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DISCURSO DO CARDEAL AGOSTINO CASAROLI
 NA CERIMÓNIA DO CENTENÁRIO DE FUNDAÇÃO
DA ORDEM DOS CAVALEIROS DE COLOMBO

Hartford (Connecticut), 3 de Agosto de 1982

 

É para mim grande prazer assistir a esta vossa reunião c tomar parte, como Enviado Pessoal de Sua Santidade o Papa João Paulo II, nas celebrações do Centenário dos Cavaleiros de Colombo que foi honrada com a presença do Presidente dos Estados Unidos da América.

A minha presença aqui como representante do Sumo Pontífice, mostra-vos a estima que ele nutre por vós e pela vossa associação e a estima da Igreja, de que ele é chefe, por vós e pelos vossos ideais, pela vossa história e pela herança a que desejais permanecer fiéis e enriquecer com as vossas actividades presentes e futuras.

Não creio exagerar se afirmo que a presença do Primeiro Cidadão dos Estados Unidos quis manifestar-vos, por sua vez, a estima e o apreço dos seus e vossos compatriotas por tudo o que a vossa Associação fez nos primeiros cem anos de existência e continua ainda hoje a fazer.

Creio que a América inteira, como a Igreja Católica, podem sentir-se verdadeiramente orgulhosas dos Cavaleiros de Colombo, que são uma grande realização americana.

1. Caros amigos! Eis-vos, pois, chegados ao termo dos vossos primeiros cem anos.

Cem anos representam na verdade um período considerável, embora relativamente curto, se o compararmos com os dois mil anos da história da Igreja. Menos curto, decerto, se o compararmos com a história da Igreja Católica, no vosso país; ela compartilha, aliás supera, a sua juventude e com ela é levada a dirigir o olhar para um futuro cheio de promessas, mais que para um passado, também ele, na verdade, não isento de acontecimentos, problemas e glória.

Cem anos!

Mais do que o seu número, estes anos mostram a sua real dimensão nas obras que os preencheram, e sobretudo o espírito vital, se assim posso dizer, que constitui a força interior e a razão profunda da fecunda vitalidade que distinguiu e distingue ainda a vossa Associação.

O vosso nome evoca, aqui na América, vivas recordações de tempos e de lugares bastante distantes desta terra; parece ter levado para o Novo Mundo o eco ainda vivo e activo de uma realidade que aparece quase totalmente sepultada no passado da velha Europa.

Hoje, à parte algumas notáveis excepções (penso em especial na Ordem Soberana de Malta), as Ordens de Cavalaria transformaram-se em fontes de honoríficos reconhecimentos de méritos adquiridos, com o encorajamento a adquirir ainda mais.

Na vossa Associação, pelo contrário, o nome pretende exprimir a disponibilidade para tirar inspiração, em forma nova, dos antigos ideais da "Cavalaria".

Esta intenção mostra-se ainda mais clara, enquanto a escolha daquele nome foi o resultado de uma determinação consciente. De facto, como eu pude saber, o fundador, Padre Mcjivney, pensou primeiro no nome "Filhos de Colombo": uma expressão' de tom mais familiar e não demasiado empenhativo; mais correspondente, dir-se-ia, à finalidade ainda limitada que o Padre Mcjivney tinha estabelecido para a nova união.

Tudo isto estava reflectido no primeiro lema da Associação: "Caridade-Unidade"; a este, em breve foi acrescentado, como complemento, "Fraternidade".

"Cavalaria", por outro lado, entendida no seu antigo significado, tem em si um conteúdo que é decerto muito mais vasto e ambicioso. Tem em si alguma coisa de beligerante. Acima de tudo, diria, tem em si algo de romântico, algo bem superior a uma intenção, certamente merecedora de todo o respeito, de união fraterna e de assistência e beneficência mútua.

A palavra "cavalheiresco" conserva ainda hoje um pouco daquela riqueza grandiosa de significado que tinha no início.

Um "cavaleiro" era um homem que decidia colocar-se totalmente ao serviço de uma causa nobre e difícil, de um ideal puro e árduo. Combatendo o mal, promovendo o bem, defendendo o fraco e o oprimido contra a injustiça. Reprimir a arrogância do mais forte. Coragem e altruísmo, generosidade e prontidão para fazer sacrifícios: até ao heroísmo, até à morte, se necessário. Este é o retrato — o retrato ideal, digamo-lo — do "cavaleiro" no reconhecido significado original do termo. Não sem razão São Jorge, o mártir, que lutou com o dragão para proteger uma jovem indefesa, foi o protótipo do cavaleiro; e ainda o é.

Tornar-se "cavaleiro", antigamente, não significava apenas receber um título de honra, mesmo que fosse merecido. Exigia uma vocação e uma chamada, uma preparação e um período de prova; era uma conquista e pressupunha um empenho solene; e tudo isto era coroado por um cerimonial austero e quase religioso.

Tornar-se "cavaleiro" significava assumir uma missão perante Deus e o homem.

Estava tudo isto no espírito dos fundadores da vossa Associação?

Apraz-me pensar que sim! Pelo menos de modo vago, como meta entrevista e sonhada. Apraz-me pensar que a escolha entre "Cavaleiros" e "Filhos" não era apenas questão de gosto, ou imitação de alguma forma análoga então existente na América.

Apraz-me pensar que, para além das imediatas finalidades do momento, os pioneiros da Associação pressentiram os futuros desenvolvimentos da semente que estavam a semear na generosa terra do Connecticut e da América: desenvolvimentos para os quais era necessária uma carga de generosidade e coragem que pareciam encarnadas no ideal cavalheiresco.

Cavaleiros; portanto!

Cavaleiros de Colombo!

Também esta especificação tinha um claro significado. Por que motivo esta espécie de "apropriação"?

Colombo, o descobridor da América, e portanto pertencente a todos os americanos (que, de facto, celebram o Dia a ele dedicado como uma festa comum). Era italiano de origem: que tinha ele de particular a dizer àquele grupo de americanos de origem irlandesa, como o eram . quase todos os fundadores da vossa Associação?

A resposta é bem conhecida. Escolhendo o nome de Cristóvão Colombo, aqueles cavaleiros queriam afirmar publicamente a própria condição de católicos, num ambiente onde os católicos representavam uma fraca minoria.

Afirmavam-no com um certo orgulho, quase com um pouco daquele ar de "beligerância" a que atrás me referi.

Eram outros tempos. Não se tinha ainda consolidado aquele pluralismo, aquela harmoniosa coexistência, feita de respeito mútuo e boa colaboração, que se tornaram características, muito admiradas e invejadas, da vida americana, e que recentemente o espírito ecuménico promoveu ainda com maior vigor. A medida que esta realidade nascia, as novas minorias que chegavam uma a uma da Europa sentiam a necessidade de se unir para se defenderem a si mesmas e sobretudo para tutelarem a própria identidade.

Hoje o nome de Colombo, que continua a distinguir a vossa Associação, já não soa como desafio contra ninguém; continua a afirmar uma vontade de total fidelidade aos ideais cristãos e à Igreja Católica; não contra os outros, mas em espírito de cooperação com os outros e para os outros: em defesa e apoio do bem verdadeiro e completo da grande e diversificada sociedade a que pertenceis: da justiça contra a injustiça, do amor contra o ódio, da fraternidade contra o egoísmo, da paz contra a guerra, da vida contra a morte. Sentimentos, todos estes, que formam uma herança comum do povo americano: o que também torna muito menos exótico do que poderia parecer a transplantação do conceito romântico de Cavalaria para um ambiente moderno e prático como o vosso.

Não está talvez nisto o motivo por que, ao trinómio inicial da vossa palavra de ordem: "Unidade, caridade e fraternidade" a vossa Associação acrescentou um quarto elemento: o "patriotismo"? De facto a Associação tornou-o o distintivo do mais alto grau, o quarto que chamado precisamente o "patriotic degree".

Um patriotismo que não limita a vossa generosidade às fronteiras, já tão extensas dos Estados Unidos, mas as alarga a muitas outras partes do mundo, idealmente ao mundo inteiro.

2. Voltando agora o olhar para os primeiros cem anos de vida da vossa Associação, levaria muito tempo, e seria desnecessário percorrer convosco, embora brevemente, aquela história e a lista do que os Cavaleiros de Colombo fizeram e ainda fazem nos Estados Unidos e noutros países. Não posso contudo deixar de mencionar a vossa fiel e generosa presença na Cidade de Roma, para onde fostes a convite do Papa, pequeno de estatura mas grande de coração, Bento XV.

Bastar-me-á repetir as palavras que Sua Santidade o Papa João Paulo II vos dirigiu: "Lançando os olhos para este primeiro centenário de fidelidade à Igreja e serviço à sociedade, vê-se a riqueza da herança que é vossa": uma riqueza que é motivo de gratidão a Deus e a quantos vos precederam, e também motivo de legítimo orgulho. Mas é sobretudo motivo de um profundo sentido de responsabilidade; ,a riqueza da vossa herança, não só não deve ser dissipada ou diminuída, mas, pelo contrário, deve ser enriquecida com realizações ainda maiores, no espírito com que os vossos predecessores foram activamente fiéis ao compromisso que haviam assumido quando pediram a honra de ser Cavaleiros de Colombo.

Na carta que vos dirigiu, o Santo Padre fala dos "tremendos desafios" que "o futuro, como o presente oferece à Igreja". Desafios igualmente tremendo são oferecidos pelo presente, e ainda mais pelo futuro, à humanidade inteira: desafios que requerem um sentido de responsabilidade da parte de todos e de cada um, segundo a possibilidade e a capacidade de cada pessoa e cada nação para os enfrentar adequadamente.

Como católicos e como americanos, como Cavaleiros de Colombo, tendes uma responsabilidade muito especial.

O Santo Padre não duvida que sabereis enfrentá-los plena e corajosamente.

3. É-me grato terminar fazendo-me de novo intérprete do reconhecimento paterno do Sumo Pontífice pela lealdade que, como expressão da sua fidelidade à Igreja Católica, os Cavaleiros de Colombo tradicionalmente manifestam para com a pessoa, o ensinamento e a actividade do Papa. O Santo Padre está-vos profundamente grato pelas vossas orações, pela vossa participação nas suas ansiedades, como também nas suas alegrias e nas suas esperanças. Está-vos grato pela ajuda de todos os géneros que ofereceis, não só às vossas Igrejas locais e à Igreja Católica inteira, à vossa pátria, àqueles que têm necessidade e aos jovens, mas também directamente à Sé Apostólica.

Novo sinal do vosso afecto para com o Papa foi o estabelecimento da fundação "Knights of Columbus — Vicarius Christi", com o propósito de assistir o Vigário de Cristo nas suas obras pessoais de caridade.

O sinal é precioso; ainda mais precioso é o sentimento de filial devoção que o inspirou e lhe deu o significado de um acto de amor.

É-me grato assegurar-vos que este amor é correspondido, não menos sinceramente, pelo amor do Papa por vós, os Cavaleiros de Colombo nos Estados Unidos da América e noutras nações: os Cavaleiros da Igreja, os cavaleiros das causas mais nobres da humanidade.

 

 

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