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DISCURSO DO OBSERVADOR PERMANENTE DA
 SANTA SÉ JUNTO À ONU SOBRE A
"AGÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA
 O SOCORRO E A ASSISTÊNCIA À PALESTINA"

 


Senhor Presidente

Neste ano, a minha Delegação apresenta-se diante de vós com um coração extraordinariamente amargurado. Os acontecimentos do dia 11 de Setembro parecem ter lançado uma nuvem negra sobre a vida desta cidade que, por sua vez, tem uma profunda influência no mundo inteiro.

Contudo, esta é apenas uma das tragédias que entristecem o coração da minha Delegação. Embora tenham sido fundadas como Agências temporárias, a U.N.R.W.A. e a Pontifícia Missão para a Palestina trabalham em benefício dos refugiados da Palestina há mais de cinquenta anos.

Todos os anos participamos nesta Comissão com uma intervenção, e infelizmente em cada ano as nossas observações são as mesmas. A violência em Israel e nos Territórios ocupados continua a ceifar vidas inocentes. Sua Santidade o Papa João Paulo II viajou como peregrino a essa região, que é o lugar do nascimento da Cristandade. A sua peregrinação foi de esperança, para compartilhar os sofrimentos do povo dessa área, e tomar a palavra em defesa do reconhecimento dos direitos humanos e das liberdades fundamentais de todos os povos. Durante a sua recente peregrinação à Síria, seguindo os passos de São Paulo, o Sumo Pontífice afirmou:  "Todos nós sabemos que a paz genuína só poderá ser alcançada se houver uma nova atitude de compreensão e de respeito entre os povos desta região, entre os seguidores das três religiões que derivam de Abraão... é importante que haja uma evolução no modo de os povos desta região se considerarem uns aos outros, e que a todos os níveis da sociedade sejam ensinados e promovidos os princípios da coexistência pacífica" (Discurso de chegada à Síria, no aeroporto internacional de Damasco, 5 de Maio de 2001, em:  ed. port. de L'Osservatore Romano de 12/5/2001, pág. 9, n. 4).

Senhor Presidente, a minha Delegação deseja realçar o facto de que, quando deixam de existir as normais condições de vida, a segurança de todos é ameaçada. Refiro-me, de modo particular, às incursões nas cidades cristãs de Belém, Beit Sahour e Beit Jala. Tanto a Pontifícia Universidade de Belém, como o Seminário patriarcal, a Pontifícia Escola para os Surdos e o Hospital da Sagrada Família foram danificados por bombardeamentos. Numerosas casas nessas cidades sofreram os ataques das artilharias e, por isso, a Pontifícia Missão para a Palestina tem concedido fundos de emergência em ordem a contribuir para as reparações ou a transferência dos residentes.

Mais recentemente, em resposta às violências de 20 de Outubro, Sua Santidade o Papa João Paulo II afirmou:  "Não faltam infelizmente, neste momento, situações ameaçadoras, que mantêm a humanidade inteira numa situação de ansiedade. É com profunda tristeza que recebo dolorosas e preocupantes notícias de Belém, assim como das cidades de Beit Jala e de Beit Sahour. A guerra e a morte chegaram até à praça da Basílica da Natividade de Nosso Senhor. Em nome de Deus, repito mais uma vez:  a violência é para todos unicamente um caminho de morte e destruição, que desonra a santidade de Deus e a dignidade do homem".

"Exprimo às famílias vítimas da violência a minha proximidade no sofrimento, na oração e na esperança. Elas têm o dom de viver na Terra que é santa para os Judeus, para os Cristãos e para os Muçulmanos. Deve ser um empenho de todos fazer com que ela seja finalmente Terra de paz e de fraternidade" (Recitação do "Angelus" de 21 de Outubro de 2001, na Praça de São Pedro, em:  ed. port. de L'Osservatore Romano de 27/10/2001, pág. 1, n. 1).

Apesar do aumento das tensões nessa região, é-me grato anunciar que os estudantes da Pontifícia Universidade de Belém completaram o ano escolar extensivo, obtendo a formatura no dia 21 do passado mês de Julho. De resto, a Pontifícia Missão para a Palestina conseguiu construir e inaugurar o "Parque da Fraternidade", um centro de recreação e de encontros familiares na cidade de Gaza. Depois, em Belém, inaugurou-se o Parque "Marie Doty" para as crianças e as respectivas famílias dessa mesma cidade.

Contando com a assistência das Agências europeias Misereor, Missio, Kinderhilfe Bethlehem, a Arquidiocese de Colónia (Alemanha) e a Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, a Pontifícia Missão para a Palestina conseguiu instituir e fundar os chamados "Programas de Trabalho Intensivo". Em ordem a obter uma ocupação para os desempregados, são financiados alguns projectos que hão-de beneficiar a comunidade em geral. As escolas, tanto públicas como particulares, estão a ser pintadas e as áreas públicas conjuntas estão a passar por um processo de limpeza do lixo e dos detritos acumulados.

As instalações locais oferecem os recursos materiais, necessários para a realização das obras, e os fundos do projecto conseguem garantir um salário justo para os empregados. O trabalho é realizado em colaboração com as Agências locais, como o Patriarcado latino de Jerusalém, a Caritas internationalis e a Sociedade de São Vicente de Paulo. Este trabalho é levado a cabo pela Pontifícia Missão para a Palestina e pela U.N.R.W.A., juntamente com a população dos refugiados, que dele são os beneficiários.

Senhor Presidente, além de realçar estas significativas necessidades humanitárias, a minha Delegação formula votos a fim de que qualquer solução que se vier a encontrar para os multifacetados problemas dessa região, inclua a questão da Cidade Santa de Jerusalém. À luz dos inúmeros incidentes de violência e dos rigores dos encerramentos impostos, a Santa Sé renova a sua insistente exortação em ordem a obter "...medidas internacionalmente garantidas, para assegurar a liberdade de religião e de consciência dos seus habitantes, assim como o permanente, livre e desimpedido acesso aos Lugares Santos por parte dos fiéis de todas as religiões e nacionalidades" (A/Res/ES 10-2, 5 de Maio de 1997). Os actuais níveis de violência têm levado os peregrinos a permanecer distantes da Terra Santa, impondo desta forma severas penalidades económicas sobre todo o povo de toda essa região. Quero realçar o facto de que nem a população local tem livre acesso aos seus santuários e Lugares Santos.

Senhor Presidente, a minha Delegação exorta a uma maior solidariedade internacional e à vontade política de enfrentar o desafio da violência nessa região, que parece não ter fim. Os fabricantes de armamentos do mundo inteiro inundaram essa região de armas. Estes instrumentos mortíferos ajudam a atiçar o fogo da violência em toda essa área.

Além disso, a minha Delegação apela para a comunidade internacional, a fim de que ajude a encontrar uma resposta justa para as desavenças entre os povos da Terra Santa, que são todos crentes na fé de Abraão. Somente uma paz justa trará a segurança autêntica a todos os povos da região.
Senhor Presidente, permita-me concluir a minha intervenção com as recentes expressões do Papa João Paulo II, no encerramento da primeira parte da sua peregrinação, seguindo os passos de São Paulo:  "Todavia, para que se abra a porta da paz, devem ser resolvidas algumas questões essenciais de verdade e de justiça, de direitos e de responsabilidades. O mundo olha para o Médio Oriente com esperança e preocupação, enquanto aguarda qualquer sinal de diálogo construtivo.

Ainda existem muitos obstáculos graves, mas o primeiro passo rumo à paz deve ser a firme convicção de que é possível alcançar uma solução no contexto dos parâmetros da lei internacional e das resoluções da Organização das Nações Unidas. Exorto uma vez mais todos os povos interessados, assim como os seus líderes políticos, a reconhecerem que o confronto fracassou e jamais obterá bom êxito. Somente uma paz justa pode criar as condições necessárias para o desenvolvimento económico, cultural e social a que os povos desta região têm direito" (Discurso de despedida da Síria, no aeroporto internacional de Damasco, 8 de Maio de 2001, em:  ed port. de L'Osservatore Romano de 19/5/2001, pág. 6, n. 2).

 

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