The Holy See
back up
Search
riga

INTERVENÇÃO DA SANTA SÉ NA PLENÁRIA
DO SEGMENTO DE ALTO NÍVEL DA CONFERÊNCIA
DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

DISCURSO DE MONS. CELESTINO MIGLIORE

Copenhaga
Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009

Senhor Presidente

Esta conferência confirma quanto tempo é preciso para criar uma vontade política clara e firme, necessária para adoptar medidas vinculantes comuns e orçamentos adequados para uma concreta mitigação das mudanças climáticas em curso e para uma adaptação.

Esta vontade política adquire forma tão lentamente por causa da complexidade das questões interligadas que devemos enfrentar? É principalmente um problema de conflito de interesses nacionais? Ou trata-se da dificuldade de traduzir em números o princípio já adquirido de responsabilidade comum e diferenciada? Ou trata-se uma vez mais do predomínio das políticas energéticas sobre a solicitude para com o meio ambiente? Sem dúvida, é um pouco de tudo isto.

Contudo, dever-se-ia notar como as numerosas considerações que se estão a desenvolver durante este processo convergem num aspecto central: a necessidade de uma reflexão nova e profunda sobre o significado da economia e sobre os seus objectivos, e de uma profunda e clarividente revisão do modelo de desenvolvimento, para corrigir as disfunções e as distorsões. De facto, isto é requerido pela boa saúde ecológica do planeta e, em particular, como resposta urgente à crise moral e cultural do homem, cujos sinto mas são há muito tempo evidentes em todo o mundo.

Com realismo, confiança e esperança devemos assumir novas responsabilidades que nos interpelam no cenário de um mundo necessitado de uma profunda renovação cultural e de uma redescoberta dos valores fundamentais sobre os quais edificar um futuro melhor. As crises morais que a humanidade está a viver actualmente, quer sejam económicas, alimentares, ambientais ou sociais, todas profundamente ligadas entre si, obrigam-nos a reencontrar o nosso caminho, a estabelecer novas orientações e a encontrar novas formas de empenho. Estas crises tornam-se, portanto, ocasião de discernimento e de um novo pensamento.

Obviamente, esta obrigação exige a recolha de análises científicas exactas e detalhadas, de modo a contribuir para evitar as ansiedades e os medos de muitos, e o cinismo e a indiferença da parte de outros. Exige também o empenho responsável de todos os segmentos da sociedade humana para procurar e identificar uma resposta adequada à realidade tangível das mudanças climáticas. Se o diagnóstico, necessariamente nas mãos da ciência, da informação e da política, tem dificuldade de oferecer clareza e motivar uma acção justa e tempestiva de quantos são responsáveis pela sociedade humana, a razão e o sentido inato de responsabilidade comum deve prevalecer mais uma vez. A sociedade civil e as autoridades locais não esperaram as presumíveis conclusões políticas e legalmente vinculantes dos nossos encontros, que empregam um tempo inconcebivelmente longo. Individuos, grupos, autoridades e comunidades locais já tomaram uma série impressionante de iniciativas para dar forma às duas pedras angulares da resposta às mudanças climáticas: adaptação e mitigação. Embora sejam necessárias soluções técnicas, elas não são suficientes. Os programas mais sábios e mais concretos concentram-se na informação, na educação e na formação do sentido de responsabilidade nas crianças e nos adultos em vista de sadios modelos ambientais de desenvolvimento e de gestão da criação.

Estas iniciativas já começaram a compor um mosaico de experiências e aquisições caracterizadas por uma difundida "conversão" ecológica. Estas novas atitudes e comportamentos têm o potencial de criar a necessária solidariedade intrageracional e intergeracional e de dissolver qualquer estéril sentido de medo, de terror apocalíptico, de controle dominante e hostilidade para com a humanidade, que segundo as descrições dos meios de comunicação social e de outros relatórios multiplicaram-se.

Senhor Presidente!

A Santa Sé, no Estado da Cidade do Vaticano, ainda que seja pequeno, está a realizar esforços significativos para tomar a iniciativa na tutela ambiental, promovendo e realizando projectos de diversificação energética destinados ao desenvolvimento de energia renovável, com o objectivo de reduzir a emissão de CO2 e o seu consumo de combustíveis fósseis.

Além disso, a Santa Sé está a concretizar a necessidade de difundir uma educação para a responsabilidade ambiental, que tente também tutelar as condições morais para uma ecologia humana autêntica. Muitas instituições educativas católicas estão empenhadas na promoção deste modelo de educação, quer nas escolas quer nas universidades. Além disso, as Conferências episcopais, as dioceses, as paróquias e as ONGs de inspiração religiosa estão empenhadas há alguns anos na defesa e na gestão de programas ecológicos.

Estes esforços implicam o desenvolvimento de estilos de vida, dado que os actuais modelos dominantes de consumo e de produção são com frequência insustentáveis do ponto de vista da análise social, ambiental, económica e até moral. Devemos tutelar a criação, o solo, a água e o ar, como um dom confiado a cada um, mas devemos também, e sobretudo, impedir que a humanidade se destrua. A degradação da natureza está directamente ligada à cultura que plasma a coexistência humana: quando a ecologia humana for respeitada na sociedade, a ecologia ambiental será beneficiada. O modo como a humanidade trata o ambiente influencia o modo em que ela trata a si mesma.

Na sua recente encíclica Caritas in veritate e na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2010, o Papa Bento XVI dirigiu a todos aqueles que estão empenhados no sector ambiental uma pergunta ineludível: de que modo podemos esperar que as gerações futuras respeitem o ambiente natural, se os nossos sistemas educativos e as nossas leis não as ajudam a respeitar a si mesmas?

Senhor Presidente!

O meio ambiente e as mudanças climáticas comportam uma responsabilidade partilhada para com toda a humanidade, em particular os pobres e as gerações futuras.

Existe um vínculo indissolúvel entre a tutela da criação, a educação e uma abordagem ética da economia e do desenvolvimento. A Santa Sé espera que o processo em questão possa valorizar cada vez mais este vínculo e, com esta intenção, continua a oferecer a sua plena cooperação.

Obrigado Senhor Presidente.

top