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MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
ASSINADA PELO CARDEL TARCISIO BERTONE
PARA A CELEBRAÇÃO DO DIA MUNDIAL DA ÁGUA

Quinta-feira, 22 de Março de 2007

 

Ao Senhor Jacques Diouf
Director-Geral da Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura (FAO)

Por ocasião da hodierna celebração do Dia Mundial da Água, Sua Santidade Bento XVI encarrega-me de lhe transmitir, Senhor Director-Geral, assim como a todos os participantes neste encontro, as suas deferentes e cordiais saudações, juntamente com o encorajamento pela acção em favor daqueles que, no mundo, sofrem por causa da escassez de água.

No contexto do período de 2005-2015, que a Assembleia Geral da ONU declarou "Década Internacional de Acção: Água para a Vida", o tema do corrente ano: "Enfrentar a penúria de água" oferece-nos a ocasião para reflectir sobre a importância da água como fonte de vida, cuja disponibilidade é necessária para os ciclos vitais da terra e fundamental para uma existência plenamente humana.

Todos nós estamos conscientes da dificuldade de alcançar, a nível mundial, a finalidade que a comunidade internacional se propôs, de reduzir para metade até 2015 o número de pessoas que não têm acesso à água potável e aos serviços higiénicos fundamentais, mediante o desenvolvimento, entre outras coisas, de planos integrados de gestão e de utilização eficazes dos recursos hídricos.

Contudo, estamos outrossim convictos da importância de não desiludir tais finalidades, considerando a centralidade que a água reveste de qualquer processo destinado a favorecer a promoção de um desenvolvimento humano integral. Além disso, investimentos oportunos no sector da água e dos serviços higiénicos representam um significativo mecanismo propulsor para acelerar o crescimento económico e o desenvolvimento sustentável, em vista de melhorar a saúde e a higiene humana, para erradicar a pobreza e combater a degradação do meio ambiente.

A Água, um bem comum da família humana, constitui um elemento essencial para a vida; a gestão deste recurso precioso deve ser tal, que permita o acesso a todos, sobretudo àqueles que vivem em condição de pobreza, garantindo a vivibilidade do planeta, tanto da geração presente como das vindouras.

Com efeito, o acesso à água faz parte dos direitos inalienáveis de cada ser humano, porque representa um requisito prévio para a realização de uma grande parte dos outros direitos humanos, como o direito à vida, à alimentação e à saúde. Por este motivo, a água "não pode ser tratada como uma mera mercadoria entre as outras e a sua utilização deve ser racional e solidária [...] O direito à água fundamenta-se na dignidade humana e não em avaliações de tipo meramente quantitativo, que consideram a água como um bem económico. Sem a água, a vida é ameaçada. Portanto, o direito à água constitui um direito universal e inalienável" (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 485).

O Dia Mundial da Água representa uma preciosa ocasião para estimular a comunidade internacional a encontrar percursos eficazes, que permitam que este direito humano fundamental seja promovido, tutelado e desfrutado.

Neste sentido, a gestão sustentável da água torna-se um desafio socioeconómico, ambiental e ético, a ponto de comprometer não apenas as instituições, mas a sociedade inteira. Ela deve ser enfrentada em conformidade com o princípio da subsidiariedade, ou seja, através da adopção de uma abordagem participativa que comprometa tanto o sector privado como também, e sobretudo, as comunidades locais; o princípio da solidariedade, pilar fundamental da cooperação internacional, que exige uma opção preferencial pelos pobres; o princípio da responsabilidade em relação à geração presente e às futuras, do qual brota a consequente necessidade de examinar de novo os modelos de consumo e de produção, muitas vezes insustentáveis no que diz respeito à utilização dos recursos hídricos.

Além disso, trata-se de uma responsabilidade que deve ser compartilhada, e revela-se como imperativo moral e político, num mundo que dispõe de níveis de conhecimentos e de tecnologias capazes de pôr fim às situações de escassez de água e às suas dramáticas consequências, que interessam sobretudo as regiões onde as rendas são mais baixas, onde muitas vezes o acesso à água pode desencadear verdadeiros conflitos, enquanto pode tornar-se motivo de cooperação inter-regional, onde for valorizada uma abordagem clarividente, alicerçada na interdependência hídrica, que una os utilizadores dos recursos hídricos de países vizinhos numa estrutura compartilhada.

Senhor Director-Geral, são estes aspectos que exigem não somente a responsabilidade dos governantes e dos políticos, mas interpelam todas as pessoas. Todos nós somos chamados a renovar os nossos estilos de vida num esforço educativo capaz de voltar a atribuir a este bem comum da humanidade o valor e o respeito que deve ter na nossa sociedade. De resto, este esforço educativo pode haurir de numerosos textos sagrados das religiões tradicionais, como a Bíblia, onde a água é simbolicamente fonte e sinal de vida, e a sua presença é frequentemente associada à alegria e à fertilidade, assumindo também um papel de purificação, de renovação e de renascimento.

Neste Dia Mundial da Água, o Santo Padre invoca a bênção do Senhor sobre todos aqueles que estão comprometidos em alcançar as finalidades definidas pela comunidade internacional no campo hídrico. Enquanto me sinto honrado por lhe transmitir esta Mensagem da parte de Sua Santidade, peço-lhe que aceite, Senhor Director-Geral, as expressões da minha mais alta consideração.


Vaticano, 22 de Março de 2007.

 

Cardeal TARCISIO BERTONE
Secretário de Estado de Sua Santidade

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