cada um e sobretudo das mulheres.

Muito obrigado, Senhor Presidente, pela sua atenção.

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