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INTERVENÇÃO  DA DELEGAÇÃO DA SANTA SÉ
  57ª  ASSEMBLEIA GERAL DA ONU

Nova Iorque, 17 de Outubro de 2002

 

 

 
Senhor Presidente

É com prazer que a Santa Sé participa no debate sobre as relações existentes entre a cultura, em todos os seus aspectos, e o desenvolvimento. E nisto, a minha Delegação acolhe a Nota do Secretário-Geral,  com  que  se  transmitiu o Relatório do Director-Geral da UNESCO.

Recentemente, Sua Santidade o Papa João Paulo II fez a seguinte afirmação:  "...os repreensíveis ataques terroristas do dia 11 do passado mês de Setembro [de 2001], como as inúmeras e preocupantes situações de injustiça no mundo inteiro recorda-nos que o milénio há pouco começado apresenta enormes desafios. E exige um compromisso decidido e incondicional da parte das pessoas individualmente, dos povos e das nações em geral, em ordem a defender os direitos e a dignidade inalienáveis de cada um dos membros da família humana. Ao mesmo tempo, requer a edificação de uma cultura global de solidariedade, que encontre a sua expressão não simplesmente nos termos de uma organização económica ou política mais efectiva mas, o que é ainda mais importante, num espírito de respeito e de cooperação recíprocos, ao serviço do bem comum".1

O Relatório que se nos apresenta considera "Os princípios relativos ao impacto da cultura sobre a relevância, o sucesso e a sustentabilidade das políticas de desenvolvimento".

Todavia, quais são os princípios que contruibuem para abordar as questões transversais da UNESCO, "relativas ao desenraizamento da pobreza, especialmente da pobreza extrema, e à contribuição das tecnologias de informação e de comunicação para o desenvolvimento da educação, da ciência e da cultura, e da construção de uma sociedade "inteligente""?

Eles devem estar assentes na dignidade humana, na salvaguarda dos direitos humanos, nas liberdades fundamentais do homem e no respeito pelas diferenças culturais e pela unicidade de cada uma delas. Assim, a compreensão básica leva à solidariedade humana que promove a coesão social e uma maior valorização da "herança conjunta da humanidade".

A Santa Sé fundamenta esta sua declaração nas seguintes palavras do Papa João Paulo II:  "Só o amor de Deus, capaz de irmanar os homens de qualquer raça e cultura, poderá fazer desaparecer as dolorosas divisões, os contrastes ideológicos, as desigualdades económicas e os violentos vexames que ainda oprimem a humanidade".2

Isto faz ressoar a declaração feita pela Santa Sé, durante o recente Encontro Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável:  "A terra e todos os seus recursos constituem uma parte da "herança comum de toda a humanidade". Esta compreensão promove a interdependência, fomenta a responsabilidade e realça a importância do princípio da solidariedade global. Esta realidade torna-se o fundamento do desenvolvimento sustentável, orientando os imperativos morais da justiça, da cooperação internacional, da paz e da segurança, assim como o desejo de revigorar o bem-estar espiritual e material das gerações do presente e do futuro".3

Não se trata apenas de boas ideias ou de melhores votos para o futuro. Eles também não podem ser considerados como a responsabilidade de um único grupo, organização ou agência. E a abordagem não deve ser centrada exclusivamente na salvaguarda da cultura contra os princípios do desenvolvimento que possam causar um impacto sobre a mesma. Pelo contrário, o debate deverá ter em vista encontrar as maneiras de permitir que a cultura complete o desenvolvimento, da mesma forma que o desenvolvimento é complementar para a cultura.

A Organização das Nações Unidas reconhece a forma de acção deste processo. Já tivemos a oportunidade de abordar assuntos relativos à cultura da paz e de promover diálogos entre as várias civilizações, enquanto continuamos a salvaguardar a herança das diversas culturas. Além disso, reunimo-nos para discutir sobre problemas que dizem respeito a uma vasta gama de temas.
Estes debates devem continuar. O sistema da Organização das Nações Unidas oferece um excelente contexto para estas mesas redondas e para o intercâmbio de ideias. Em conformidade com as palavras do Papa Paulo VI, "esta Organização representa o caminho obrigatório para a civilização moderna e para a paz mundial".4

Senhor Presidente

A minha Delegação ouve dizer muitas vezes que "o mundo está dramaticamente transformado". Com efeito, ele mudou. Todavia, o bem fundamental, a dignidade, os sonhos e as aspirações do homem continuam a orientar as populações do mundo, especialmente as pessoas que estão à procura de uma vida melhor para si mesmas e para as gerações vindouras.

Se esta é a meta e a finalidade do debate do dia de hoje, então permiti-me concluí-lo realçando a importância de um futuro melhor para toda a humanidade, valorizando ao mesmo tempo as várias culturas que fazem de cada um de nós um ser único.

Obrigado, Senhor Presidente!


Notas

1) Discurso à Embaixadora da Grã-Bretanha junto da Santa Sé, Sua Ex.cia a Senhora Kathryn Frances Colvin, (7 de Setembro de 2002).

2) Mensagem para o Dia Missionário Mundial, (19 de Maio de 2002)

3) Intervenção do Chefe da Delegação da Santa Sé, no Encontro Mundial de Johanesburgo [África do Sul] sobre o Desenvolvimento Sustentável, (2 de Setembro de 2002)

4) Discurso à 20ª Sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, 4 de Outubro de 1965.

 

 

 

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