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CARTA DO CARDEAL TARCISIO BERTONE
AO ABADE PADRE SIMONE M. FIORASO
POR OCASIÃO DO CONGRESSO SOBRE
SÃO BERNARDO DE CLAIRVAUX

Reverendíssimo Padre Abade

Agradecido pelo convite que me dirigiu e, infelizmente, impossibilitado de participar, como tinha programado, no segundo congresso "Bernardo de Clairvaux", organizado por esta abadia e pela pontifícia universidade de S. Tomás, estou feliz por lhe dirigir com a presente mensagem a saudação de bons votos do Santo Padre Bento XVI às autoridades, aos relatores e a todos os participantes.

O tema do congresso "Actualidade de uma mensagem e de uma experiência" oferece a oportunidade de reflectir sobre o papel desempenhado por São Bernardo na sua época, quando a Europa estava a entrar numa fase importante da sua história, e o pensamento filosófico começava a mudar a sua atenção em relação ao homem. Com a sua palavra insigne, Bernardo de Clairvaux ressaltou a raiz do autêntico humanismo cristão, fundamentado na dignidade do homem, que se manifesta na criação e na redenção.

Desejando pôr em evidência a actualidade da mensagem de São Bernardo para o homem de hoje, sedento de verdadeiros fundamentos espirituais, às vezes até inconscientemente, é bom recordar o íntimo nexo existente no pensamento e na vida deste grande Doutor da Igreja, entre a busca da verdade e o exercício da humildade, e juntamente o tríplice amor no âmago da espiritualidade cisterciense a Deus, a nós mesmos e ao próximo.

São Bernardo ensina que o conhecimento da verdade acerca de nós mesmos, do próximo e de Deus caminha juntamente com o desenvolvimento de um tríplice amor no coração humano. Quando cai em si, convertendo-se, o homem sente a necessidade de retribuir o amor de Deus, manifestado totalmente em Cristo, e é levado a imitar por sua vez o amor misericordioso, amando todos os homens.

Singularmente actual é também a profunda intuição daquele que alguém definiu como o "último Padre da Igreja, não inferior em relação aos primeiros", no que se refere à união entre acção e contemplação: a contemplação não é o puro exercício do intelecto mas sim uma verdadeira prática do amor a Deus. E a acção, por sua vez, não é uma simples prática, mas uma contemplação da imagem de Deus, presente nos irmãos que devem ser amados e servidos, aliás, amados no serviço.

São Bernardo ensina que as iluminações recebidas na experiência contemplativa são tão elevadas que não podem tornar-se objecto de pregação: então, devem ser oferecidas a Deus para o bem dos irmãos. Aos monges, de modo particular, ele recorda que a sua vida, em virtude da profissão monástica, não pode consistir unicamente num exercício particular de espiritualidade, mas é missão e serviço eclesiais que devem ser realizados em vantagem de todo o povo de Deus e de toda a humanidade.

Sua Santidade formula votos a fim de que quantos se inspiram no grande Santo de Clairvaux possam continuar neste mesmo itinerário, de modo a ser para os homens desta época, testemunho credível do facto que não podemos viver sem Deus. O primado da contemplação, que orienta toda a vida monástica, anime todos os monges a subordinarem qualquer interesse e actividade à amizade com o Senhor, da qual brota o compromisso a cultivar uma autêntica caridade fraterna. O nosso mundo tem tanta necessidade de um testemunho semelhante! Possa o vosso encontro contribuir para difundir ainda mais na Igreja a mensagem de São Bernardo, excelso por santidade e por zelo, admirável cantor de Maria, Virgem Mãe. Mediador de concórdia, de unidade e de paz na Igreja, ele interceda por todas as comunidades, para que estas sejam centros de ardente fervor evangélico.

Enquanto asseguro a minha participação espiritual, é de bom grado que transmito a bênção de Sua Santidade a Vossa Reverência e a todos os participantes neste encontro tão significativo, e que acrescento a minha cordial saudação.

 

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