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MENSAGEM DO CARDEAL AGOSTINO CASAROLI,
EM NOME DO SANTO PADRE,
 AO PRESIDENTE DO CENTRO DE ACÇÃO LITÚRGICA,
D. CARLO MANZIANA POR OCASIÃO DA
33ª SEMANA LITÚRGICA NACIONAL
REALIZADA EM VARESE (ITÁLIA)

 

Excelência Reverendíssima

O Santo Padre acolheu com viva satisfação a notícia da próxima celebração da XXXIII Semana Litúrgica Nacional, em Varese, na diocese de Milão.

A escolha deste lugar parece bastante oportuna porque traz um contributo específico para o total florescimento de iniciativas, com que a Igreja ambrosiana está a preparar-se para o Congresso Eucarístico Nacional, marcado para o próximo ano.

O tema geral do Congresso: "A Eucaristia no centro da comunidade e da sua missão", é de facto na sua essência retomado, com uma forma especificamente litúrgica, no da Semana: "Celebrar a Eucaristia para construir a Igreja". Nos dois enunciados emergem realidades fundamentais, que se evocam, se compenetram e se integram de modo recíproco: a Igreja e a Eucaristia; a Igreja como comunidade ou Povo de Deus hierarquicamente organizado, e a Eucaristia como "centro da mensagem cristã e da vida da Igreja" (cf. Insegnamenti di Giovanni Paolo II. IV, 2, 1981, p. 638).

O programa da Semana, tal como foi anunciado, prevê um aprofundamento, não apenas doutrinal, mas também vital destas duas realidades, a Igreja e a Eucaristia como sacrifício sacramental do Corpo dado pelo Cristo Senhor e do seu Sangue derramado, pois é sobretudo na sua celebração que a Igreja se edifica, se manifesta e vive (cf. Sacr. Conc., 41). Um programa, o da Semana, que ao restabelecer-se na pujante genuinidade e na eficácia formadora da catequese "per ritus et preces", já distinguida na mistagogia dos Padres, retoma e estuda de novo a celebração da Eucaristia em cada uma das partes do seu desenvolvimento ritual, sempre porém em vista da comunidade, isto é, da Igreja celebrante; perspectiva imprescindível, ou melhor, eficazmente realçada na celebração litúrgica da Igreja primitiva, jamais esquecida, e hoje compreendida de maneira mais profunda no seu autêntico esplendor, graças à reflexão teológica e ao aprofundamento litúrgico conciliar e pós-conciliar.

Nesta luz, com efeito, a comunidade orante é vista, em lógica progressão, no seu reunir-se por convocação da Palavra de Deus, no seu dar graças em coro ao Pai, celebrando o memorial da Páscoa do Senhor, no seu estreitar-se "in unum" mediante a comunhão com Cristo e com os irmãos, e finalmente, no seu abrir-se generoso para a acção missionária. É sintomático o facto que precisamente assim, já no II e III século, se apresentasse a comunidade cristã celebrante, segundo o que sobre ela descrevem, embora em ambientes bastante diversos, dois documentos de fundamental importância: a primeira Apologia de Justino e a Didascalia dos Apóstolos.

Este sentido comunitário é vivificado e tornado estável pela Eucaristia, na medida em que os fiéis se identificam e formam realmente o Corpo de Cristo, como no IV século dizia Santo Agostinho: "Os fiéis demonstram conhecer o Corpo de Cristo, se não descuidam de ser o Corpo de Cristo. Tornem-se Corpo de Cristo, se querem viver do Espírito de Cristo. Do Espírito de Cristo vive só o Corpo de Cristo... É o que diz o Apóstolo, quando nos fala deste pão: 'Pois uma vez que há um só pão, nós, embora sejamos muitos, somos um só corpo (1 Cor 10, 17)'. Mistério de amor! Símbolo de unidade! Vínculo de caridade! Quem quer viver, tem onde viver, tem de que viver. Aproxime-se, creia, comece a fazer parte do Corpo, e será vivificado. Não se envergonhe de pertencer ao conjunto dos membros, não seja um membro infeccionado que se deva amputar, não seja disforme de que se deva envergonhar. Seja belo, válido e são, permaneça unido ao Corpo, viva de Deus e para Deus" (In Io. Ev. tr. 26, 13: PL 35, 1612-13).

O sentido e o alcance da Eucaristia da Igreja não poderiam ser rectamente entendidos, se se prescindisse mesmo de um só daqueles elementos de base, que a estruturam desde o início da celebração. Não por acaso, sobre aqueles mesmos elementos deteve-se o Santo Padre na Carta Apostólica Dominicae Caenae: reafirmou ele de facto o factor de coesão da Palavra de Deus, a realidade sacrifical da Eucaristia, a participação convivial do Corpo de Cristo, o empenho em introduzir na vida a Eucaristia recebida, alargando as suas instâncias unificantes às várias contingências da existência quotidiana.

Oportuna, portanto, e fundamental aparece a acentuação que o tema da Semana entende colocar na comunidade celebrante, e, por consequência, nas tarefas que lhe competem nas várias expressões rituais, em que a celebração se articula e se desenvolve. A própria Institutio generalis do Missal Romano, sublinhando estas tarefas, assim se exprime: (os fiéis) "formem um só corpo, seja na escuta da Palavra de Deus, seja na participação nas orações e no canto, seja especialmente no comum oferecimento do sacrifício e comum participação na mesa do Senhor" (n. 62).

Sem dúvida esta significativa acentuação comunitária não entende absolutamente diminuir nem também só ofuscar o outro aspecto não menos fundamental da assembleia eucarística: o seu carácter hierárquico. "O Povo de Deus é chamado a reunir-se em comum", mas "sob a presidência do sacerdote, que age in persona Christi" (cf. Inst. gen., 7); função que a tradição litúrgica tanto do Oriente como do Ocidente tem desde as origens, o que é afirmado com toda a clareza, quer reservando ao sacerdote celebrante formulários eucológicos como a Oração eucarística e tarefas específicas como a homilia, quer também determinando, para os membros da hierarquia, um lugar diferente e particular veste no exercício do seu ministério.

O Santo Padre deseja que todos estes aspectos sejam devidamente aprofundados durante os trabalhos da Semana, e que o tema eucarístico-eclesial, mesmo se centralizado, como é justo, na celebração do sacrifício sacramental, seja oportunamente esclarecido também naquela "extensão da graça do sacrifício" (Ench. Mysto., 3g) que é o culto da Eucaristia fora da Missa.

Seja portanto a Semana Litúrgica uma ocasião para reafirmar aquele "sensus Ecclesiae", que sempre deve emergir quando se trata da Eucaristia, "bem comum de toda a Igreja, como sacramento da sua unidade" (Dominicae Caenae, 12): um "sensus Ecclesiae" que leve ao meditado aprofundamento dos textos litúrgicos; que se exprima também em adaptações consideradas pela competente Autoridade úteis ou necessárias (cf.  Sacr. Conc, 40); que empenhe de modo justo toda a assembleia, de maneira que cada um faça tudo mas não mais do que lhe compete, a fim de que da própria disposição da celebração se torne manifesta a Igreja, constituída nas suas diversas ordens e ministérios (cf. Inst. gen., do Missal Romano, 58).

O facto, portanto, de que a Semana se realize no ambiente da Igreja milanesa e preveja algumas celebrações no venerando rito ambrosiano, é uma nova, feliz ocasião para constatar como as próprias diversidades dos eucológios e dos ritos se resolvem na reafirmada unidade da mesma Eucaristia.

Como conclusão desta mensagem, Sua Santidade deseja recordar aos participantes na Semana quanto achou oportuno dizer, em Novembro passado, ao dirigir-se à peregrinação da diocese de Milão, com referência ao Congresso Eucarístico: "A Eucaristia é o mistério dos mistérios, por isso a sua aceitação significa acolher totalmente a mensagem de Cristo e da Igreja, desde os preâmbulos da fé até à doutrina da Redenção, ao conceito de Sacrifício e de Sacerdócio consagrado, ao dogma da "transubstanciação" e ao valor das leis em matéria litúrgica. Hoje é necessária, primeiro que tudo, a certeza, para reconduzir ao seu exacto lugar central a Eucaristia e o Sacerdócio, para valorizar no seu justo sentido a Santa Missa e a Comunhão, para voltar à pedagogia eucarística, fonte de vocações sacerdotais e religiosas e força interior para se praticarem as virtudes cristãs, entre as quai6 especialmente a caridade, a humildade e a castidade. Hoje é tempo de reflexão, de meditação e de prece para tornar a dar aos cristãos o sentido da adoração e o fervor: só a Eucaristia — profundamente conhecida, amada e vivida — se pode esperar aquela unidade na verdade e na caridade, querida por Cristo e propugnada pelo Concílio Vaticano II".

Que os participantes na Semana Litúrgica cuidem de que esta iniciativa, propondo cada ano temas de interesse teológico e espiritual tão grande, seja fonte de riqueza e centro propulsor de fervor litúrgico.

Com tais votos, o Santo Padre concede de coração aos Eminentíssimos Cardeais, ao Excelentíssimo Arcebispo de Milão, a Vossa Excelência, aos Bispos presentes, aos organizadores e relatores da manifestação e a todos os participantes a Bênção Apostólica em penhor da Sua benevolência.

De bom grado aproveito a oportunidade para me confirmar, com sentimentos de distinta estima, de Vossa Excelência Rev.ma dev.mo

 

AGOSTINO Card. CASAROLI
 Secretário de Estado

 

 

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