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HOMILIA DO CARDEAL TARCISIO BERTONE
NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA
PARA A ORDENAÇÃO EPISCOPAL
DE D. MICHELE DI RUBERTO

Sábado, 30 de Julho de 2007

Queridos irmãos no Senhor

"Deus é rico em misericórdia" e também agora deseja ampliar esta sua riqueza em favor da Igreja, concedendo a ela um novo Bispo. D. Michele Di Ruberto hoje pode fazer suas, na verdade e no compromisso, em união com o colégio episcopal, as palavras sugeridas pela carta aos Coríntios: "Já que por misericórdia fomos revestidos deste ministério, não perdemos a coragem, pela manifestação da verdade recomendamo-nos à consciência de cada homem diante de Deus" (cf. 2 Cor 4, 1-2).

Misericórdia não é apenas clemência, condescendência: é ternura. E hoje, para o nosso irmão que é consagrado Bispo, torna-se manifesta a bondade e a ternura de Deus nosso Salvador. Na fé imploramos, para ele, com ansiedade e com alegria o dom do Espírito Santo, e juntamente pedimos a santidade que deste dom deriva como graça. Com liberdade ele assume a tarefa de guardar e fazer crescer em si mesmo estes dons, para o bem de toda a Igreja.

E qual imagem da ternura do Senhor é mais eloquente, do que a do Bom Pastor?

Portanto, deixemo-nos guiar pelo Evangelho do Bom Pastor, que ouvimos, para compreender esta particular configuração a Cristo que hoje D. Michele Di Ruberto, com a sua ordenação, inicia a assimilar nas fibras mais profundas do seu ser.

A simpatia, aliás a empatia e a delicadeza que emanam da figura do Bom Pastor, este ícone evangélico tão querido aos primeiros cristãos, evoca instantaneamente uma nota particular de profissionalidade, divinamente inspirada: o serviço. A autoridade, no pensamento de Cristo, não é em benefício de quem a exerce, mas em favor daqueles aos quais é dirigida: não deles mas para eles (cf. A. Manzoni, "Não pode haver a justa superioridade de homens sobre os homens, a não ser ao serviço deles": Perfil do Card. Federigo Borromeo). A autoridade é um dever, um peso, uma dívida, um ministério para com os demais, para os conduzir rumo à vida que Deus quer que possam conseguir. Que tremenda responsabilidade para os Pastores!

Porém, uma segunda nota qualifica a autoridade do Bom Pastor: o amor. A autoridade é um serviço realizado com amor e por amor. E o amor, se é realmente tal, leva à sua expressão absoluta, ao dom total de si, ao sacrifício: exactamente como Jesus disse e fez de si, e propõe como exemplo daquele que no ofício de Pastor o seguirá: "O Bom Pastor dá a vida pelo seu rebanho" (Jo 10, 11).

Os traços eclesiais e espirituais que caracterizam o novo Arcebispo estão claramente expressos no seu brasão: a estrela símbolo de Maria, o campanário de Pietramontecorvino, símbolo da Igreja, a chama símbolo do Espírito Santo que ilumina o povo de Deus com a caridade. Tais elementos estão graciosamente harmonizados no lema: cum Maria in Ecclesia Sanctorum.

Cum Maria. A riqueza da relação pessoal que o Bispo estabelece com a Virgem Santíssima é uma relação que se expressa sobretuto na vida de oração, mas não apenas na ardente devoção pessoal, porém porque toda oração é vivida com ela, inspirada de algum modo e modelada na sua fé, esperança, caridade, silêncio, acolhimento e meditação da Palavra, que o Bispo deve anunciar.
A relação com Maria expressa-se ainda naquilo que podemos definir como familiaridade. Chamado a ser guia e pastor, o Bispo coloca-a no contexto dos seus pensamentos mais íntimos e, de bom grado, confronta-se com a mesma.

Gostaria, neste momento, de recordar o saudoso Cardeal Alberto Bovone, que foi Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, de quem por alguns anos D. Di Ruberto foi um colaborador muito próximo. Pensando na sua ordenação episcopal, recordava: "Vivi sob os seus olhos [de Maria] a belíssima emoção da minha ordenação episcopal e daquele dia, como aconteceu para João, Maria a Bem-aventurada Virgem da Salve tornou-se mais do que minha mãe, o dom com o qual Jesus selou a sua complacência por mim para não me deixar jamais sozinho na tarefa que me confiava. Eu vejo e sinto o seu amor. É o amor que somente por uma mãe se pode nutrir".

Como diz João Paulo II na Encíclica Redemptoris Mater, "O magistério do Concílio acentuou que a Virgem Santíssima, Mãe de Cristo, constitui um subsídio eficaz para o aprofundamento da verdade sobre a Igreja. Maria está presente na Igreja como Mãe de Cristo e, ao mesmo tempo, como a Mãe que o próprio Cristo, no mistério da Redenção, deu ao homem na pessoa do Apóstolo São João. Por isso Maria abraça, com a sua nova maternidade no Espírito, todos e cada um na Igreja; e abraça também todos e cada um mediante a Igreja" (n. 47).

O Bispo, cujo serviço está destinado a abraçar todos e cada um na Igreja, e todos e cada um mediante a Igreja, encontra em Maria o sustento e o alívio para a sua acção incessante, consciente de que não é inadequado para uma tarefa tão excelsa. Ele tem a certeza de que a Mãe de Jesus o socorre em todos os momentos, deixando-se ajudar, atrair e consolar por Ela. São Luís Grignion de Monfort dizia: "Quando o Espírito Santo encontra a Virgem no coração de um homem, corre e voa para aí".

In Ecclesia Sanctorum. A Igreja é guardiã de uma "memória". É a memória do caminho do homem rumo à transcendência religiosa, cultural e moral: caminho que encontra no Evangelho de Cristo o seu ponto de referência fulcral, a partir do qual pode ser compreendida todas as mais elevadas experiências humanas. Os Santos são aqueles que realizam ao máximo nível os ideais de perfeição humana. Apesar da fragilidade em que cada um se encontra, os Santos representam o rosto mais resplandecente da Igreja, o rosto em que as semelhanças de Cristo e os traços da própria Igreja se reflectem com maior nitidez. Contemplando as grandiosas figuras dos Santos de todos os tempos, nós vemos pessoas determinadas a realizar não apenas os seus próprios ideais, por mais nobres que eles sejam, mas primariamente comprometidas na adesão ao programa de Deus para o homem. E nisto, podemos pensar e esperar que os Santos sejam miríades; não somente aqueles que foram elevados às honras dos altares, pelos quais D. Di Ruberto trabalhou tão intensamente, e muito continuará a labutar, mas também aqueles que se conformaram escondida e quotidianamente ao espírito das bem-aventuranças.

Sem dúvida, a santidade não é alheia à vida de um Bispo. A sua conotação não poderá prescindir daquela modalidade de amor que corresponde à dedicação do Bom Pastor. Inclusive a vida interior do Bispo deverá ser plasmada configurada pelo seu ministério eclesial. Da oração e da acção do Bispo, nunca podem estar ausentes as instâncias do homem. O Bispo é um peregrino que caminho em companhia de todos, mergulhando com discrição na dimensão quotidiana, com os seus altos e baixos de alegria e de sofrimento, para buscar uma síntese mais elevada, iluminada pelos exemplos do Evangelho. Ouvimo-lo há pouco na leitura tirada da Carta aos Coríntios: "Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é que brilhou nos nossos corações, para que irradiássemos o conhecimento da glória de Deus, que se reflecte na face de Cristo" (2 Cor 4, 6).

Nesta venerável Basílica Vaticana, dedicada a São Pedro, e ainda emocionados pela solene liturgia da festa do dia de ontem, somos particularmente impelidos a unir Maria a Pedro, num único amor filial. A adesão a Pedro, que nos representou, e que nos une na Igreja, constitui um compromisso de quotidianidade, de adesão às decisões que Pedro continua a tomar através dos seus sucessores, para toda a Igreja. Convencidos, como estamos, de que não há fé sem Igreja e que "o eu da profissão de fé cristã não é somente o eu isolado do indivíduo, mas o eu conjunto da Igreja, personalizado por Pedro e pelos seus Sucessores" (Henry de Lubac), peçamos a Maria que revigore o nosso amor e a nossa fidelidade à Igreja e ao Papa.

Para sermos colaboradores do Papa, não podemos prescindir da comunhão, hoje mais do que nunca redescoberta como o verdadeiro nome da colaboração, contra todo o formalismo funcional exclusivamente exterior.

D. Di Ruberto representa um exemplo de colaboração persuadida e generosa, bem como de fidelidade sólida e comprovada à Igreja e ao Papa. Ele chegou à Ordenação episcopal com uma vasta experiência eclesial, e depois de um serviço prolongado e magnânino à Santa Sé. Nos cinquenta anos de sacerdócio, reservou espaço e importância também ao ministério pastoral directo, que desempenhou com impulso e eficácia, especialmente no meio dos jovens de Lucera, de Roma e de Zagarolo, assim como no âmbito da Acção Católica e entre as Irmãs Reparadoras do Sagrado Coração, das quais é capelão há muitos anos.

Não posso deixar de recordar que, em 1959, ele se tornou secretário do seu tio, D. Pietro Parente, então Arcebispo de Perúsia e sucessivamente Cardeal Assessor da Suprema Congregação do Santo Ofício, que muitos de nós recordam como um iluminado Padre do Concílio Vaticano II.
D. Di Ruberto deu início ao seu serviço na Cúria Romana no distante ano de 1963, primeiro na Congregação para a Disciplina dos Sacramentos e, em seguida, na Congregação para as Causas dos Santos, da qual foi Oficial e Subsecretário. Em todas as funções assumidas, D. Di Ruberto demonstrou sempre competência, diligência e o seu característico entusiasmo e ardor humano, que imediatamente o tornam "próximo" de todos quantos se aproximam dele.

O Papa Bento XVI, precisamente em consideração da sua experiência e dos seus méritos na promoção das Causas dos Santos, nomeou-o Secretário do mesmo Dicastério. E hoje entrego-lhe o anel episcopal, presente do Santo Padre, que lhe recordará todos os dias o dever de fidelidade à Igreja, Esposa de Cristo. Receber o anel lembrava ainda Bento XVI é como renovar o "sim", é como pronunciar novamente o "eis-me", dirigido ao mesmo tempo ao Senhor Jesus e à sua santa Igreja, que cada Bispo é chamado a servir com amor esponsal.

Pelo seu novo e exigente encargo, a nossa oração ao Espírito Santo faz-se mais intensa e solene:
"Vinde, ó Espírito Criador, e transmiti a vossa luz ao vosso fiel servidor; que o vosso Amor o envolva, a vossa alegria o sustente e a vossa fortaleza o consagre Colaborador de Cristo Salvador!

 

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