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CARTA DO CARDEAL AGOSTINO CASAROLI
EM NOME DO SANTO PADRE
POR OCASIÃO DA IX SEMANA SOCIAL DO CHILE
CONCLUÍDA A 16 DE NOVEMBRO DE 1980

 

Senhor Presidente

O Santo Padre, informado da próxima celebração da IX Semana Social do Chile, acerca do tema "A dimensão social da Eucaristia", confiou-me o agradável encargo de dirigir-me em seu nome a todos os participantes na mesma, para lhes transmitir a sua cordial saudação e a sua palavra de alento.

É feliz coincidência estar-se a Comunidade eclesial do Chile a preparar para viver nestes dias o auge do XI Congresso Eucarístico Nacional que, à volta de um tema afim do da Semana, deseja ser apelo à unidade na fé para todos os seguidores do Filho de Deus. Trata-se de acontecimento de particular alcance eclesial a que essa Semana não deixará de prestar oportuna atenção.

Os dias de trabalho, que se iniciam na Paróquia Universitária da Cidade de Santiago, têm o próprio centro no Altar, para celebração do sacrifício eucarístico, como sinal de fé e unidade em Jesus Cristo. Unidos na fracção do pão, fiéis aos ensinamentos e às vivências da Igreja, quereis manifestar que a Eucaristia continua a ser o fundamento que actualiza o desejo manifestado pelo Salvador na última Ceia de que "todos sejam uma só coisa; como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, que também eles estejam em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste" (Jo 17, 21). É realidade espiritual que encerra ao mesmo tempo uma dimensão social de grande importância e alcance.

A Igreja ensinou sempre que a participação numa. só mesa eucarística é, por si mesma, símbolo e causa de fraternidade e comunhão de sentimentos. Basta recordar a conhecida expressão de Santo Agostinho a respeito da Eucaristia: "... a virtude que este pão encerra é unidade e, reduzidos ao Seu corpo e convertidos em membros Seus, devemos começar a ser o que recebemos" (Santo Agostinho, Serm. 57, cap. 7, n. 7; PL 38, 389). Passados séculos, o Concílio Tridentino recolherá o sentir eclesial constante, de ter Cristo deixado à Igreja a Eucaristia "como símbolo da unidade e caridade com que desejou estivessem unidos entre si os cristãos" (Conc. Trident., sess. XIII, Proemium - D. 1635). Ideia recolhida pelo Concílio Vaticano II ao chamar a este sacramento "sinal de unidade" (Conc. Vat. II, Const. sobre a Sagr. Lit. Sancrosanctum Concilium, 47).

A escolha do tema desta Semana é prova de que os responsáveis e o laica do da Igreja de Deus nesse país estão conscientes da importância que na Eucaristia vivida tem a dimensão social do compromisso cristão e de que desejam aplicá-lo, dentro de uma total fidelidade aos ensinamentos evangélicos e do Magistério, na vida individual e comunitária.

É portanto consolação para o Vigário de Cristo saber que, nas actuais circunstâncias que atravessam a sociedade e o povo chileno os cristãos querem ser promotores de concórdia e solidariedade entre todos, e desejam apresentar o verdadeiro rosto de Cristo, revestido de justiça e caridade, a todos os seus irmãos. Com efeito, o autêntico amor de Deus e do próximo há-de conduzir necessariamente a implantar nos diversos ambientes civis respeitando embora a pluralidade de legítimas opções — comunhão de intentos e de sentimentos a respeito dos valores essenciais. A fraternidade cristã, derivada da comum filiação divina e corroborada com a participação da Eucaristia, há-de ser fortíssimo impulso para o cristão tornar presente Cristo em todos os ambientes da sociedade actual. Por isso, o Santo Padre, na alocução aos leigos durante a sua viagem pastoral ao México, afirmou: "Os cristãos sejam perseverantes no testemunho e na acção evangélica, coerentes e decididos nos seus compromissos temporais, constantes promotores da paz e justiça contra a violência ou a opressão, agudos no discernimento crítico das situações e ideologias à luz dos ensinamentos sociais da Igreja, confiados na esperança do Senhor" (João Paulo II, Discurso aos representantes das Organizações católicas nacionais do México, Cidade do México, 29.1.1979).

Eis aqui, Senhor Presidente, um grande trabalho para realizar: criar ambientes e canais de convivência, de encontro, de justiça e de respeito dos legítimos direitos da pessoa, da família e da comunidade; ambientes e canais de participação, impregnados de amor, da busca sincera da verdade, pois o cristão, se quer ser fiel servidor de Cristo, deve viver a lei da caridade e da verdade. Caridade insubstituível, dado que, segundo dizia o Apóstolo Paulo tornando-se eco do Mestre, "... toda a Lei se encerra num só preceito: 'Amarás ao teu próximo como a ti mesmo' " (Gál 5, 14). Caridade que se exprime, seguindo fielmente a expressão evangélica e eclesial, no esforço para dignificar e ajudar os irmãos e conduzi-los para Deus. No campo social, como recordou sempre o Magistério Pontifício, a justiça e a caridade devem completar-se e caminhar a par.

Este é o anelo do Santo Padre: que os dias que hoje começam sejam estímulo e força para discernir a realidade social chilena com olhar cristão, segundo os ensinamentos e exemplos que nos deixou o Filho de Deus, que hoje como ontem é "caminho, verdade e vida" (Jo 14, 6).

Ao certificá-1o, Senhor Presidente, que Sua Santidade pede ao Todo-Poderoso pelo êxito dessa Semana, com gosto transmito aos organizadores e participantes nela a sua especial Bênção.

Aproveito a oportunidade para expressar-lhe, Senhor Presidente, os sentimentos da minha sincera e devota estima em Cristo.

 

Agostino Card. Casaroli
Secretário de Estado

 

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