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INTERVENÇÃO DA SANTA SÉ DURANTE UM ENCONTRO
 REALIZADO PELA OSCE DEDICADO AO TEMA:
«COMBATER O RACISMO, A XENOFOBIA E A DISCRIMINAÇÃO,
 DANDO ATENÇÃO TAMBÉM À INTOLERÂNCIA E À DISCRIMINAÇÃO
 CONTRA OS CRISTÃOS E OS MEMBROS DE OUTRAS RELIGIÕES»

DISCURSO DE D. ANTHONY FRONTIERO
DO PONTIFÍCIO CONSELHO "JUSTIÇA E PAZ"

Varsóvia, 5 de Outubro de 2009

 

Senhor Moderador!

A delegação da Santa Sé aprecia a oportunidade de participar deste importante debate. Acidentes causados pelo ódio, pela discriminação, pela violência e pela intolerância contra os cristãos e membros de outras religiões continuam a verificar-se com demasiada frequência na região da OSCE e são sintomas da falta de paz no mundo. O Papa Bento XVI lamentou esta situação afirmando:  "No caso particular dos cristãos, devo ressaltar com tristeza que por vezes não se limitam a criar-lhes impedimentos; em alguns Estados são até perseguidos, tendo-se registado ainda recentemente episódios de atroz violência. Existem regimes que impõem a todos uma única religião, enquanto regimes indiferentes alimentam, não uma perseguição violenta, mas um sistemático desprezo cultural quanto às crenças religiosas. Em todo o caso, não se respeita um direito humano fundamental, com graves repercussões na convivência pacífica, o que não deixa de promover uma mentalidade e uma cultura negativas para a paz" (cf. Bento XVI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2007, n. 5).

A tolerância e o respeito autênticos são uma disciplina civil, não só uma atitude pessoal. O objectivo do compromisso da OSCE de combater a intolerância e a discriminação contra os cristãos e contra os membros de outras religiões não é "nivelar o campo de jogo" de qualquer modo ou permanecer indiferentes para com diversas visões do mundo, mas respeitar autenticamente as diferenças entre tais visões. Uma ausência de convicções não é sinónimo de tolerância. Na falta de uma noção convincente da verdade que nos pede para ser tolerantes com quem tem uma ideia diferente da verdade das coisas, existem apenas o cepticismo e o relativismo (cf. George Weigel, The Cube and the Cathedral, [2005], 110). Uma noção autentica de tolerância em sociedades pluralistas exige que, ao tratar com os não-crentes e com quantos pertencem a confissões diferentes, os crentes compreendam que devem racionalmente esperar que a discórdia que encontram continuará a existir. Contudo, simultaneamente, as culturas políticas leigas devem encorajar os não-crentes a assumir o mesmo comportamento ao relacionar-se com os crentes. Quando os cidadãos leigos desempenham o seu papel de cidadãos, não devem negar por princípio que as imagens religiosas do mundo tem o potencial de exprimir a verdade, nem devem negar aos seus cidadãos o direito de dar uma contribuição para os debates públicos com uma linguagem religiosa (cf. Jurgen Habermas, The Dialectics of Secularization, [2005], 50-51).

O encontro da mesa redonda sobre o tema Intolerância e Discriminação contra os cristãos, realizado em Viena em Março de 2009, foi um evento de sucesso e de esperança, e revelou a possibilidade de um diálogo construtivo rumo a uma compreensão e respeito recíprocos entre cristãos, membros de outras religiões e não-crentes. Fazem-se bons votos por que se repita esta mesa redonda. Diante dos incidentes de intolerância, discriminação e violência contra os cristãos e contra os membros de outras religiões, a delegação da Santa Sé propõe que este importante organismo origine uma nova tolerância, não aquela indiferente que diz:  "Devemos ser mais tolerantes porque funciona melhor", mas uma tolerância autentica de diferenças assumidas civilmente.

Em conclusão, apoio a noção descrita pelo Papa Bento XVI quando afirma:  "O diálogo fecundo entre fé e razão não pode deixar de tornar mais eficaz a acção da caridade na sociedade, e constitui o quadro mais apropriado para incentivar a colaboração fraterna entre crentes e não-crentes na perspectiva comum de trabalhar pela justiça e a paz da humanidade" (Caritas in veritate, n. 57). Respeitar o outro como pessoa que procura a verdade e a bondade, permite que os crentes e os outros enfrentem um diálogo que conduza ao enriquecimento recíproco em vez de levar a um cepticismo mais profundo sobre a própria possibilidade de alcançar a verdade das coisas. Uma lista de recomendações concretas sobre este percurso será fornecida ao Secretário juntamente com o texto das minhas observações.

 

 

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