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DISCURSO DO CARDEAL TARCISIO BERTONE
NO ENCONTRO COM OS UNIVERSITÁRIOS
EM HONRA DO PAPA BENTO XVI

Quinta-feira, 19 de Abril de 2007

 

É motivo de grande alegria para mim participar nesta noite cultural promovida pelos jovens estudantes dos colégios universitários de Roma em honra do Papa Bento XVI.

Saúdo com muita cordialidade os Magníficos Reitores e os professores que quiseram compartilhar este desejo dos jovens de festejar o Santo Padre pelo seu 80º aniversário e pelo segundo aniversário da sua eleição.

Queridos jovens, o tema empenhativo que escolhestes para o debate, mesmo num contexto de festa, revela o vosso particular anseio de partilhar com o Santo Padre o amor fiel pelo Senhor Jesus, único Salvador do mundo, e ao mesmo tempo, de oferecer aos vossos coetâneos o testemunho do vosso jubiloso seguimento. Recordemos as repetidas exortações do Papa: quem descobriu Cristo deve trazer os outros para Ele. Uma grande alegria não pode ser conservada só para si.

"Evangelho e jovens. Do mito à realidade". Este título escolhido por vós não se apresenta como um slogan mas nos conduz a raciocinar com Bento XVI sobre a colocação temporal de Jesus no interior da história universal: "a actividade de Jesus não deve ser considerada inserida num mítico antes-ou-depois, que pode significar ao mesmo tempo sempre e nunca; é um evento histórico perfeitamente datável com toda a seriedade da história humana realmente acontecida com a sua unicidade, cuja contemporaneidade com todos os tempos é diferente da atemporalidade do mito" (Ratzinger, Jesus de Nazaré, p.31). Com esta citação convido-vos a ler o seu livro publicado recentemente.

O Evangelho de João diz: "Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está no seio do Pai é que O deu a conhecer" (1, 18). E todos os mitos que falam de uma divindade que morre e ressurge comenta o teólogo Ratzinger no final esperavam por Ele: o desejo tornou-se realidade.

Estamos ainda vivendo as festas da Páscoa e, ao observar em particular o mundo da comunicação, ao qual os jovens são tão sensíveis, perguntamo-nos se a ressurreição de Cristo é considerada também hoje uma notícia para ser comunicada e afirmada, como quando foi difundida após a crucifixão, a ponto de ter chocado Jerusalém e se de ter tentado sufocá-la no sangue. Ou se não é vista como uma espécie de mito repetido de ano em ano. A resposta chega-nos dos inúmeros mártires cristãos, também no nosso tempo. A dois mil anos de distância, pela veracidade desta notícia, continua-se a morrer e a viver, porque esta é a boa nova que faz viver a vida em plenitude e pela qual, portanto, vale a pena doar-se a si mesmo.

Para ser testemunhas, vós jovens, percebeis a necessidade de possuir uma sólida preparação, não só doutrinal, mas vital, da fé cristã. É sempre válida a advertência paterna de Bento XVI aos jovens durante a JMJ de Colónia, que os exortava a fazer com que a religião não se torne um "produto de consumo", onde se escolhe o que mais apetece: "Mas a religião procurada a seu "bel-prazer" no fim não nos ajuda. É cómoda, mas no momento da crise abandona-nos a nós próprios. Ajudai, queridos amigos, os homens a descobrir a verdadeira estrela que nos indica o caminho: Jesus Cristo! Procuremos nós próprios conhecê-lo sempre melhor para poder de maneira convincente guiar também os outros para Ele" (Esplanada de Marienfeld, Domingo, 21 de Agosto de 2005).

O conhecimento de Deus, na sua realidade verdadeira e profunda, não pode ser compreendida adequadamente apenas com os instrumentos de análise com os quais procuramos indagar os fenómenos sociais e culturais. A presença de Deus, em Jesus Cristo, é alcançada somente se o homem se deixar envolver, ao entrar numa relação que é luz e mistério. Reconheçamo-lo desse modo como Palavra/Logos que orienta e constrói e toma em consideração todo o homem, com as suas dúvidas e fragilidades, preocupações e esperanças, inteligência e vontade. A fé em Jesus Cristo não coloca o homem numa vaga e indefinida meta-historicidade, onde se confunde ou é absorvido por forças misteriosas, mas reconhece-lhe a responsabilidade de ser criado à imagem e semelhança de Deus.

Bento XVI, com o seu elevado ensinamento teológico, oferecido com simplicidade e discrição, sinal de autêntica estatura intelectual, acompanha-nos neste caminho de fé que não teme a luz da razão, nem a obscuridade da oposição e da perseguição. Aliás, ele faz compreender que os novos impulsos e a própria realidade histórica vêm ao encontro do Evangelho ao pedir a este luz para entender o nosso tempo.

Vós, jovens universitários, estais em condição mais favorável para partilhar o caminho contemporâneo da Igreja, ao fundamentar o vosso entusiasmo e a vossa generosidade na solidez de um pensamento bem alicerçado e robusto. Não estais sozinhos neste caminho.

Na hodierna circunstância, sinto-me feliz por receber o volume preparado pelos professores e apraz-me realçar: jovens professores das Universidades de Roma e do Lácio, por ocasião do 80º aniversário do Papa. A eles dirijo o mais profundo agradecimento e estou certo de interpretar assim o pensamento do Santo Padre.

O título da obra: "A Caridade intelectual. Percursos culturais para um novo humanismo" é empenhativo, mas apropriado às responsabilidades que os professores universitários têm na formação das jovens gerações e na elaboração cultural.

Na recente vigília mariana, o Santo Padre manifestou a sua alegria e o seu apreço pelo tema da caridade intelectual. Ela define bem o papel do professor e amplia os seus horizontes. Demasiadas vezes na história foram criadas incompreensões entre fé e razão, demasiadas vezes os horizontes da ciência e da pesquisa separaram-se e foram limitados a tal ponto que já não vêem a realidade na sua totalidade.

Definir o papel dos professores universitários com a empenhativa e, às vezes, árdua perspectiva da caridade intelectual é uma clara indicação de percurso, quer da vida pessoal do professor quer da inteira comunidade universitária.

A sociedade e, em especial, os jovens estudantes esperam dos professores universitários uma guia segura e iluminada, onde se entrelaçam honestidade intelectual e pureza de coração, as quais constituem a alma da caridade intelectual. Bento XVI, por longos anos professor universitário e agora supremo mestre e pastor da Igreja universal, oferece-nos um exemplo maravilhoso. Nele o exercício da caridade intelectual manifesta-se de modo rigoroso e claro, com o qual sabe conduzir ao bom senso da fé, mas também se manifesta no silêncio, na escuta profunda e respeitosa, na capacidade de se pôr em relação com o interlocutor. Para mim, cada ocasião de encontro com Bento XVI é uma escola de teologia actualizada, de síntese límpida da doutrina cristã, e também uma escola de vida e de espiritualidade.

Enfim, gostaria de dirigir algumas breves palavras para comentar o segundo dom que é oferecido ao Papa esta noite. É um DVD que reúne dois grandes Oratórios de Lorenzo Perosi: "O Natal do Redentor" e "A Ressurreição de Cristo", executados pela Orquestra do Conservatório de Santa Cecília, pelo Coro interuniversitário, com os Coros dos Conservatórios e das Universidades do Lácio, dirigidos pelo Maestro Valentino Miserachs. É uma colectânea muito significativa pelo valor espiritual e artístico das obras de Perosi, mas também pela colaboração da qual é expressão: refiro-me ao Ministério para a Universidade, à Congregação para a Educação Católica, à Rádio Vaticano e ao Centro Televisivo Vaticano. Desejo transmitir um pensamento particular aos jovens do Coro interuniversitário, dirigidos pelo Maestro Massimo Palombella, pelo jubiloso e qualificado testemunho com o qual acompanham a pastoral universitária de Roma.

São duas prendas que de bom grado entregarei ao Santo Padre, fazendo-me intérprete dos vossos sentimentos de filial devoção. Estou certo de que para ele será um momento de consolação, pois sabe que pode contar com a colaboração dos universitários e dos professores de Roma e do Lácio empenhados na pastoral universitária.

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