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INTERVENÇÃO DA SANTA SÉ NA SEDE DAS NAÇÕES UNIDAS
 EM GENEBRA SOBRE OS DIREITOS DOS IDOSOS

DISCURSO DO ARCEBISPO SILVANO M. TOMASI
 OBSERVADOR PERMANENTE DA SANTA SÉ

Genebra, 13 de Setembro de 2013

 

Senhor Presidente

A minha Delegação agradece ao Alto Comissariado e ao Secretário-Geral a iniciativa de realizar uma consulta, junto dos Estados membros e observadores, e também nas instituições da sociedade civil, sobre a situação dos direitos humanos e das necessidades das pessoas idosas na sociedade actual. Os desafios principais enumerados pelo Alto Comissariado, entre os quais podemos citar o impacto da crise financeira sobre esta camada da população, o alto índice de pobreza, a insegurança alimentar, a falta de moradia, o acesso escasso à previdência social, aos serviços necessários e à assistência médica, o crescente isolamento, a institucionalização e a discriminação em relação aos membros mais idosos da comunidade são motivos de grande preocupação para a minha Delegação. Certamente, são problemas bem conhecidos à Igreja católica, que apoia 17.223 institutos para idosos, doentes crónicos e deficientes, espalhados em todas as regiões do mundo («Estatísticas da Igreja católica — 2012», Agência Fides, 21 de Outubro de 2012), e uma série de serviços psicossociais e pastorais comunitários, cujo objectivo é fazer com que estas pessoas permaneçam nas próprias casas, comprometidas activamente na vida familiar e social.

A população dos idosos está a aumentar; o número de pessoas mais jovens que devem ser assistidas com ajudas destinadas às famílias está a diminuir. As tendências demográficas recordadas pelo Alto Comissariado ilustraram esta realidade. Como resposta, parece que existe a tendência a «depositar» as pessoas idosas, tirando deste modo o lugar que lhes cabe na vida da comunidade. Por conseguinte, a população em geral é privada dos benefícios que podem proporcionar a experiência vivida e a sabedoria destes membros mais idosos da comunidade humana. O Relatório de 2013 faz referência à consulta pública sobre o tema e chama em causa o facto de que «uma decisão tinha que ser tomada sobre o período de tempo entre o qual esta longevidade deveria ser valorizada» e que «o desafio consistia em acrescentar vida aos anos e não só anos à vida». Certamente, a minha Delegação pensa que é necessário garantir às pessoas que estão a envelhecer a qualidade de vida mais alta possível. Apoiamos fortemente também o direito à vida desde o seu concebimento até à sua morte natural e, portanto, contrastamos incondicionalmente qualquer tentativa de pôr fim à vida das pessoas idosas só pelo facto de que já não podem desempenhar um papel de «membros contribuintes da sociedade», ou porque a assistência médica para esta camada da população comporta despesas crescentes. A dignidade das pessoas permanece sempre intacta.

«Não obstante tudo, muitas vezes, a sociedade, dominada pela lógica da eficiência e do lucro, não [...] acolhe [o dom da longevidade] como tal: aliás, frequentemente rejeita-o, considerando os idosos não-produtivos, inúteis [...]. A sabedoria de vida da qual somos portadores é uma grande riqueza. A qualidade de uma sociedade, ou melhor, de uma civilização, julga-se também pelo modo como trata os idosos e pelo lugar que lhes é reservado no viver comum» (Discurso de Bento XVI por ocasião da sua visita à casa-família para idosos em Roma, 12 de Novembro de 2012).

Baseando-se sobre os dados e os testemunhos dos peritos, reunidos ao longo da consulta sobre esta questão urgente, a minha Delegação deseja propor as seguintes estratégias a fim de promover e tutelar de forma eficaz os direitos humanos das pessoas idosas:

1. Afirmar e preservar o papel social das pessoas idosas. Isto exige uma reflexão e, por conseguinte, a elaboração de políticas justas e mais equitativas, que visem redefinir o conceito de utilidade social para quantos se retiraram do sistema do trabalho remunerado, mas que ainda são capazes e necessários para fortalecer o tecido da sociedade, através do serviço voluntário e da presença social como membros respeitados e sábios das famílias e comunidades.

2. Fazer com que as pessoas idosas sejam envolvidas nos processos decisórios que dizem respeito à sua vida e à sua integração social. Muitas vezes, estas decisões são delegadas a outros, também quando as pessoas idosas são capazes de discernir o que é melhor para elas. O respeito pela sua dignidade humana e o seu direito exigem que sejam envolvidas nestas decisões e que outros assumam a responsabilidade de decidir sobre as suas curas só quando existem provas certas que de são incapazes de as fazer sozinhas.

3. Promover a solidariedade social relativamente aos desafios que os idosos devem enfrentar. Com frequência, a escassez dos financiamentos é usada como desculpa para privar as pessoas mais idosas de uma qualidade de vida mais alta. É necessário que os governos e a família dêem prioridade às medidas de solidariedade social.

4. Garantir o acesso à assistência médica e à ajuda comunitária. Muitas vezes as despesas elevadas da assistência nos hospitais e nos lares de idosos podem ser evitadas, fortalecendo os cuidados de saúde primários e o apoio comunitário, e oferecendo uma ajuda financeira às famílias para que possam deixar os idosos nas suas casas.

Senhor Presidente

Prestando a devida atenção aos direitos humanos das pessoas idosas e a outros direitos humanos inerentes, valoriza-se a presença positiva e construtiva dos idosos na sociedade. Um instrumento vinculante sobre a promoção e a tutela de todos estes direitos fortalece-los-ia e tornaria a comunidade internacional responsável pela sua actuação. Contrariamente aos estereótipos, graças à sua experiência e maturidade, as pessoas idosas são um enriquecimento para a sociedade e ajudam-nos a olhar para as questões humanas com maior sabedoria.

 

 

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