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MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II,
 ASSINADA PELO CARDEAL SECRETÁRIO DE ESTADO,
À ASSEMBLEIA DAS ORGANIZAÇÕES
INTERNACIONAIS CATÓLICAS (O.I.C.)

 

Prezado Senhor Presidente
Caros Delegados e Membros das Organizações Internacionais Católicas

Era vosso vivo desejo que Sua Santidade manifestasse à vossa Assembleia geral de Viena o precioso testemunho da sua confiança e o conforto dos seus encorajamentos a progredirdes nos caminhos da evangelização do mundo contemporâneo.

O Santo Padre, feliz por corresponder à vossa expectativa, encarregou-me de vos dirigir em primeiro lugar as suas saudações mais cordiais e ardentes votos pelo eficaz desenvolvimento da vossa Conferência. O seu desejo, que corresponde, disto estou certo, aos sentimentos de todos os participantes, é que eu exprima também a sua mais viva gratidão, e a da Igreja, a Monsenhor André Schafter pelo serviço generoso, competente e desinteressado em favor das O.I.C. durante longos anos. De todo o coração cumpro esta missão. E agora, inspirando-me no pensamento do Santo Padre, procurarei expor-vos algumas orientações concretas, destinadas a estimular e fecundar os vossos empenhos pessoais e comunitários nas diferentes O.I.C.

Ninguém pode contestar, que a vida internacional assumiu no nosso tempo dimensões cada vez mais importantes. A aumentada interdependência dos povos e dos acontecimentos, as tensões às vezes muito graves, e mesmo as rupturas que se produziram, requerem com toda a urgência um imenso e perseverante esforço de compreensão e de solidariedade no mundo inteiro. Esta situação interpela também a Igreja, em contínuo estado de missão, a ser "o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano... para que deste modo os homens todos, hoje mais estreitamente ligados uns aos outros pelos diversos laços sociais, técnicos c culturais, alcancem também a plena unidade em Cristo" (Constit. Lumen gentium, 1).

Esta vida internacional parece manifestar-se antes de mais por ocasião dos frequentes fóruns intergovernamentais. Os seus programas, bastante diversificados, abordam temas cruciais, tais como a paz, o desarmamento, a defesa e a promoção dos direitos da pessoa humana, o diálogo Norte-Sul, o desenvolvimento, a luta contra a fome e a doença, a atenção às expressões culturais e a acertada comunicação entre elas.

Mas convém logo precisar: este fenómeno do desenvolvimento da vida internacional correria o perigo de empobrecimento e de estagnação se se limitasse a relações a nível de Governos. Estas relações são necessárias mas insuficientes. Uma vida internacional digna deste nome tem necessidade de reflectir e de exprimir a participação democrática, o mais ampla possível, de indivíduos e de povos. Trata-se, pois, de uma concertação, não só das "forças políticas" no sentido estrito da palavra, mas também das forças intelectuais e populares, das forças culturais e religiosas, etc., que tecem juntas a existência quotidiana e da qual todos temos necessidade.

Diante dos graves problemas que comprometem o futuro da humanidade, toda a aproximação que se limitasse só aos meios "tecnológicos" ou a uma ideologia redutiva, interromperia a busca de soluções concretas que devem ter como referência fundamental "a pessoa humana". Por isso, torna-se muito urgente dar um novo impulso às energias culturais, éticas e religiosas, que são valores essencialmente humanos e capazes de permitir uma aproximação autêntica e solidária dos problemas relativos ao homem e às nações do nosso tempo, e também capazes de avançar num caminho de verdadeiro progresso humano.

A Igreja, por sua parte, sente-se vivamente interpelada pelas novas condições e pelas incessantes transformações da vida internacional. Ela deseja oferecer, mais do que nunca, a sua contribuição original e indispensável como "especialista em humanidade", graças a sua evangelizadora presença no centro de todas as nações e de todas as culturas. A sua vocação sem dúvida não é a de ter em vista o poder, nem de defender interesses políticos, económicos e militares. A sua vocação é a de servir o homem, anunciando a salvífica e libertadora mensagem do Evangelho e a antropologia que está acima de todo o materialismo. A dignidade de toda a pessoa humana e de todos os homens sem excepção provém do facto que eles são "criados a imagem de Deus" e chamados a uma plenitude de Verdade e de Vida, dadas em e por Cristo. É precisamente esta realidade fundamental que permite falar de uma certa filiação divina de todos os homens e, por conseguinte, de uma fraternidade universal de todos entre si.

A existência e as actividades das Organizações Internacionais Católicas são precisamente uma forma de presença da Igreja na vida internacional. Embora por definição sejam não governamentais, as O.I.C. participam nos fóruns internacionais em sectores muito diversos, tais como a cultura, a comunicação, a educação, a juventude, a família, a mulher, a terceira idade. E esta presença da Igreja constitui um sector essencial do empenhamento dos leigos, o qual, já inscrito na tradição da Igreja, recebeu um esclarecimento e encorajamento consideráveis da parte do Concílio Vaticano II (cf. Decreto sobre o Apostolado dos Leigos). " Algumas orientações concretas serão, espero, susceptíveis de valorizar a tão importante acção das O.I.C.

Que as O.I.C. evitem o isolamento. Sem dúvida, elas são autónomas. Portanto, apesar dos seus generosos esforços, elas não poderão assegurar senão uma parte das imensas necessidades a serem enfrentadas.

A harmonização dos programas, das directrizes e realizações das O.I.C. pode ser realizada num campo mais vasto, graças à colaboração dos consultores e ao precioso contributo dos Centros de Paris, Genebra e Nova Iorque. Certamente será benéfico para as O.I.C. velar, cada uma segundo a finalidade a que se propõe, sobre a grande competência dos seus membros mediante a colocação em prática de meios eficazes de formação para a vida internacional, e graças à busca de modos de presença deveras activos e que levem em conta a missão da Igreja perante os problemas mundiais.

De igual modo as O.I.C. conseguirão ter relações com outras instituições, capazes de trazer o concurso da própria experiência e competência. Será desejável também ter em conta os movimentos ou as novas formas associativas católicas, que, sem fazerem parte das O.I.C., têm actividades que dizem respeito à competência de uma ou de outra. É preciso ainda mencionar que a presença e as actividades das O.I.C. serão, por outro lado, mais enriquecedoras para a Igreja e para a sua missão no mundo, quando participarem activamente na vida das comunidades eclesiais das nações onde estão implantadas, e quando forem capazes de lhes comunicar a sua experiência "católica" no sector da sua competência específica. Enfim, o Papa pede às O.I.C., abertas à evangelização do mundo segundo uma visão integral do homem e da sociedade, que reavivem a sua convicção de que Cristo é real e efectivamente o Redentor do homem e a fonte sempre jorrante da salvação das nações. As O.I.C., se necessário, devem esquecer todo o sentimento de incapacidade ou toda a tentação de alinhamento em correntes ideológicas dominantes nos ambientes internacionais, a fim de procurar e encontrar, em tempo oportuno, os meios adequados que permitam proclamar a fé em Cristo, Senhor da história. Porque não seria oportunamente pronunciado o nome de Deus nos fóruns internacionais?

Tais são as reflexões e os desejos que Sua Santidade me encarregou de vos transmitir, ao renovar-vos a sua confiança e invocar para a vossa Assembleia as melhores bênçãos do Senhor.

Dignai-vos aceitar, Senhor Presidente, caros Delegados e Membros das O.I.C., com os meus votos pessoais pelo excelente êxito do vosso Congresso, a certeza dos meus sentimentos cordialmente devotados

Vaticano, 25 de Junho de 1983

Agostino Card. CASAROLI

 

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