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 SECRETARIA DE ESTADO

INTERVENÇÃO DA SANTA SÉ NA
19ª ASSEMBLEIA GERAL DA O.N.U.
SOBRE O TEMA DO MEIO AMBIENTE

 

Senhor Presidente

Os conferencistas destes últimos dias provaram até que ponto os conceitos do meio ambiente digno do homem e do desenvolvimento durável, elaborados por ocasião do Encontro de Cúpula do Rio em 1992, terminaram por impregnar as nossas mentalidades.

A Santa Sé alegra-se ainda mais porque a Igreja católica sempre afirmou que a causa do meio ambiente é a causa do homem, entidade espiritual e ao mesmo tempo material, guardião e destinatário dos recursos naturais como produtos da sua inteligência e da sua técnica.

Falar de florestas, de recursos hídricos, da poluição do ar, da água ou do solo e dos povoamentos humanos, é reflectir sobre as condições de vida e de sobrevivência de toda a humanidade. A Agenda n. 21 não diz outra coisa quando especifica: «Os seres humanos estão no cerne das preocupações relativas ao desenvolvimento durável. Têm direito a uma vida sadia e produtiva, em harmonia com a natureza».

Eis por que me sinto feliz em encontrar estes aspectos presentes no Documento final, submetido à nossa consideração. Contudo, a minha Delegação não pode senão repetir aqui as reservas e interpretações formuladas pela Santa Sé, por ocasião das recentes conferências internacionais da O.N.U. e que são — não esqueçamos — parte integrante dos Relatórios destas mesmas Conferências. Penso em particular na interpretação de termos como «saúde genética », «saúde sexual» e «planificação familiar », que voltamos a encontrar no documento da nossa reunião.

Os resultados alcançados no Rio — e mais ainda os compromissos assumidos — exigem de nós o dever de proteger a natureza para defender o homem. E nós devemos fazê-lo de maneira solidária, sem subestimar tão-pouco o vínculo existente entre ecologia, economia e desenvolvimento equitativo.

Um aspecto particular desta problemática e sobre o qual quereria insistir é a sorte de cerca de 50 milhões de pessoas deslocadas no mundo, em muitos casos também devido a um meio ambiente que não lhes oferece qualquer segurança humana e económica. Não as esqueçamos: elas têm direito à vida, a um «habitat» adequado e a recursos alimentares estáveis. A Santa Sé julga que um dos modos mais simples e eficazes para que as intuições e as resoluções do Rio se tornem uma realidade é a educação. Desde os primeiros anos da infância e do início da escolarização, através da atmosfera que criam, do seu ensinamento e do seu testemunho, os pais e os educadores podem formar os jovens para que respeitem a natureza, poupem os recursos da mesma e, desta forma, a fim de que sejam impelidos ao acolhimento, à partilha e ao dom. Nesta tarefa tão actual os fiéis estão na linha de vanguarda. Quereriam ajudar os próprios companheiros de caminhada a irem além do simples respeito da natureza e da partilha dos recursos — sem dúvida, absolutamente necessários — para reencontrarem o sentido da maravilha perante a beleza dos elementos naturais que podem sempre dizer algo sobre Aquele que nos precede e nos ultrapassa. Sem dúvida, seria necessário evocar aqui o Cântico das Criaturas, de Francisco de Assis, ou ainda a expressão paradoxal de um contemporâneo que não hesita em falar da «potestade espiritual da matéria» (Teilhard de Chardin). Ao conceder-me o privilégio de estar no meio de vós, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores, o Papa João Paulo II quis manifestar a confiança que deposita em cada um dos responsáveis dos Estados aqui representados a fim de, segundo as suas próprias palavras, abordarmos tais problemáticas «com sólidas convicções éticas, que envolvam a responsabilidade, o autocontrole, a justiça e o amor fraterno» (Discurso à Pontifícia Academia das Ciências, 22 de Outubro de 1993, ed. port. de L'Osservatore Romano de 7 de Novembro de 1993, n. 5, pág. 4). Todos nós devemos empreender o caminho da participação, do concerto e da perseverança. Estes são os meus votos mais sentidos.

Obrigado, Senhor Presidente!

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